Por que?

Vou contar a história de uma guerreira para vocês.
Ela é minha avó, Amélia Zucaratto Pereira. Ela também era uma mãe para mim, morei muito tempo com ela. Nossa relação era muito importante e forte! Da mesma forma que eu sentia que ela me amava e me admirava; eu também tinha – não, eu ainda tenho – por ela os mesmos sentimentos.
Ela perdeu os pais, todos os irmãos, dois filhos, o marido, uma neta, enfrentava a dor de ter um filho que teve AVC e ficou com sequelas…
Mesmo assim, ela nunca perdeu a vontade de viver; cumpriu até o fim a missão dela aqui na Terra.
Tinha 85 anos. Alguns dizem: ‘nossa, ela já era velhinha’. Sei que todos nós nascemos, crescemos, desenvolvemos e morremos. Mas tem alguém aqui que quer morrer; que quer que alguém que nós tanto amamos morra? Eu tenho certeza que ninguém quer ou espera a morte com aceitação e serenidade… Só sei que há um meio de todos irem embora, por acidente, doença…
Minha avó adoeceu depois de ter ido ao posto de saúde fazer uma coleta de sangue. Ficou duas horas à espera por atendimento. O local estava lotado. Pegou uma gripe muito forte. Ficou três dias acamada, teve febre, mas depois se levantou… Só que ainda não estava bem, tinha náuseas, dores nas costas, quase não comia.
Foi ficando fraca e, na madrugada do dia 29 de maio, uma terça-feira, ela passou mal e foi levada à UUEC (Unidade de Urgência e Emergência de Cosmópolis), o ‘pronto socorro’ de Cosmópolis, também chamado de PAM (Posto de Atendimento Municipal). Foi aí que a falta de sensibilidade começou.
Já na chamada pela ambulância, o socorrista foi mal educado, fez questionamentos, não teve paciência alguma com quem estava do outro lado da linha pedindo socorro para uma idosa que não conseguia se levantar sozinha para ser levada à UUEC. E quando ele, o próprio e mesmo socorrista, chegou para buscá-la, de novo, não teve sensibilidade alguma perante a fragilidade da situação. Ficou bravo, discutiu, questionou porque foi pedido para que entrasse com a maca no quintal para removê-la até a UUEC. Com a ajuda de um neto e uma filha, ela foi levada até a porta da casa se arrastando, só porque ele disse que não foi avisado que ela estava acamada.
Já na UUEC, ela foi atendida, fez alguns exames. Ela ficou na maca, no corredor o tempo todo, logo na porta de entrada das emergências. Durante este período, sentiu vontade de ir ao banheiro, mas, não tinha forças pra sair dali. Eu já estava lá com ela. Chamamos uma enfermeira que, no corredor mesmo, entre homens e mulheres passando, colocou uma comadre nela – coitada, que vergonha minha avó deve ter sentido. Ainda bem que tínhamos levado uma mantinha pra ela se aquecer. Foi assim que protegemos a intimidade dela… Depois, pedi várias vezes pra virem retirar a comadre, mas, ninguém vinha. Teve uma enfermeira que até passava por nós de cabeça baixa, olhando pro outro lado, só pra não ser cobrada porque eu já tinha pedido duas vezes pra ela, e nada. Passado bastante tempo, muito tempo mesmo, conseguimos uma alma bondosa pra retirar.
O mais triste é que minha avó sentia muita dor nas costas, gemia, queria se movimentar naquela maca, mas, não podia por causa da comadre. Ela era pesada, tive medo de tentar retirar e machucá-la, mas, essa foi a minha vontade…
Ah, enquanto estávamos lá, um parto estava acontecendo. Todos direcionados para ajudar a criança nascer; não dava tempo de levar a mãezinha pra Paulínia. Nasceu ali mesmo, entre outros pacientes na mesma sala de emergência, onde uma senhora tinha falecido há bem pouco tempo – uma vida se foi e outra chegou. Após os gritos da mãe, o bebê nasceu e chorou… Ufa! Que alívio! Acho que estavam bem e logo foram levados de ambulância.
