A mentira mais dita pelas pessoas é “tô bem”, porque botar um belo sorriso no rosto é fácil, mas o que há por trás desse sorriso?
Todos nós temos sonhos e objetivos, e muito se ouve que é só pensar positivo para que os mesmos se realizem. Apenas o ato de pensar positivamente, por si só, não é capaz de fazer nada acontecer, pois apenas o pensamento não tem uma ação direta sobre mudanças ou acontecimentos. O que pode ocorrer é esse pensamento ser um mediador para se buscar o que quer que seja que a pessoa deseja que aconteça. O pensamento positivo é como um sonhar acordado, ele ajuda a saber onde se quer chegar, mas para isso tem que ser com as próprias pernas, com o próprio esforço. Percebe-se, então, que os pensamentos positivos necessitam serem transformados em ação e que se forem usados da forma certa podem ser sim poderoso, isto é, encontra-se uma dinâmica mental que “burla” o pessimismo, o medo, a perda, a ansiedade e se consegue seguir para as oportunidades.
Existe pensamento positivo que não é tão produtivo, aqueles na qual ocorre o autoengano. A pessoa fica se elogiando e se puxando para cima, exigindo de si estar sempre bem.
Busca-se muito por esse assunto na internet, e também há muita oferta de cursos, palestras, vídeos motivacionais (coaches, influencers) que disseminam que os pensamentos positivos por si só protegem, transformam o futuro ou criam reações na realidade. Verdadeiras fórmulas mágicas com inúmeras técnicas para gerá-los e mudar a vida da água para o vinho. Supervalorizado pela sociedade atual como se fosse algo que para tê-los é só uma questão de cultivá-los. É como se a pessoa se convencesse que é incrível, especial e tem superpoderes. Na hora de enfrentar a realidade vai se machucar e sofrer, já que criou expectativas exageradas sobre si. Pode se tornar uma pessoa arrogante e com dificuldades de aceitar críticas, uma pessoa que pode até aumentar a sua fé, mas não aumenta a sua capacidade de agir ou de se transformar.
Será então que não ter pensamentos positivos é errado ou pode prejudicar? O ideal é saber sobre o equilíbrio de nossos pensamentos. Um exemplo disso é imaginar a situação em que a pessoa teria que se preparar para uma prova importante como em um concurso e achar que somente pensando positivo irá passar no exame. O otimismo pode ajudar como também causar uma cegueira para os problemas, limitações e dificuldades da situação. Portanto, um pensamento negativo nem sempre é de todo ruim, pode ser nomeado por cautela e prudência que são qualidades preciosas de uma pessoa. Nesse caso é o equilíbrio que prevalece, há de haver sabedoria para reconhecer essa diferença.
A mentira mais dita pelas pessoas é “tô bem”, porque botar um belo sorriso no rosto é fácil, mas o que há por trás desse sorriso? Mudar de vida não está simplesmente em fazer a cara certa, é muito mais profundo que isso. A mudança verdadeira é sempre de dentro para fora. Encher-se de pensamentos positivos é pegar algo de fora e forçar para dentro. Isso não é mudar.
Enquanto não for mexido no que existe de mais interno dentro de cada um nada acontecerá. A psicoterapia não é o lugar para pensamentos positivos, porém, é um espaço para o autoconhecimento. De nada adianta portar palavras lindas e positivas se o interior estiver escuro e nem se acreditar no que se fala. Nada é forçado para que o paciente pense assim ou assado. O que existe é a forma de avaliar a maneira como a vida vem sendo vivida e com isso perceber que algumas coisas podem ser olhadas, ressignificadas e vividas de outro jeito.
Isso tudo não significa que as pessoas devem se entregar às lamentações ou reclamações da vida. Enfim, não se trata de substituir um pensamento por outro, não é uma troca, mas uma mudança no modo de enxergar e encarar a vida. Quem aprende a se conhecer de verdade não precisa pensar positivo ou negativo, apenas lidar com o que sente e vive de forma realista.
Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga
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