Mudanças geracionais alteram compreendimento emocional

Nessa fase é muito importante um olhar atento e acolhimento dos responsáveis e profissionais de saúde

A fase do adolescer, ou seja, entrar na adolescência, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, é compreendida como o período dos doze aos dezoito anos, caracterizado por mudanças físicas, emocionais, psicológicas e sociais.
A psicóloga Renata Pinheiro afirma que a compreensão emocional do adolescer estendeu-se nos dias atuais e isso se deu por conta das mudanças geracionais.
Ela explica que as chamadas gerações Z e Y compactuam com jovens de doze a vinte e nove anos, que experimentam vivências e transformações semelhantes em seu amadurecimento emocional e sociocultural. “O sujeito, nessa fase, experimenta um movimento recluso do seu mundo interno, sendo considerado, por muitos, como ‘ser de outro tempo’. O adolescente, atualmente, trata os conflitos internos e externos de forma racionalizada, sendo percebidos como possuidores do saber, mas, com dificuldades pontuais nas relações com as figuras de autoridade, como pais, responsáveis, professores e familiares”.
O que mudou foi que, antes, quando crianças, desejavam aceitação dos pais, pois, esses eram vistos como seres onipotentes e mágicos, mas, agora, na transição entre a infância e a idade adulta carecem da compreensão e aceitação dos pares, dos iguais. Então, é esperada e natural a oscilação entre as fases. É possível notar que, em alguns momentos, esses jovens dispõem de uma compreensão de si e do mundo, mas, em outros, eles estão confusos, fruto do processo de reformulação da personalidade e identidade sexual.
A psicóloga indica que os pais ou responsáveis dessa nova geração possuem algumas dificuldades em lidar com esse público porque os mesmos, provavelmente, vivenciaram situações de privação e dificuldades nesta fase da vida, concebendo, em muitos casos, a ideia de proporcionar aos filhos uma vida melhor, suprimindo-os de várias formas o que outrora lhes faltou. Os pais buscam mais que apenas respeito dos filhos atualmente, a busca é maior por aceitação e amor.
Nessa fase é muito importante um olhar atento e acolhimento dos responsáveis e profissionais de saúde. Renata nota que, em sua maioria, os jovens aguçaram sua curiosidade por novas experiências, assim como, também na aceitação dos grupos e pares. “Em alguns casos, o indivíduo pode sujeitar-se a situações delicadas e perigosas, tais como a automutilação, sexo, rituais, drogas e tantos outros, mesmo não compactuando totalmente com suas ideias e desejos”.
Renata diz que outro ponto para reflexão é a visão da sociedade e seus diversos desafios. “A demanda externa favorece a idealização da perfeição das relações, da imagem corporal, de bons resultados acadêmicos, da informação rápida, das redes sociais, do ser ‘feliz’ o tempo todo.”
Diante disso”, existem cobranças externas e internas grandes neste público. Na ânsia de suprir todas essas questões, podem gerar patologias graves, sofrimento psíquico, mecanismos para adequação, mesmo, muitas vezes, desestruturando suas próprias concepções de vida, que ainda estão em construção, bem como sua personalidade.
Contudo, é muito importante a compreensão e reflexão a respeito dessa nova geração do adolescer. Em alguns casos, se fazem de extrema importância o acolhimento e tratamento psicoterápico, que visam uma melhor qualidade de vida para o sujeito, como também para seus responsáveis e familiares, inclusive, em sua compreensão, acolhimento e ressignificação dos sentimentos e angústias próprias da fase.