Quando uma criança é concebida, na maioria das vezes ela já foi pensada pelos pais muito antes do seu nascimento. A hora de saber o sexo do filho é normalmente um dos momentos de maior expectativa para os pais. “Há cerca de 25 a 30 anos, não era tão usual a mãe fazer tantos ultrassons/ecografias durante o pré-natal e, consequentemente, saber o sexo antes do nascimento.
Saber se é uma menina ou menino ficava na idealização. Os enxovais e os objetos de decoração dos quartos eram todos em cores neutras amarelo, branco e verde, diferente de hoje em que a maioria dos pais sabe o sexo anterior ao nascimento e há uma explosão de cores azul e rosa”, lembra Maristela Ramos, Pscicóloga.
Uma mulher, ao descobrir que está grávida e ao dar a notícia aos familiares, amigos e conhecidos, logo ouvirá a pergunta: qual você prefere, um menino, uma menina ou é indiferente? “A maioria responde que ambos os sexos serão bem-vindos se agraciados de muita saúde, mas, intimamente, todos carregam uma preferência, e outros deixam bem claro o desejo de terem filho menino ou menina. Mas, e quando esse desejo é muito grande e se deparam com o sexo oposto ao idealizado? Este momento pode ser decepcionante e frustrante, em que o bebê real aparece tomando o lugar do imaginado”, explica a especialista. “Se essa situação ocorrer, é necessária a elaboração emocional/psíquica desse pai ou mãe para uma aceitação e preparação para se estar aberto a acolher esse bebê que chegará em breve. Não existe uma culpabilização aos pais por desejarem um sexo específico para o seu bebê ou por terem o sentimento de frustração por não realizarem o seu desejo. A questão é saber lidar com isso, e se preciso for, buscar ajuda psicológica para tanto”, completa.
“Acredita-se que saber o sexo do bebê antes do nascimento carrega muitos simbolismos. É um “serzinho” que está crescendo no útero materno, não se sabe muito sobre ele. Então, saber se é uma menina ou menino possibilita reconhecê-lo de outra forma, podendo nomeá-lo, o tornando menos desconhecido e assim facilitar o encontro com o bebê real. A escolha do nome anterior ao nascimento também contribui para as “conversas” dos pais para com ele(a) ainda no ventre”, indica Maristela.
Maristela explica que, “no decorrer da vida desses pais, eles foram marcados em seus psiquismos por meio de suas experiências vividas desde a infância, foram expostos a circunstâncias que, por sua vez, definiram a maneira como desempenharão os novos papéis quando forem pai e mãe”.
A maternidade/paternidade por si só requer muitas adaptações e reestruturações, sendo naturalmente um gerador de ansiedade por conta das mudanças que acontece na dinâmica do casal, principalmente, quando é o primeiro filho. Estarão agora aprendendo a ser pai e mãe.
Contudo, essa postura de imaginar, pensar e querer estar com o bebê antes do nascimento é uma forma de proximidade de contato dos pais com o mesmo. “Assim, não se pode afirmar que os pais que não expressem essas expectativas não estejam se relacionando com o seu
bebê de forma próxima. Cada um vivencia a maternidade e a paternidade de forma singular”, explica Maristela.
“Finalizando, existem casos de bebês que nascem com genitália ambígua (sexo indefinido, precisando de exames adequados para defini-los). Os pais são tomados por uma enorme frustração e estranhamento diante de um filho que não podem identificar como “aquele” que idealizaram. Essa situação faz com que fique suspensa a definição de um nome de menina ou menino e de todas as escolhas e decisões dos pais ao que se refere ao modo de se educar essa criança, já que existe a ressalva de se levar em consideração o sexo biológico e psicológico. Essa questão última pode ser tema de uma próxima matéria, em que toca-se no ponto da constituição da sexualidade do ser humano. Ponto esse que causa muita discussão, quanto a crença que a sexualidade e/ou gênero heterossexual/homossexual possa ser ‘escolhido’”, finaliza a especialista.