Piloto é enterrado em Cosmópolis com homenagens na terra e também no céu

Amigos sobrevoaram o cemitério, realizando acrobacias em homenagem ao cosmopolense morto em acidente aéreo

O corpo do Instrutor de Voo cosmopolense, Bruno Henrique Martins, foi enterrado na tarde de domingo (30), às 16h30, no cemitério municipal de Cosmópolis.

Imagem dos destroços do avião após a queda sobre uma região de mata, em Itapira. (Foto: Cedida pela família)

Bruno faleceu na sexta-feira (28), quando voava sobre a cidade de Itapira, durante um voo de instrução.
O jovem, que era cosmopolense, era considerado pelos amigos e profissionais como um piloto experiente. Ele prestava serviços para o Aeroclube de Campinas como instrutor de voo e também em simulador.
Ao todo, Bruno já tinha em seu currículo mais de duas mil horas de voo.
O voo de instrução saiu do Aeroporto dos Amarais, em Campinas.
Junto com o instrutor, estava o aluno que recebia as aulas, Thiago Félix Zvolanek, 22 anos, morador de Campinas.
Segundo informações, obtidas junto ao Departamento Jurídico do Aeroclube, Thiago também era um piloto experiente.
Além das mais de cento e quarenta horas de voo, Thiago também já tinha mais de trinta horas em simulador. Diante disso, ele já era considerado um Piloto Privado (PP). Com a conclusão de mais dez horas de voo, Thiago passaria para a categoria de Piloto Comercial (PC).

Imagem do site do Aeroclube de Campinas mostra a eronave, no hangar em Campinas. (Foto: AEROCLUBE DE CAMPINAS)

A aeronave, que era utilizada pelos dois durante a instrução, era um avião bimotor. Segundo o site do Aeroclube de Campinas, o avião PA30 – Twin Comanche é uma aeronave instrução do curso multimotor e teria alta performance de voo e grande estabilidade.
O avião tinha quatro assentos, um comprimento de pouco mais de 7,5 metros e uma envergadura de pouco mais de 9 metros.
Os dois motores, de 160 hp cada, podiam levar a aeronave a uma velocidade máxima de cerca de 370 km/h.
Com os tanques cheios, o avião teria uma autonomia de voo de 4h30.
Segundo o advogado do Aeroclube, Marcio Doná, o avião, que era operado pelo Aeroclube há vários anos, para as aulas de voo, estava com toda a documentação em dia, assim como a documentação do piloto e também do aluno.
Marcio ressalta que a aeronave era bastante segura e que, em 76 anos de história do Aeroclube, esse foi o primeiro acidente com óbito nesse tipo de aeronave, no Aeroclube.
Após abastecer a aeronave, Bruno e Thiago saíram para o voo de instrução e seguiram para a região de Itapira e Mogi-Mirim. No total, a aeronave teve os tanques de combustíveis completos com 76 litros de combustível. O documento de abastecimento foi encontrado pela mãe de Bruno, dentro de sua carteira, junto às roupas entregues pelo Instituto Médico Legal (IML).
No total, os tanques do combustível armazenavam 260 litros. As aeronaves saem do aeroporto sempre com os tanques cheios. Em média, o avião consumia cerca de 60 litros por hora de voo.
Por motivos que ainda serão esclarecidos, a aeronave caiu.
Os trabalhos de buscas pelos destroços começaram ainda na sexta-feira (28). O helicóptero Águia, da Polícia Militar (PM), foi utilizado.
No entanto, as buscas foram encerradas no início da noite. Um avião da Força Aérea também foi utilizado.
Na manhã de sábado, os destroços da aeronave foram encontrados, em uma região de mata, no município de Itapira.
Equipes do Corpo de Bombeiros foram ao local e efetuaram o trabalho de resgate dos corpos.
Peritos, do Instituto de Criminalística (IC), também foram ao local.
Investigadores do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) também estiveram no local da queda.
Em nota, o CENIPA se pronunciou sobre o acidente.
“O Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do CENIPA, realizou as ações iniciais no local do acidente no sábado (29/04). A investigação deve durar o menor tempo possível, embora não haja um prazo para a conclusão do relatório final”.
Após serem recolhidos, os destroços da aeronave foram guardados no Aeroclube de Campinas, inclusive, os dois motores.
Segundo o Aeroclube, uma perícia também foi pedida no combustível da Aeronave. Questionado sobre as causas do acidente, o Aeroclube disse que não tem hipóteses sobre as causas, que podem ser falhas humanas ou também no equipamento. Somente após a conclusão do laudo do CENIPA é que as causas da queda poderão ser apontadas.
Também foi aberto um Inquérito Policial, na Delegacia de Itapira. O Aeroclube informa que está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos. Inclusive, toda a documentação já foi apresentada para as autoridades competentes.

