Pai ausente: entenda as feridas emocionais que podem ser causadas pelo abandono

Pai presente é o afeto dado no carinho e na colocação dos limites, no explicar e no cumprir regras, é ensinar a criança a ser um adulto consciente...

Quando se pensa em dia dos pais, que é uma data comemorativa geram-se grandes alegrias, mas, de alguma forma, também pode gerar dor. Pois são datas que insistem em lembrar, muitas vezes, de uma ausência.
A definição como conceito da palavra “ausência” é uma condição que apresenta um indivíduo quando este não comparece a um local ou ocasião em que era esperado.
Há pouco tempo, o papel do homem na família era trabalhar para o sustento desta. Era a autoridade máxima, tinha o poder de decisão e não se envolvia na criação dos filhos. Eram presentes fisicamente e distantes emocionalmente. Com a mulher inserida no mercado de trabalho, a configuração familiar foi necessitando de mudanças profundas, como o compartilhamento das responsabilidades nessa educação. Mesmo com essas mudanças e com as novas gerações de pais cada vez mais participativos e presentes, irão existir os casos de ausência. E nesses casos está sendo referida não a ausência física, e sim, a afetiva/emocional.
Podem existir pais que não moram com seus filhos, ou que moram muito longe, talvez até em outro país e esse pai não ser ausente. O nome disso é distante. Há inúmeros pais que se fazem presentes onde quer que estejam. Até pais falecidos não deixam seus filhos sozinhos, porque a representatividade de pai é tão marcante na existência desse filho(a) que nem mesmo o tempo, os quilômetros ou a morte enfraquece a sua presença. Pai presente é o afeto dado no carinho e na colocação dos limites, no explicar e no cumprir regras, é ensinar a criança a ser um adulto consciente das consequências de suas atitudes dentro e fora de casa.
Há pais que só aparecem quando é conveniente, com horário agendado, uma data comemorativa (aniversário, festas de fim de ano, dia da criança, etc.). Muitas vezes, é um presente material que ocupa o lugar do afeto. Pais que permitem que a distância vá abrindo um “buraco” cada vez maior. Cada um de um lado como desconhecidos, não há vínculo. Há também pais que são ausentes para um dos filhos, no caso de ter mais de um, e essa diferença sentida dói muito.
No caso de pais inexistentes, estes podem até aparecer no documento de nascimento. O filho(a) pode saber quem é, onde moram, pode até haver um telefonema ou mensagens algumas vezes no ano, mas não existem como pai. Não são nem classificados como bons ou maus pais, simplesmente não são pais. Os filhos até se convencem de que tudo vai bem sem eles, mas não vai, essa “falta” refletirá na sua vida e nos seus relacionamentos, de alguma forma. Cada um carregará o peso dessa ausência. Ficam marcadas sensações e sentimentos como o descaso, o desprezo, o abandono.
O que levou esses homens agirem dessa forma? Cada um traz sua história de vida, portanto, suas razões, com ou sem culpa, com sofrimentos, às vezes, com experiências parecidas, imaturidade emocional, irresponsabilidade (consciente ou não), egocentrismo (só pensam em si), obsessão pelo trabalho, alguns que não veem nada errado na ausência e outros podem nem fazer ideia dos danos psicológicos que causam.
Algumas consequências emocionais da ausência paterna, isto é, que não tiveram amor e cuidado do pai tendem a tornarem-se pessoas desapegadas emocionalmente tendo dificuldades em estabelecer vínculos fortes e duradouros e podem repetir esse comportamento quando pais ou nem mesmo querer ser pais.
– São adultos mais inseguros, têm medo da decepção e do abandono.
– Carregam a sensação de um vazio difícil de ser preenchido, parece que sempre falta “algo”.
– Podem tornar-se dependentes emocionais.
– Tendem ter baixa autoestima e, com isso, maior propensão a entrar em relações tóxicas devido a carência afetiva. Como existe o medo de perder novamente alguém que ama não conseguem cortar determinados vínculos nocivos, permanecendo em relações abusivas e infelizes.
– São mais propensas a vícios (drogas, sexo, jogo, compras, etc.) como forma de compensar a carência afetiva e, enfim, propensas a apresentar transtornos psicológicos como depressão e ansiedade.
Como se pode perceber, ter um pai ausente pode deixar marcas emocionais e psicológicas, no entanto, isso não significa que não seja possível seguir a vida adiante e estar bem. Remoer o passado não mudará a situação. O primeiro passo é aceitar como se sente em relação a isso, e que como filho(a) não tem culpa de o pai agir com a ausência. Conseguir, então, valorizar as pessoas que permaneceram presentes e que foram fundamentais no desenvolvimento, como a mãe, avós, padrinhos, amigos.
Por fim, se perceber que não consegue superar essa dor, reconhecer que talvez seja o momento de buscar o apoio/ajuda psicológica.

Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga
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