A obesidade infantil é classificada como uma epidemia e acredita-se que, aproximadamente, existam 35 milhões de crianças em países em desenvolvimento que sofrem de obesidade hoje. Inclusive, existe o Dia Mundial da Obesidade Infantil, que acontece em 11 de outubro, e visa a conscientização dos pais para com a saúde de seus filhos.
De acordo com o pediatra Dr. André Arruda, “o balanço energético, ou seja, o fruto daquilo que se ingere em torno de calorias e aquilo que o organismo gasta em suas funções orgânicas mais basais (como a digestão, manutenção da temperatura, gasto que os músculos exercem durante sua movimentação), irá gerar o consumo, e, mediante essa taxa metabólica, junto com tudo o que se foi ingerido em termos de alimentação, irá gerar um balanço que pode ser positivo ou negativo”, informa.
As causas da obesidade infantil podem ser variadas. O especialista observa que é através desse processo que a obesidade caminha. “No caso da obesidade infantil, o ‘boom’ se deve basicamente a uma mudança cultural, em que as crianças pararam de se exercitar e começaram a passar mais tempo na frente de telas de TVs, celulares e tablets. Ao mesmo tempo, essas crianças adquirem o hábito de consumirem alimentos de alta caloria que podem ser bolachas recheadas, lanches prontos, refrigerantes e sucos já adoçados”, explica. O pediatra ainda acrescenta que o prato típico brasileiro – arroz, feijão, carne e salada -, está sendo substituído por lanches e produtos industrializados, fator que contribui para a obesidade.
Os hábitos alimentares e físicos dos pais influenciam totalmente os hábitos da criança. “Pais que se alimentam de forma variada, terão filhos que se alimentarão de forma variada. Se a criança cresce em uma família em que os pais se alimentam de forma equivocada, com excesso de carboidratos, gordura e proteína, com certeza, ela irá se alimentar da mesma forma que vê os pais. Isso é inevitável”, aponta Dr. André. “É papel dos pais influenciarem positivamente seus filhos a ingerir alimentos de forma consciente, balanceada e promover o estímulo à atividade física”, adverte.
Contudo, algumas causas da obesidade não têm ligação com fatores externos em que a criança é submetida. “Disfunções endócrinas, problemas ligados a tireóide, regulação dos hormônios da glândula adrenal, crianças que fazem uso de medicamentos crônicos como corticóides, podem desenvolver alterações ligadas à obesidade”, explica o profissional.
A influência genética também é um fator de grande importância no organismo. Porém, o especialista faz um alerta. “É claro que existem os componentes hereditários na questão da obesidade; a literatura relata a influência da hereditariedade de 50 a 80% em nosso corpo. Contudo, na maior parte das vezes, essa hereditariedade não se manifestaria caso o indivíduo tivesse hábitos de vida saudáveis. Por exemplo, se meu pai e minha mãe praticam atividades físicas e se alimentam de forma adequada, e eu copio isso, não seria somente pelo fato de que geneticamente eu teria uma propensão a ser obeso, que eu seria obeso”, exemplifica.
Dr. André observa outro fator de mudança entre antigamente e os dias atuais. “Há 40 anos, muitas das crianças brincavam na rua e não tinham recursos eletrônicos ao seu dispor. Hoje, temos um mundo mais eletrônico, e também mais violento, o que diminuiu o grau de atividade das crianças na rua, que se interessam menos por brincadeiras em que haja exposição física. Outro fator também é o da localização das escolas; hoje, a maioria das crianças é levada de carro à escola pelo responsável. Muitas delas não têm mais o hábito de ir andando a lugares um pouco mais distantes”, compara.
A problemática da ansiedade na infância como influência à epidemia ainda é bastante discutida. “A ansiedade nem sempre corresponde à realidade. Às vezes, a criança adquire uma espécie de ‘vício’ em comer, do mesmo jeito que as pessoas têm o hábito de fumar e beber. Certos alimentos, como os doces e de alta caloria, geram dependência”, adverte o profissional.
A fim de evitar que os filhos se tornem obesos, os pais precisam adotar hábitos de práticas de atividades físicas e uma alimentação correta, “não permitindo a introdução sistemática de comidas de alta taxa calórica, pequenos lanches e guloseimas, o que vemos frequentemente no dia-a-dia das crianças”, observa o pediatra.
Para aqueles que já têm crianças obesas na família, é importante que os responsáveis recorram ao pediatra. “O profissional irá fazer avaliação e, mediante esta, poderá estabelecer qual seria a conduta correta de tratamento. Muitas vezes, a criança que tem sobrepeso pode ser acompanhada; já em outros casos, ela precisará fazer um acompanhamento multidisciplinar com nutricionista, eventualmente, psicólogo e endocrinologista pediatra”, informa o especialista.
“Crianças que chegam à pré-adolescência obesas serão adultos obesos, na maior parte das vezes. Todo processo de deterioração do organismo que vemos nos idosos, como problemas nas artérias, doença coronariana, riscos de derrame, hipertensão, diabetes, começou quando eles ainda eram crianças. Há uma progressão no processo de deterioração da saúde das artérias, que todas essas doenças acompanham”, destaca o pediatra.
“Existe também uma maior propensão a problemas de ordem psicológica e psiquiátrica: crianças obesas são vítimas de baixa auto-estima, de bullying, o que leva a problemas graves de comportamento. Estas crianças apresentam também problemas de ordem ortopédica, onde ocorre a sobrecarga de peso nos joelhos e na coluna lombar; de ordem dermatológica, em que a pele em contato com axilas dos braços, pernas e virilha tendem a ficarem mais escuras; e, além disso tudo, há uma maior propensão de acne, disfunção de colesterol, acúmulo de triglicerídeos no fígado, que são a maneira com que o organismo acumula o excesso de gordura e carboidrato”, explica o pediatra.
A obesidade, portanto, é uma epidemia mundial. O profissional observa: “Estamos caminhando para uma cultura cada vez mais dependente de alimentos industrializados, que são fáceis de serem dados às crianças, por não dedicarmos mais tanto tempo aos nossos filhos. As pessoas não podem achar que a obesidade é algo normal e que o problema vai se resolver sozinho. Temos tornado nossas crianças cada vez mais enclausuradas, sem atividades física e brincadeiras ao ar livre, o que estimula, assim, a união entre sedentarismo e disfunção alimentar”, finaliza Dr. André.