Sepultamento e homenagens
O corpo de Bruno foi levado para o Instituto Médico Legal (IML), onde foram realizados os exames necroscópicos. Depois, foi trazido para Cosmópolis, onde foi velado e sepultado no cemitério local.
Segundo a mãe de Bruno, a costureira Janete Barbosa de Santana Martins, a história de vida de Bruno sempre foi de sonhos e superação.
Segundo Janete, a família, que mora no Bairro 30 de Novembro, sempre apoiou e auxiliou Bruno durante os estudos para se formar piloto.
“No princípio, ele trabalhou em vários lugares, como autoelétrica, oficina de alinhamento e depois na refinaria. Tudo para estudar”, diz Janete.
Apesar dos esforços, a mãe conta que, muitas vezes, as pessoas acabavam desmotivando Bruno. Quando ele chegava em casa desanimado, era sua mãe que o acolhia no seu quarto e dava forças para que ele continuasse. “Ele chegava frustrado, deprimido, enfiava a cabeça no travesseiro porque a pessoa tinha rebaixado ‘ele’. Aí só eu tirava ‘ele’ dali”, completou a mãe.
Mesmo com as dificuldades e a ajuda de todos da família, os estudos continuaram.
Primeiro, de forma teórica e, na sequência, as aulas práticas.
Durante os estudos, a mãe contou que Bruno ia para as aulas utilizando um veículo VW Gol, que ele conseguiu adquirir.
Segundo a mãe, muitas vezes, Bruno salientava que todo mundo ia de carro zero e ele estava lá, firme com o seu ‘carrinho’. “A vontade de superação para conseguir se formar piloto era mais forte”.
As dificuldades para conseguir concluir os estudos passavam até mesmo pela parte de alimentação durante o curso. A mãe conta que “mandava um isopor com um pão com mortadela e uma caçulinha. Esse era o almoço dele enquanto os outros iam para a lanchonete. Eu falava: ‘Bruno, quando você estiver lá na frente, vai lembrar disso’”.
Após concluir a parte teórica, Bruno conseguiu concluir as provas teóricas e também oficiais da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Após passar nas provas e concluir os estudos, a mãe conta que ele conseguiu o trabalho no Aeroclube em Campinas e foi morar em um alojamento dentro do Aeroclube. Bruno trabalhava como instrutor de voo há mais ou menos três anos.
Janete se emociona ao recordar das homenagens que o filho recebeu durante o velório e também no sepultamento. “Eu não sabia que o meu filho tinha um coração desse tamanho. Não tinha dinheiro e era amado por tanta gente. Eles eram muito unidos, eram uma família”.
A mãe também contou que, após vencer essas dificuldades, Bruno já estava para ser chamado por uma grande companhia aérea.

O aluno Thiago Félix Zvolanek, 22 anos. (Foto: REDE SOCIAL)

Após passar por entrevistas em duas grandes companhias, ele já havia sido chamado por uma delas. Ele já tinha, inclusive, regularizado toda a sua documentação, como passaporte, que seria utilizado durante o trabalho.
A família recebeu a informação do acidente de Bruno ainda na noite de sexta-feira (28). Dois representantes do Aeroclube estiveram na cidade e comunicaram a família, que foi para Campinas, onde acompanhou os trabalhos.
Após concluir os trabalhos, na sexta-feira, a família ainda retornou com esperanças de que Bruno fosse encontrado com vida. Porém, na manhã de sábado, a notícia de sua morte foi confirmada.
Durante o sepultamento, que aconteceu na tarde de domingo (30), aeronaves com pilotos amigos de Bruno sobrevoaram o cemitério. Cerca de três aviões passaram sobre o local, realizando acrobacias, em homenagem ao amigo que estava sendo sepultado.
Bruno também praticava Karatê em uma academia da cidade. Os alunos dessa academia também homenagearam o amigo durante o sepultamento.
A história de superação de Bruno serviu como motivação para um primo, que também segue o caminho da aviação. Emocionada, a mãe do piloto mostrou uma pequena lembrança, um avião de madeira, que o primo pediu para guardar como lembrança do piloto morto.
Bruno era solteiro e deixou uma filha, de oito anos.

 

A dor da perda…

Não existem palavras, línguas, gestos ou pensamentos que possam expressar este sentimento chamado “A dor da Saudade”, para nós, esmero desmedido, cortando lenta e dolorosamente com o lado cego da faca.
A dor é somente dor, nada mais que dor. E não cede, não acalma, não dá trégua.
A alma se contorce, revolve, chora, berra e geme em lamentos surdos, que tomam o corpo, que fazem cambalear e entontecer o espírito. A dor da perda não tem som, não tem voz e invade o âmago do ser, silenciosa e cruelmente, fazendo doer e adoecer o corpo.
Vontade louca de voltar segundos, ou talvez milésimos deles, para gritarmos para o nosso filho: ‘Saia daí!; Não ande por essa rua!; Não entre nesse carro!; Desvie esse carro!’. Mais nada é possível. O sonho de que tudo seja mentira, que a notícia recebida foi engano, que o nome dito era homônimo. A mentira se fez verdade. Olhos que não abrem mais. Mãos que não afagarão mais. Voz que não dirá que está com fome ou que quer aquele doce que só você sabia fazer.
O momento de dor intensifica.
Devolver o filho amado. Devolver o que não quer ser devolvido.
E, agora, a foto do porta-retratos, que antes enfeitava o quarto, se transforma em altar sagrado da triste lembrança de que tudo realmente aconteceu.
Mas, Deus sabe de tudo. Ele nunca desampara um filho, ainda mais nessa hora, hora essa que Jesus também fez passar Sua mãe quando O retiraram da cruz e O colocaram em Seus braços. Deus sabe de tudo!
E Deus me diz: ‘Seu filho já está de volta a sua casa!’.
E a certeza de que ele foi apenas à frente nos faz crer que ainda fazemos parte desse jogo da vida, até Deus achar que atingimos nosso objetivo. Que Deus ampare todas as mães e pais que hoje choram ou irão chorar a ausência de um filho(a), dando a eles a certeza da vida eterna e do tão esperado reencontro.
Deus os abençoe!

Janete Barbosa
de Santana Martins,
mãe do Bruno Henrique