A Onça-parda, morta, atropelada na noite de sábado (13), em uma rodovia em Artur Nogueira, era habitante do ‘Matão da Usina’, em Cosmópolis. A informação foi passada por Márcia Gonçalves Rodrigues, Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes e Chefe da Unidade de Conservação do Matão.
O acidente, que vitimou o animal, aconteceu na Rodovia Prefeito Azin Lian, que liga Artur Nogueira à Holambra, na noite de sábado.
Segundo informações, a Onça atravessava a rodovia, quando foi atropelada por um veículo, que seguia na pista, sendo arremessada contra outro carro, que vinha em sentido contrário.
Márcia disse que “ficamos muito tristes porque temos certeza que essa onça faz parte da unidade de conservação. Inclusive, pela localização onde ela foi atropelada, vemos que ela estava indo ou voltando, da Unidade, para um fragmento de mata que fica do outro lado da pista”.
A área indicada por Márcia fica no município de Artur Nogueira. Esse fragmento de floresta possui algumas capivaras, que são a base da alimentação dessas onças. Segundo Márcia, “infelizmente, esses fragmentos são isolados e esses animais têm que atravessar a pista. Não existem corredores que conectam esses fragmentos e protegem os animais”.
Uma medida eficaz para evitar esse tipo de problema seria a ampliação das áreas de proteção, o que acabaria interligando esses fragmentos de mata, protegendo a circulação de animais.
Márcia ressalta que “criando uma área protegida ali, fica mais fácil para promover a conexão entre os fragmentos de mata. A travessia da rodovia é o caso mais complicado, mas, se conseguirmos criar a área protegida, fica mais fácil convencer as autoridades a criarem um corredor de fauna ali, porque estaremos promovendo a conexão de duas áreas protegidas”.
Onça-parda
Segundo a pesquisadora, a população de Onças-pardas na ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) do Matão é de cerca de doze animais. Ela diz que “temos uma avaliação que, no entorno da Unidade, vivem de dez a doze animais. Porém, temos que considerar que a área de vida de uma Onça, de um macho adulto, como o que morreu, é de cem a cento e cinquenta quilômetros quadrados”.
“O macho percorre uma área muito maior para defender o seu território e também acasalar com as fêmeas, que vivem dentro desse território. Calculamos entre cinco e sete fêmeas, que vivem na Unidade”.
Em 2011, um funcionário da Usina, que realizava o corte de cana, encontrou alguns filhotes, deixados pela mãe, em meio a um canavial, ao lado da Unidade de Conservação.
Os animais foram examinados e deixados no local. Uma câmera, com capacidade para filmar à noite, foi instalada próxima e captou o momento em que a Onça voltou ao local para recolher os filhotes.
Rastreamento
Apesar do alto custo do equipamento, a pesquisadora informa que já existem nove animais sendo rastreados permanentemente pelos pesquisadores.
Os pesquisadores montam armadilhas e capturam esses animais. Após, eles são examinados, para registrar o estado de saúde de cada um deles.
Como parte do processo, cada animal recebe uma coleira, contendo um rastreador GPS, que indica a localização e o percurso feito pelo animal.
“Esse animal que morreu, infelizmente, não tínhamos encoleirado porque os colares usados têm custo elevado”.
Cada colar utilizado pelos pesquisadores é importado, tendo um custo unitário por volta de R$ 15 mil.
“Estamos em um momento de crise. Então, está difícil conseguirmos recursos para comprar mais colares. Mas, se tivéssemos mais vinte colares, teríamos mais vinte onças para colocá-los”, disse a pesquisadora.
‘Matão da Usina”
A Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE Matão de Cosmópolis foi criada no ano de 1985 e possui, como principal característica, o cerrado. No total, a área abrange 173 hectares de mata, sendo 64% dentro do município de Cosmópolis.
Para tentar proteger essa área, o Instituto Chico Mendes entrou com uma representação, na Justiça Federal de Americana, para que o município apresente o Plano Diretor, de acordo com o que estabelece o Estatuto das Cidades.
Segundo o Estatuto, todo município deve ter um Plano Diretor, que faz o Zoneamento de sua área. É no Plano Diretor que ficam estabelecidas quais áreas serão residenciais, rurais, onde estão as áreas de expansão urbana e até mesmo onde será o distrito industrial.
A pesquisadora ressalta que “esse Zoneamento, que é a Lei, mais o Mapa têm que estar públicos, disponíveis nos sites das prefeituras e a Prefeitura de Cosmópolis não tem o mapa disponível para acessar.
Para fazermos o Plano de Manejo da Unidade, precisamos conhecer o Zoneamento do município e definir, de comum acordo, que a área urbana não invada a área da unidade. Porque não podemos permitir que uma indústria poluidora vá se instalar no entorno da unidade”.
O corpo da Onça atropelada foi recolhido e levado para a sede da Unidade de Conservação, em Campinas. Ele está em um freezer, sendo conservado.
Segundo Márcia, “a nossa intenção é realizar a taxidermia dele e deixá-lo para educação ambiental. Porque é um animal que viveu dentro da Unidade de Conservação.
Era um animal de aproximadamente quatro anos de idade, muito bem de saúde, muito forte, o que mostra que os animais estão se reproduzindo no interior da Unidade”.
Márcia também informou que vai solicitar ao Departamento de Estradas e Rodagens (DER), que instale no local uma lombada eletrônica, para que a velocidade dos veículos seja reduzida, evitando outros acidentes.
Nota:
Até o fechamento desta edição, a Prefeitura de Cosmópolis não se manifestou sobre o processo relativo ao Plano Diretor, citado pela pesquisadora na matéria.