Quando os exames da minha avó ficaram prontos, um médico passava pelo corredor. ‘Doutor, os exames dela ficaram prontos. Por favor, o senhor poderia dar uma olhada?’. Ele olhou, fez jóia e saiu. Não voltou… Por que? Não sei também… Depois de tomar soro, ‘Tramal’ e ‘Plasil’, ela recebeu alta através de uma enfermeira; nenhum médico veio examiná-la. Disseram que os exames estavam ‘normais’, sem alterações.
Continuou do mesmo jeito em casa. Náuseas, não se alimentava e muita dor nas costas.
Na madrugada de sexta-feira (01), ela passou mal de novo. Foi chamada a ambulância. Incrível, veio o mesmo socorrista. Mas, agora, depois de termos reclamado para o coordenador da saúde, ele a tratou de outra forma, mais humanizada. Ela foi levada, atendida, coletaram sangue por volta de 4h. Estávamos esperando o resultado. Eram 9h, quando uma enfermeira questionou: ‘de quem é esse sangue aqui, quem pediu essa coleta’. Era da minha avó, ainda não tinha ido pro laboratório, e nem poderia ir, o pedido tinha sumido, ou ainda não tinha sido feito…
Minha avó já estava no oxigênio, respiração ofegante. Ficou assim o dia todo, pressão oscilando, com muita dor nas costas e náuseas; ela gemia. Ao fim do dia, deram uma injeção de morfina na jugular e a liberaram. Exames ‘normais’ de novo. Disseram que não era pneumonia. Ela chegou em casa ‘anestesiada’ pela morfina e com a respiração ofegante. Será que ela ainda precisava do oxigênio? Não sei. Não passaram instruções para termos um tubo em casa pra ela. Ela poderia ter recebido alta, se ficou o dia todo no oxigênio? Também não sei… Pediram para procurar encaminhamento para um especialista na segunda-feira.
Minha avó estava sob o efeito da morfina, pelo menos de dor ela não reclamava… Por volta de 3h da manhã, ela faleceu… Desistiu de viver!
Por que estou relatando esta história? Houve falha médica? Não sei… Só sei que Cosmópolis precisa de um hospital, um pronto socorro para dar atendimento digno às pessoas que aqui vivem e não têm convênio médico particular. Várias vezes, minha avó foi atendida e internada no antigo ‘Santa Gertrudes’. Posso afirmar [eu a acompanhava também] que o atendimento lá era muito melhor, e sempre pelo SUS.
A equipe que trabalha na UUEC não consegue dar conta da demanda de pacientes, o espaço é totalmente restrito, não há lençóis, travesseiros, cobertas – temos que trazer tudo de casa -, não há estrutura e recursos para atender a população que precisa de atendimento.
Há profissionais que trabalham, se doam para ajudar e amenizar a dor, mas, também há ‘profissionais’ que não sei porque resolveram seguir a área da saúde, que exige sensibilidade, amor e respeito, tanto por quem precisa de atendimento quanto pelos que estão acompanhando e querem que aquele ente querido tenha a dor e o sofrimento amenizados.
Aqui faço um apelo para que as autoridades se sensibilizem com o que está acontecendo. Também peço que a população reivindique um hospital para a cidade. Tomem iniciativa, pensem que, um dia, um de vocês também pode precisar de atendimento.
A UEEC foi criada de forma emergencial e provisória logo no início de 2017. E se estende até agora assim, provisória. Fazer vídeo comemorando que Cosmópolis agora tem hospital não ajuda, não resolve. A UUEC não é um hospital!

