O impacto das expectativas de gênero na paternidade adolescente

Presença do pai é essencial, evidencia ao filho que existem outras relações, e não somente a materna, já que o bebê se percebe uma extensão de sua mãe

É mais comum se ouvir falar sobre a dificuldade de ter um filho na adolescência com o olhar sobre a menina, pois é ela que carrega em seu ventre uma criança, ou seja, as reflexões se voltam para a questão da maternidade nessa fase da vida.

As meninas desde a primeira infância começam a se familiarizar com o cuidar do outro, tanto que a maioria delas ganham uma boneca como primeiro presente, seguido por outros brinquedos como acessórios do bebê boneca e a cozinha rosa completa. Não que isso seja errado, trata-se de uma reflexão sobre a cultura social e não somente atual, pois na verdade isso vem passando de gerações a gerações.
No caso dos meninos, ganham outros brinquedos como carrinho, bola, jogos, bonecos de personagem, vídeo game, entre outros. São objetos lúdicos e simbólicos, mas que contribuem (não somente) na formação dos seus valores ao se relacionarem com o outro.

Para as meninas pode ficar implícito ou inconsciente que elas desenvolvam essa característica prioritária da dedicação e cuidado do próximo. Já para os meninos a prioridade podem ser a luta, as conquistas, o trabalho para serem provedores, os prazeres, e até muitas vezes são considerados egoístas por priorizarem a si mesmos.

O peso da masculinidade carregada de códigos culturais dita que meninos podem isso e não podem aquilo. “Meninos não choram, não brincam de boneca ou de casinha, não abraçam ou dão beijinhos, isso é coisa de meninas”, e isso acontecendo desde a infância, seguindo para a adolescência e estendendo para a vida adulta.

Não há uma definição clara para o ponto de início e término da adolescência, mas aproximadamente é compreendida dos 12 aos 20 anos, (alguns autores a mencionam até os 25 anos). É caracterizada por uma fase de descoberta do mundo no qual os jovens olham ao seu redor e o interpretam, e isso ocorre a partir das vivências que vêm tendo com seus primeiros cuidadores como pai e mãe.

Maristela T. Lopes Ramos
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É um momento de transição que o adolescente passa, e que é carregado de transformações físicas, psicológicas e existenciais. Há um período de crise e instabilidade. Ao mesmo tempo, está acontecendo a construção de uma identidade e a consolidação da personalidade.

Antes, quando criança, podia “tudo”, os pais ajudavam, as tarefas e compromissos eram apenas estudar e organizar seu quarto. Já mais perto da vida adulta começa a perceber a aproximação de maiores responsabilidades.

Biologicamente, o adolescente tem condições físicas para ser pai, mas como esse mesmo ser, que se encontra mergulhado em si mesmo, construindo sua identidade poderá oferecer esse apoio e presença paterna para estruturar um filho que precisa tanto?

Quantos homens adolescentes e até adultos abandonam a mulher grávida nesse momento em que essa responsabilidade aparece? Será que essa maneira em que a educação do menino e da menina mencionada no início do texto, sobre as meninas serem educadas para cuidar e zelar e os meninos para prover, pode influenciar nessa decisão de assumir ou não a paternidade?

A menina acaba por não ter a escolha igual a do homem que se ausenta, pois ela traz o bebê junto a ela.
Não necessariamente esse pai terá que ficar com a mãe, mas na vida da criança ele nunca será dispensável. Essa presença é essencial, evidencia ao filho que existem outras relações, e não somente a materna, já que o bebê se percebe uma extensão de sua mãe. Essa relação com o pai é o início da socialização na vida da criança.

Pai não é apenas uma presença física, é o afeto, a preocupação, a importância que o filho sente ter para o pai. Ser pai é suportar ser “odiado” em alguns momentos por esse filho, quando tiver que chamar atenção, corrigir, colocar limites dizendo “Não”. Alguns pais, por não suportarem, acabam por deixar as mães nesse papel, ou tornam-se demasiados permissivos, que acabam muitas vezes tendo o efeito contrário, que é quando os filhos sentem “meu pai não liga para mim, posso fazer tudo, e ele nem se importa”.

Ser pai na adolescência será difícil porque nessa idade, muitas vezes, se está estudando e o trabalho será o foco maior para poder sustentar o bebê. Muitos abandonam o estudo nesse momento. Outras mudanças também ocorrem como as que transformam a rotina. Terão que trocar festas, viagens, algumas amizades, a independência, a despreocupação por uma vida familiar.

Mas ser pai jovem também pode significar ter mais tempo para vê-lo crescer e mais energia para assumir muitas tarefas que o cuidado infantil exige. As diferenças entre as gerações serão menores. Pais mais jovens estarão mais próximos do contexto tecnológico atual, como as redes sociais, e consequentemente com a linguagem deles.

Enfim, a longo prazo, quando os filhos crescerem e saírem de casa, os pais ainda estarão na casa dos 40 anos, que pode gerar menos sentimento de tristeza e vazio, ainda terão projetos e vida ativa. E assim, pais jovens ou não, sempre serão necessários na vida de um filho.