A Semana Santa se aproxima e muitos hábitos, junto da quaresma, são intensificados aos cristãos. Muitas igrejas, inclusive, possuem um calendário de programações diferenciado aos fieis afim de passarem uma semana de respeito, memória, fé e consagração. Em Cosmópolis, não é diferente, e mais do que isso, José Orlando Zorzeto, aos 74 anos de idade, relembra anos em que esta semana se tornou referência no município através de uma peça teatral.
O espetáculo consistia na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, onde Zorzeto fez o papel de Jesus Cristo em todas as peças.
De acordo com ele, “a peça já tinha se tornado algo cultural e muito tradicional em nossa cidade. Estaríamos hoje com um espetáculo de ‘Semana Santa’ maravilhoso, se não tivesse acabado”.
Ainda segundo José Zorzeto, a peça atraía milhares de pessoas e chegou a lotar o Ginásio de Esportes do município, acomodando mais de 4 mil pessoas, de várias cidades, que vinham para assistir o espetáculo. Relembre:
Preparação
“Os ensaios sempre aconteciam no salão paroquial mesmo. Quando se aproximava o mês de Janeiro, nós já começávamos a nos organizar e ensaiar para a apresentação de Semana Santa.
No último ensaio para o teatro, já tínhamos 120 pessoas empenhadas para esse espetáculo”.
Bastidores
“Nós nos ajeitávamos com as coisas nossas, era tudo nosso. Quem ajudou muito a nós, foi um homem que é conhecido como Borba. Ele era quem entendia. Havia as pessoas que faziam maquiagem, muita ajuda interna e externa, mas, todas as pessoas da comunidade, todas daqui. Tinha quem fazia roupas para nós, tinha quem trazia peças, quem fazia um chapéu, um turbante diferente… Houve o padre Angelo, na época, que nos incentivou a trabalhar bastante, locou tablados para o pessoal vir mais, entre outros. A coroa era realmente de espinhos, estava tudo certinho caprichado”.
O começo de tudo
“Quem começou mesmo foi a irmã Nazaré, que morava aqui. Começamos no Casco, em cima do caminhão, entrávamos no Casco e fomos crescendo, aumentando, trazendo tudo de melhor e aprimorando o espetáculo. A cada ano, foi crescendo mais e mais, e foi um tempo muito bom”.
Comoção
“O espetáculo era tão lindo, que pessoas de outras denominações e religião começaram a nos ajudar, porque viram que era um trabalho muito bem feito, organizado e muito bonito. Do bairro Nova Campinas mesmo, vinham 15 homens de lá para nos ajudar”.
O espetáculo
“Primeiramente, tínhamos só paixão e morte. Quando o espetáculo começou a crescer, passamos a fazer paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Os primeiro teatros começavam no Casco, e descíamos até a Igreja, representando o martírio que Jesus sofreu com a Cruz.”
Fez História
“Houve uma época em que a Prefeitura nos cedeu alguns caminhões de terra. Fizemos o monte realmente, já fizemos até chover em nosso espetáculo. Tudo acontecia no largo da Igreja Matriz. Assim, foi crescendo cada vez mais, até chegar no Ginásio de Esportes do município.
Foram quase 15 anos de espetáculo, e nos últimos, chegamos a lotar o Ginásio com mais de 4 mil pessoas na época. Vinham pessoas de fora, até da Capital, já estávamos virando referência na peça. Este trabalho era ligado ainda à Campanha da Fraternidade”.
Sábado de Aleluia
“No Sábado de Aleluia, fazíamos a ressurreição de Cristo. Montávamos um sepulcro vazio na Igreja e pedíamos para que os fieis passassem por ele. Depois, com efeitos de fumaça, fazíamos Jesus, representado por mim em peça teatral, sair do sepulcro”.
A emoção
“Já tivemos um testemunho muito bonito, de uma mulher que visitou Jerusalém e nos ligou dizendo: ‘Quando estive na pedra que Jesus chorou, eu me lembrei do teatro de vocês!’. Emociono-me até hoje, quando me lembro deste testemunho, as lágrimas correm sem pedir, é algo muito especial. Ela é uma pessoa que não tinha porque elogiar, mas, esteve lá e lembrou-se de nós, de algo muito bem feito”.
Neste ano
“Acho difícil acontecer algo do tamanho que foi nosso trabalho naquela época. Aqui em Cosmópolis, teve algo bacana no ano passado, depois de tanto tempo… Não sei se este ano a Igreja já possui programação para as próximas semanas de Semana Santa”.
Emocionado, José Zorzeto ainda relata que “é uma emoção que não dá para descrever. Realmente, não consigo encontrar palavras, principalmente, na Cruz… É uma experiência que poucas pessoas tiveram o privilégio, é muito gratificante mesmo!”.
O triste fim
“Como éramos ligados à Igreja, o Padre Eder, que na época, cortou as peças teatrais, nos abalou. Ao invés de nos desligarmos e continuar, nós não fizemos isso. Tanto eu quanto meu parceiro nos perdemos e, infelizmente, não demos mais continuidade a algo tão bonito”.