Tinha apenas 25 anos, mas passaria o resto da vida envelhecendo lentamente naquela cela fria. Todo o mundo o conhecia pelo apelido de “Baiano”.
Sua fama de marginal violento e perigoso era alimentada por sete assassínios. Só dentro da prisão havia tirado a vida de dois detentos.
Estava condenado a quarenta anos de prisão, e tinha mais sete processos pendentes, o que não lhe dava a mínima esperança de sair livre algum dia.
Quando falou comigo, seus olhos brilhavam, tentando esconder a emoção que sentia no coração. Aí estava aquele homem duro, arrasado por um redemoinho de sentimentos.
– Pastor, ore por minha mãe – disse – ela é crente e sofre muito por minha causa! Depois, com a cabeça baixa, continuou: – Gostaria de ser um garoto novamente. Acho que começaria tudo de novo e as coisas seriam diferentes.
Você já percebeu que, quando se é jovem, tem-se a impressão de que a juventude não vai acabar nunca; que as oportunidades serão eternas; que a energia, a saúde e a força estarão sempre à nossa disposição?
“É só dar um grito, estender a mão e elas virão correndo”, pensamos. Mas, o tempo nos mostra dolorosamente que não é assim, e que esse período vai embora e não volta mais.
O Senhor Jesus, na parábola do filho pródigo, menciona propositadamente “O mais moço”, tentando, de alguma maneira, mostrar-nos a importância das decisões nessa época da vida.
Existe, no coração do ser humano, um sentimento que, durante a juventude, acentua-se, tornando-se, às vezes, uma procura permanente e sem sentido.
É o anseio de liberdade. “Quero ser livre”, clama o coração jovem. “Nada de barreiras, nem de proibições. Quero uma terra sem fronteiras”.
De repente, todas as atrações do mundo tornam-se irresistíveis. Lá fora não existem preconceitos, não existe moral. “Tudo depende da cabeça da gente”, dizem os defensores da vida sem compromisso.
Foi assim que aconteceu com o filho da parábola. Um dia, confundiu as coisas e pensou que o pai cerceava sua liberdade, que o pai queria mantê-lo sempre subjugado e sem personalidade; e aí, pensou: “Chega de normas e regulamentos, quero ser livre”.
Quanta razão tinha Jesus quando mencionou o “mais moço”! As estatísticas mostram que a maioria das pessoas abandona a igreja entre os 12 e os 18 anos, ou seja, são sempre “os mais jovens” da parábola.
Mas isto não tem que ver apenas com a idade física, tem que ver também com a idade espiritual. Pessoas que aceitam a Jesus e a Sua igreja com um entusiasmo incrível, logo nos primeiros anos do seu crescimento espiritual, sentem o desejo de “tornar a ser livres” sem “as fronteiras que a igreja impõe”, sem proibicões, sem normas.
Por que acontece isto? Paramos de amá-Lo como a um Pai de amor e começamos a servi-Lo como a um ditador. Deixamos de ser filhos e tornamo-nos escravos.
Chega um momento em nossa experiência cristã, em que Cristo passa a ocupar o último lugar. Daí a querer voltar a “Terra da Liberdade”, é só um passo.
Qualquer motivo será o pretexto que faltava. Se alguém olhou feio para nós, ou não nos cumprimentou, ou falou mal de nosso trabalho – qualquer coisa, por mínima que seja, será motivo para romper o nosso relacionamento com a igreja, porque o nosso relacionamento com Cristo havia muito tempo estava acabado.
Ninguém abandona Jesus de um momento para o outro. Este é um processo lento e doloroso. É um processo que envolve sofrimento e lágrimas.
Primeiro, frustração por não conseguir cumprir o que se espera de nós; depois, remorso, desespero, novas tentativas infrutíferas e, finalmente, o abandono da igreja e o vazio da alma.
Alejandro Bullón
“Volte Para Casa, Filho”
Igreja Adventista do 7o Dia