Pandemia x divórcio

Segundo o Google, a pesquisa por “divórcio online gratuito” cresceu 10 mil %

Maristela Lopes Ramos
Psicóloga
CRP: 06/136159
R. Santo Rizzo, 643
Cel: (19) 98171-8591

A Covid-19 está em todo o globo terrestre e a forma mais indicada de enfrentamento que evita a propagação do vírus tem sido o isolamento social temporário.
Confinadas em suas casas, as famílias, que antes conviviam por períodos limitados, passaram a ter que lidar com a presença de companheiros(as), filhos, entre outros entes por muito mais tempo e em espaços reduzidos.
O resultado disso é que tem sido identificado um número expressivo do aumento nos casos de divórcio e casos de violência doméstica e familiar. Tem-se percebido que a convivência diária de casais confinados juntos por meses pode ter fomentado o aumento dos conflitos.
Na China, país onde o vírus primeiro foi identificado, após a quarentena, foi registrado, em várias cidades, um número recorde de pedidos de divórcio, abarrotando o sistema cartorário. No Brasil, onde as repercussões práticas da pandemia demoraram um pouco para chegar, e onde a quarentena ainda vem ocorrendo de maneira parcial, ocorreu uma busca por escritórios especializados em divórcio em 177% maior comparado ao mesmo período do ano anterior. Segundo o Google, a pesquisa por “divórcio online gratuito” cresceu 10 mil % (sim, dez mil porcento).
Dados da Justiça divulgaram um aumento de 50% nos casos de violência doméstica nesse período de confinamento. A situação é tão alarmante que o chefe da ONU pronunciou a necessidade de os estados adotarem medidas para combater esse aumento. Sugeriu-se a criação de alertas virtuais, bem como em alguns estabelecimentos que permanecem abertos como farmácias e supermercados. A manutenção do funcionamento dos sistemas de proteção à mulher e a criação de abrigos para as vítimas também foi indicada.
O confinamento tem sido uma experiência nova a todos e traz sensações e sentimentos de angústia, ansiedade, medos, incertezas, insegurança, enfim, vários sintomas de estresse em que com o emocional em desequilíbrio acaba por contribuir no aumento dos conflitos familiares. Apesar da experiência ser nova, problemas e conflitos não são nada novos quando se fala em relacionamento/casamento. A quarentena acentuou os conflitos. A falta de sintonia foi amplificada e até as pequenas queixas mais simples, como uma desarrumação/desleixo ficaram impossíveis de “engolir”.
E o que essa situação pode estar dizendo sobre os casais? Que os casamentos estão muitas vezes sendo “empurrados com a barriga” e o quanto negligenciam-se as conversas mais profundas. Que o dia a dia está passando no automático, dormir, comer, trabalhar, esquecendo-se de “alimentar” a relação. O casamento pode ser comparado a uma planta, que precisa ser regado, adubado, replantado, isso é cuidado, porque senão ele murcha, seca e morre.
A vida a dois é muito boa, mas não é qualquer vida a dois. Para deixar um casamento gostoso, transparente e sólido não basta só agradar o outro com presentinhos e momentos sexuais. Casamento feliz dá trabalho, ambos têm que se empenhar, e manter um casamento infeliz dá mais dor de cabeça ainda e só serve se as pessoas passam a maior parte do tempo fora de casa, longe um do outro, fingindo que há muitas coisas importantes para fazer do que se olhar com carinho e sinceridade.
É certo que existe a correria do dia a dia, rotina puxada de trabalho, horários que não batem, demanda dos filhos, mas, assim como se arruma tempo para encontros quando se está vivendo uma paixão, é preciso arrumar tempo quando o casamento já está consolidado e rotineiro.
Diálogo ainda é a melhor saída, a ideia de falar os incômodos, as queixas e as insatisfações significam, muitas vezes, resolver as questões em vez de empurrar as coisas para ‘debaixo do tapete”, elas começam, simbolicamente falando, a embolorar e cheirar mal. Se essas conversas parecerem trabalhosas demais, pode significar que o amor dessa dupla esteja a beira de um fim. Buscar ajuda terapêutica individual e de casal pode ajudar.