Luciana Aparecida Cazella D’Aolio, empresária, jornalista, cosmopolense e neta,
com muito orgulho,
de Amélia Zucaratto Pereira

Nota da Redação: Esta carta foi enviada à Assessoria de Comunicação da Prefeitura e a todos os Assessores dos Vereadores da Câmara Municipal, mas, nem todos responderam.
Acompanhe as respostas e manifestações abaixo.

 

PREFEITURA MUNICIPAL

“A Prefeitura Municipal de Cosmópolis entende a dor da autora e oferece condolências pela perda familiar.
As queixas foram repassadas à Secretaria Municipal de Saúde Comunitária. O atendimento humanizado na saúde, desde o recebimento da demanda até o atendimento final, é uma das bandeiras defendidas por esta administração. Por isto, o investimento na capacitação dos funcionários é constante.
Os investimentos na estrutura do Pronto Atendimento Municipal (PAM) também são constantes. Ele foi criado de forma emergencial para que os cosmopolenses não ficassem desamparados após o Hospital Beneficente Santa Gertrudes comunicar que não mais atenderia os pacientes do SUS.
Desde então, o local já recebeu uma expansão dos leitos de observação e diversas outras pequenas reformas para adequar a unidade a crescente demanda recebida e dar mais conforto aos pacientes.
As medidas cabíveis para que outros pacientes não tenham que passar pelo que foi relatado ao solicitar uma ambulância já foram tomadas. A administradora do PAM também será alertada para que as falhas apontadas no atendimento do local não se repitam.
A Prefeitura de Cosmópolis pede a todos que encontrarem problemas no atendimento, não só da saúde, mas em qualquer órgão ou repartição pública municipal, entre em contato com a Ouvidoria do município.
A Ouvidoria é um canal de comunicação dos munícipes com a Prefeitura. Ela recebe as manifestações dos cidadãos, analisa, orienta e encaminha às áreas responsáveis pelo tratamento ou apuração dos casos”.

 

DR. EUGÊNIO

“É impossível fechar os olhos para um relato tão fiel e emocionado.
Também é preciso uma posição oficial da Secretaria de Saúde e que essa denúncia chegue ao Conselho Municipal de Saúde.
O que mais incomoda é que a maioria das queixas em relação a Unidade de Urgência e Emergência demonstra a falta de estrutura do local e agora a olhos vistos até com itens básicos.
Até o momento, nem o Prefeito e nem o Secretário de Saúde conseguiram uma solução e apostam em um novo Hospital privado, que com previsões otimistas estará pronto no fim de 2019.
Continuo defendendo que as internações sejam no Hospital Santa Casa de Cosmópolis, antigo Hospital Santa Gertrudes, trazendo comodidade e humanização aos pacientes e reduzindo os gastos com o transporte para outras cidades”.

 

CRISTIANE PAES

“Luciana, acredite, o drama vivido por dona Amélia e sua família não reflete minha intenção, nem quando votei pela aprovação da criação da Unidade de Pronto Atendimento, nem como cidadã. Por isso e pela perda, ofereço meus mais sinceros sentimentos à família.
Cosmópolis precisava de uma alternativa viável, que não deixasse a população sem atendimento ou refém de um atendimento comprometido em vários sentidos, como vinha ocorrendo no então Hospital Beneficente Santa Gertrudes.
Mas, apesar de estar dentro das possibilidades financeiras do município, você tem razão em dizer que a UPA foi criada em situação emergencial e não ser um hospital. Precisamos mesmo de uma estrutura maior e melhor para atender a contento todas as demandas da população.
Portanto, dentro das prerrogativas de vereadora, além de cobrar esclarecimentos sobre o atendimento à dona Amélia, me comprometo a continuar na luta por recursos federais e estaduais para reforçar a estrutura de atendimento da saúde pública municipal de Cosmópolis”.

 

ANDRÉ MAQFRAN

“Eu, André Luiz Barbosa Franco, solidarizo com a família da Sra. Amélia Zucaratto Pereira. Sabemos das deficiências no serviços de saúde no que tange média e alta complexidade e falta de leito. Reafirmo o meu compromisso em busca de melhorias para a Saúde do nosso Município junto ao Executivo para que possamos juntos fazer o melhor para nossa população, pois, precisamos urgente de melhorias na mesma. Creio que poderíamos ter as duas unidades funcionando, o Pronto Atendimento com as urgências e o Santa Casa com os partos, cirurgias e internações para dar maior conforto e tentar dar uma saúde de qualidade aos nossos munícipes”.

