O que preciso saber antes de ter um pássaro em casa?

Determinados animais necessitam de cuidados específicos

Arícia Monteiro
Médica Veterinária
Proprietária da Via Vita – Medicina Veterinária Integrativa – @viavita.vet
WhatsApp: (19) 99641 2579

Assim como qualquer outro animal, o primeiro a se saber é se seria o animal ideal para o meu dia-a-dia, minha rotina, se consigo fornecer uma alimentação e manejo adequado para ele viver bem.
Os animais silvestres e exóticos possuem picos de atividades, ou seja, um momento do dia em que ele é mais ativo. Sendo este um ponto a ser considerado, pois a grande maioria das aves é diurna, ou seja, tem sua maior atividade durante o dia e necessita dormir no por-do-sol, para não ter influência do foto período. Porém, a maioria dos tutores trabalha durante o dia e vai interagir a noite com suas aves, até de madrugada, não sendo o ideal para elas. A falta de descanso adequado gera estresse e até problemas reprodutivos. Então, será que vou dar uma boa qualidade de vida para minha ave? Estudar e entender as necessidades diárias do animal antes de comprar é um fator importante.
Qual o tamanho do recinto que ele necessita? Como deve ser a gaiola? Qual alimento devo fornecer? Ele prefere frutas? Néctar? Ou seria um animal carnívoro, insetívoro? Com que frequência deve ser ministrado o alimento? O que ele não deve comer? E o gasto mensal para fornecer isso? Qual a média de tempo de vida em cativeiro desse pássaro? Algumas aves, como os psitacídeos, gostam de muita atenção e interagir; se ele ficar o dia todo sozinho, pode acarretar alguma alteração emocional? Eu tenho um local na minha casa que ele possa ficar durante a noite, onde não seja frio, não tenha barulho ou luz?
A arte de cuidar de um pássaro envolve dedicação e esses fatores devem ser levados em consideração. Uma opção é consultar um Médico Veterinário de Silvestres e pedir um auxílio para saber as necessidades da espécie antes de comprar.

Como funciona a alimentação deles? O que pode ou não comer?
A alimentação varia de cada espécie, pois cada uma tem sua alimentação específica. Existem aves granívoros, como os periquitos-australianos, frugívoros, como as araras e os papagaios, nectívoros, como os Lóris, onívoros, como as cacatuas, calopsitas, tucanos, além de outras aves que são piscívoras, carnívoras. Com isso, as necessidades nutricionais alteram, ou seja, a quantidade de proteínas, fibra, extrato etéreo, vitaminas, aminoácidos são diferentes, sendo que a falta ou o excesso podem levar a inúmeras doenças. Além disso, temos que considerar em qual fase da vida o animal está, se é filhote, adulto, em reprodução.
A maioria dos tutores fornece rações que são misturas de sementes (girassol, painço, alpiste, arroz) para sua ave, independentemente de sua espécie. Entretanto, já sabemos há muito tempo que esse tipo de alimentação não é adequada. É alarmante o número de casos que eu atendo onde a doença do animal tem uma relação direta com sua alimentação, podendo destacar as deficiências vitamínicas, excesso de gordura e alterações em fígado, rim. O ideal seria um atendimento prévio com um Médico Veterinário para receber as orientações adequadas de quais alimentos e quantidades que aquele indivíduo necessita.
Lembrando que é estritamente proibido fornecer qualquer tipo de alimento industrializado, como café, chocolate, bolacha, macarrão, pizza, refrigerante, arroz, feijão, entre outros.

Quais as melhores espécies para ter em casa?
Essa pergunta vai muito pelo gosto do freguês haha. Brincadeiras à parte, mas isso é muito particular, os pássaros são pets com personalidades bem diferentes uns dos outros. Mas, acredito que as melhores são os psitacídeos, que gostam de interagir com os humanos, divertidos e extremamente inteligentes. Sendo elas os papagaios, maritacas, periquitos, agapornis, calopsitas, lembrando que cada espécie tem perfis diferentes. Também existe a opção de ter outras aves mais diferenciadas, como falcões, corujas (legalizados).

Qualquer pássaro que eu tiver preciso de documentação?
Há uma lista de espécie de aves que são liberadas para ter em casa como pet, ou seja que se pode ter dentro da lei sem uma exigência burocrática de documentação, por exemplo calopsitas e periquitos australianos (consideradas aves domésticas); Assim como há listas emitidas por órgãos responsáveis que descrevem as espécies que necessitam de documentação de procedência específica, como as Araras, Papagaios, Cacatuas, Lóris, Pixarro.
Porém, mesmo nos casos das aves consideradas domésticas, é indicado procurar um criadouro autorizado pelo Ibama ou uma loja confiável para comprar as aves, para que seja emitida no mínimo uma nota fiscal. A reprodução de espécies nativas (pertencentes a nossa fauna) em criadouros autorizados promove, além da conservação, a possibilidade de adquirir um animal silvestre, sem que ele tenha sido retirado da natureza, ou passado pelo tráfico de animais. Sabemos que o tráfico desses animais ocorre em larga escala, eles são retirados da mãe quando filhotes e poucos sobrevivem para ser vendidos. Lembrando que pela Lei nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998, Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente é passível de cadeia e/ou multa.

Como deve ser feita a higiene do recinto do pássaro?
O ideal é que a limpeza seja feita diariamente. Lavar todo o recinto, poleiros, além dos potes de água e alimento. É interessante optar por gaiolas que não sejam de madeira, pois elas dificultam a higienização.

Eles vivem sozinhos? Ou é mais interessante ter casal?
Sabe-se que no caso da maior parte dos psitacídeos, pensando na qualidade de vida, seria interessante ter um companheiro, contudo, isso varia de cada espécie. Há algumas que, quando possuem um companheiro, ficam mais ariscas com o tutor. Em vista, as calopsitas, convivem bem em grupos. No caso dos passeriformes, também levamos a biologia da espécie em consideração.
É interessante salientar que a maior parte das aves pet não possuem um dimorfismo sexual, ou seja, não apresentam característica que diferenciam o macho da fêmea, então, é necessário realizar o exame de sexagem por DNA. Muitos pacientes meus tiveram que trocar o nome.