Bióloga explica sobre a prática, que teve muita procura durante a pandemia e ajuda o meio ambiente
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos 2020, estima-se que cada pessoa produza, em média, 170 kg de matéria orgânica por ano, sendo o equivalente a 45% de todo lixo produzido pelos brasileiros. Esse resíduo, ao ser misturado com outros materiais de aterros e lixões, sem tratamento adequado, emite o gás metano (CH4), que é um dos principais aceleradores do efeito estufa. Além disso, esse resíduo também pode ser convertido em chorume, que é altamente prejudicial ao meio ambiente, contaminando o solo e lençóis freáticos.
Mas o que é matéria orgânica?
É todo derivado de materiais vegetais ou animais, ou seja, aquela casca de ovo, casca de banana, resto de comida, leite que deixou azedar na geladeira, sobra de vegetais etc.
Em paralelo, é possível constatar através do ‘google trends’ um aumento significativo de buscas pelo tema “horta em casa” na internet durante a pandemia do novo Coronavírus. Isso indica que as famílias têm demonstrado interesse em produzir a própria comida e em adquirir hábitos mais saudáveis, dando preferência para alimentos sem agrotóxicos.
O que pouco se sabe é que grande parte da matéria orgânica produzida no ambiente doméstico poderia ser utilizada na compostagem, sendo convertida em adubo e biofertilizante, potencializando a manutenção de solo das hortas e jardins, além de servir como uma possível renda extra através da venda desse material.
Qualquer pessoa pode ter uma composteira, mesmo morando em pequenos apartamentos. Sua manutenção é simples, e se corretamente executada, não deixa cheiro e não atrai insetos. Pode ser feita com minhocas californianas, microrganismos ou até mesmo pela composteira elétrica.
A mais utilizada é a vermicompostagem, feita com minhocas californianas, que é composta por 3 caixas empilhadas e uma tampa fechando a caixa do topo (o diâmetro e a quantidade de caixas pode variar de acordo com a demanda familiar). As duas primeiras caixas são as caixas digestoras, onde concentram as minhocas; é na caixa do topo que se deposita os restos orgânicos, tomando o cuidado de sempre fechar esse material com matéria vegetal seca para não atrair moscas (podem ser utilizadas folhas secas ou serragem de madeira sem tratamento). A caixa do topo e do meio vão trocando de lugar conforme enchem, quando a de cima está cheia ela vai para o meio para ocorrer o processo de decomposição formando o húmus de minhoca; varia de 2 a 3 meses até concluir esse processo, tempo suficiente para a caixa de cima encher novamente.
Um detalhe importante é que as caixas digestoras (a do topo e a do meio) devem possuir furinhos suficientemente grandes na base, para a passagem das minhocas e da matéria líquida.
A caixa de baixo é a caixa coletora, onde será concentrada toda parte líquida, conhecida como biofertilizante. Essa última caixa não possui furos, mas deve conter uma pequena torneira para facilitar sua coleta. Esse líquido não é tóxico, muito pelo contrário, ele é riquíssimo em nutrientes e sais minerais; basta diluir uma porção de 1 para 10 de água (Ex: 1 litro de biofertilizante em 10 litros de água) e usar durante a rega no solo.
Na composteira podem ser inseridos restos de frutas, verduras, legumes, borra de café, cascas de ovo, sachês de chá, grãos, sementes e até mesmo uma quantidade moderada de papelão picado. Importante salientar que não se deve depositar nada de origem animal, evitando também frutas cítricas, ervas aromáticas e temperos.
A compostagem, além de ter efeitos extremamente positivos para o meio ambiente, também permite uma conexão com os ciclos naturais; nela é possível observar o resto do alimento, que seria descartado como lixo, ser transformado em adubo, nutrindo o solo que favorece a produção de hortas orgânicas, e retornando novamente para o nosso prato como alimento.
Renata Marraschi
Bióloga
Doutora em Proteção de Plantas