 

ZEZINHO DA FARMÁCIA

“Respondendo o questionamento da leitora, realmente ela tem razão, hoje o sistema de saúde de Cosmópolis assim como de todo o país, está um caos, há muito o que se fazer.
Precisamos melhorar o espaço de atendimento assim como as internações, porém, não vejo alternativa a curto prazo para equacionar esse problema. Na minha opinão, se eu fosse o Prefeito, entraria com uma ação judicial, assumiria a administração do hospital Santa Casa de Misericórdia e trabalharia mais fortemente em prol da população que realmente, em alguns aspectos de sáude, está desassistida. Por outro lado, temos que ter em mente que as necessidades na área de saúde são ilimitadas, frente a recursos escassos.
Mas quem pode dar respostas a esses questionamentos são o Prefeito e Secretário de Saúde; o Vereador pode sugerir, fiscalizar, mas, ações são do Executivo”.

 

EDSON LEITE

“Primeiramente, quero externar meus sentimentos à família da Dona Amélia Zucaratto Pereira, pelo seu falecimento.
De fato, infelizmente, a Saúde do nosso município tem passado por fases muito delicadas, de readaptação constante. Sabemos que, em muitas cidades, a situação da Saúde também enfrenta enormes dificuldades, seja no tocante ao atendimento ou falta de recursos financeiros para sanar problemas de equipamentos e de pessoal.
No entanto, a vida tem que ser prioridade, sempre! A Saúde deve estar pautada sempre como prioridade. Tenho lutado incansavelmente, cobrado melhorias na qualidade da Saúde para nossa população. Confesso que não tem sido fácil, mas minha vigília, cobrança, exigências têm sido desafio constante.
Continuarei atento e disponível para auxiliar no que estiver ao meu alcance sempre.
E repito: Nossa Saúde tem espaço pra melhorar. Merecemos uma melhor Saúde para nossa população.
Somente a participação popular é a melhor das ferramentas para se melhorar esse serviço”.

 

RENATO TREVENZOLLI

“Cara Luciana, solidarizo-me com sua dor e com a indignação com o tratamento recebido por sua avó, dona Amélia. É muito triste, para qualquer pessoa e, sobretudo para uma idosa, passar por constrangimentos e sofrimento desnecessário em um momento de fragilidade e dor. Um tratamento digno é o mínimo que se espera para nossos entes queridos.
Contudo, já fiz praticamente tudo que estava ao meu alcance como Vereador, com o intuito de sensibilizar o nosso Prefeito com relação à necessidade, e também aos benefícios, de se firmar um convênio com a Santa Casa de Misericórdia de Cosmópolis (antigo Hospital Beneficente Santa Gertrudes), que dispõe de melhor estrutura para atender nossos munícipes, principalmente no que tange às internações e atendimentos de urgência e emergência.
Com toda a certeza, irei continuar lutando por essa causa, que é de todos os cosmopolenses que não possuem convênio médico e dependem do SUS.
Apresento meus sinceros sentimentos à família, lamentando profundamente o ocorrido”.

 

RAFAEL PIAUÍ

“Meus sentimentos à família pela perda da Sra. Amélia Zucaratto Pereira. Sabendo das deficiências no serviço de saúde no que tange média e alta complexidade, reafirmo meu compromisso em busca de melhorias para a Saúde do nosso município”.

 

ELIANE LACERDA

“Me solidarizo com a família da Sra. Amélia Zucaratto Pereira. Sabendo das deficiências no serviço de saúde no que tange média e alta complexidade, reafirmamos nosso compromisso em busca de melhorias para a saúde do nosso município”.