Neurociência e psicologia revelam a complexa interação entre amor e paixão, destacando os desafios e possibilidades de evolução dentro das relações humanas
A grande maioria das pessoas que já passaram por um relacionamento amoroso provavelmente experimentaram amor e paixão. Esses dois sentimentos são bem diferentes e cada um tem o seu momento dentro da relação. A problemática é que quando se está apaixonado há uma tendência em se acreditar que se está amando, mas pode ser apenas uma ilusão provocada por hormônios, e quando passa essa excitação toda (“paixão esfria”) também pode vir a dúvida sobre os próprios sentimentos.
Ouve-se muito no senso comum a expressão “rolou uma química” e realmente há um sentido nisso. Segundo os neurocientistas, a razão são os feromônios, que quando as narinas captam essas substâncias, que são secretadas pelas axilas, uma região do cérebro é estimulada despertando sensações prazerosas, traz uma sensação de estar viciado na presença desse outro. O efeito da paixão pode levar a pessoa a agir de um modo irracional (“perdendo a cabeça”). Há uma idealização sobre a outra pessoa não enxergando assim, os seus defeitos. Aparece o medo de desagradar ou que essa pessoa vá embora. Demonstra-se muito carinho, cuidado e atenção e, nesse ponto, pode haver a confusão sobre amor e paixão.
Mas essa alteração toda no corpo e na mente não dura para sempre, o organismo nem iria suportar tanta descarga de neurotransmissores/hormônios. Por isso é dito que a paixão tem prazo de validade, de cerca de dois anos. Mas, e depois disso? É o fim? Ou será que pode evoluir para um próximo estágio? O amor.
Quando a química da paixão perde o poder, começam a falar mais alto a compatibilidade de ideias, as questões culturais/educação e o comportamento do(a) parceiro(a). Se a paixão pode ser cega, o amor não será. Passa-se a conhecer melhor a pessoa a qual se convive, haverá a capacidade de se encontrar nos problemas e conflitos dessa relação, a prática da compreensão, aceitação, confiança, respeito, perdão. O amor é calmo, estável, duradouro. Aprecia a companhia do outro mesmo quando não se está fazendo nada de especial. Não se vive mais pelo outro, e sim com o outro.
No livro “As 5 linguagens do amor”, de Gary Chapman, esse autor escreve justamente sobre essas linguagens, que nada mais são que maneiras como cada pessoa expressa o amor dentro de uma relação e como ela percebe e sente-se amada por esse outro. São elas: amor demonstrado por meio de – palavras de afirmação: elogios, incentivos e declarações, – tempo de qualidade: dar atenção completa à pessoa, passar momentos juntos, – presentes: dar algo material, uma flor, um chocolate, um perfume etc. – atos de serviço: realizar tarefas juntos e ajudar em outras tantas; e – toque físico: andar de mãos dadas, abraços, beijos, cafuné, sexo.
Conhecer sobre essas características em si mesmo e no outro pode ajudar e fortalecer uma comunicação, mas não basta para resolver a falta de conexão entre o casal, pois existe a complexidade, a pluralidade, a subjetividade de um convívio amoroso. Enfim, existem também questões relacionadas a dificuldade na expressão do amor e dificuldade de sentir-se amado que pode advir das relações primárias que é a que aprendemos com os nossos pais ou cuidadores, e nesse caso, essa investigação pode ser realizada, elaborada, ressignificada em psicoterapia e em psicanálise.