O efeito da “volta às aulas” nos estudantes

Período de férias, além da diversão e o repouso para o próximo semestre, contribuem também para o desenvolvimento social e emocional

Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga
CRP 06/136159
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Durante o ano letivo, as crianças passam muito tempo se dedicando às atividades escolares e as férias, para a maioria delas, são recebidas como um presente. Os despertadores podem tocar mais tarde, as tarefas não serão mais diárias, o tempo poderá ser aproveitado para descobrir coisas novas, ficar com familiares e, é claro, para brincar muito.

O período de férias, além da diversão e o repouso para o próximo semestre, contribuem também para o desenvolvimento social, emocional e ajuda a consolidar os conteúdos aprendidos em sala de aula, facilita a absorção dos novos e aumenta a disposição para os próximos meses. O cérebro agradece esse tempo de descanso, é como “recarregar as baterias”.
Após as férias, chega o momento da “volta às aulas”, e no início até bate aquela “preguicinha”, mas logo estarão felizes e dispostos. A mente fica mais aberta ao aprendizado, irão rever os amigos e os professores, retornam à rotina. Há até as crianças que não veem a hora de retornar para a escola, pois acabam por ficar entediadas em casa.

Por alguns motivos, existem algumas crianças que possuem dificuldades na volta às aulas e podem apresentar alterações no comportamento como oscilações de humor, episódios de agressividade, medo, sintomas de ansiedade e até depressão. Muitos desses sintomas ficaram bastante evidentes nas crianças que vivenciaram a pandemia de Covid-19 em que permaneceram cerca de um ano sem interação no ambiente escolar, tendo aulas online e convivendo apenas com os moradores de casa. Quando tiveram que retornar presencialmente a escola, apresentaram dificuldades de adaptação.

Acredita-se que o período mais crítico tenha passado, as crianças possuem uma capacidade grande de adaptação e readaptação. Apenas algumas podem precisar de mais tempo, e também, os sintomas podem estar relacionados com outros motivos de ordem emocional. Como exemplos, estarem vivenciando um momento de separação dos pais, perda de familiares, de animais de estimação, ou mesmo o bullying na escola, entre outros.
É necessário o olhar do adulto para identificar quando a criança está necessitando de ajuda emocional, pois irá, com certeza, refletir na sua vida escolar.

As conhecidas “birras”, como a choradeira na porta da escola e, nesse caso, têm tudo a ver com a tentativa que o pequeno encontra de conseguir o que quer, burlar os limites dos pais e as regras da escola. Sempre explicar o porquê de ela poder ou não poder determinada coisa, oferecer o suporte, transmitir confiança e, ao mesmo tempo, ser firme para as birras não se tornarem rotina.

A criança estranha os primeiros dias da volta às aulas, é natural, já que elas acostumam ao ambiente de casa e, de alguma forma, é papel dos pais preparar os filhos para novamente estarem separados durante esse período do dia e da escola ou instituição a acolhida desse retorno.

Muitas vezes, o medo da volta às aulas também pode ser dos pais e não da criança. Elas podem estar apenas refletindo a insegurança desse momento de separação deles. A criança sente tudo, mesmo que não seja verbalizada nenhuma palavra. Quando uma criança repete o comportamento do adulto, vai ficando mais nítido o quanto elas aprendem com esses modelos.

Percebe-se, então, que é necessária a observação do tempo que se mantém esse desequilíbrio de comportamentos. Espera-se um período breve de adaptação. Caso persista, a ajuda psicológica é indicada para a criança e, muitas vezes, até para os próprios pais.