O professor cosmopolense Tiago Bodê é o orientador de um projeto educacional que terá um experimento enviado para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), no próximo ano.
O experimento foi realizado por alunos do sétimo ano, de uma das escolas mais conceituadas e tradicionais de São Paulo. Além dos alunos da escola particular, participaram do projeto alunos de uma escola pública e também de um Ong (Organização Não Governamental), que trabalha com crianças carentes.
Dos três trabalhos finalistas, dois deles foram orientados por Tiago. Desses, um deles, que trata sobre o processo de construção de edificações no espaço.
Student Spaceflight
Experiments Program (SSEP)
O Student Spaceflight Experiments Program (SSEP) é um programa, dentro da Agência Espacial Americana (NASA), que estimula a produção de trabalhos nas áreas de ciências, engenharia e matemática por estudantes.
Segundo o Professor Tiago, “é um programa destinado para a educação. Eles selecionam projetos, que tenham ligação com ciências e educação, no ensino básico, e aí, desses selecionados, os escolhidos são enviados para a Estação Espacial”.
Tiago também ressalta que essa é a primeira vez que o projeto é expandido para países fora da América do Norte. “A coisa mais importante para o Brasil é que nenhum país fora da América do Norte teve a oportunidade de participar. É a primeira vez na história”, completou tiago.
Construções no Espaço
O projeto escolhido e que será encaminhado para ser executado na Estação Espacial Internacional está relacionado ao processo de construção de habitações no espaço.
Após o convite para participarem do SSEP, os projetos tiveram que ser elaborados em apenas nove semanas.
No total, mais de trezentos alunos participaram, divididos em grupos. Alunos de uma instituição de Paraisópolis, outros de Cotia e também da escola onde Tiago leciona, participaram da elaboração dos projetos.
Do trabalho dos alunos, resultaram setenta e três projetos. Desses, dez projetos estavam sob a orientação de Tiago e, por fim, três foram os finalistas enviados para a avaliação do SSEP.
O projeto vencedor, que agora será enviado para ser executado no espaço, diz respeito ao processo de construção no espaço.
“Aqui na Terra, quando você constrói uma casa, alguns problemas você não tem porque em volta da Terra existe uma camada protetora, principalmente, contra a radiação cósmica. No espaço, não temos essa proteção. Quando o astronauta vai para o espaço, ele não pode ficar muito tempo e a chance de voltar com um câncer é muito alta. Porque ele está exposto à radiação cósmica, mesmo com toda a proteção existente na Estação Espacial”, explicou Tiago.
Diante desse problema, os alunos desenvolveram um cimento, que será misturado a um componente plástico. Com isso, os alunos esperam que haja um bloqueio da radiação cósmica, viabilizando as construções.
“Eles descobriram que, na Estação Espacial, existe uma impressora 3D, que usa um tipo de plástico. Os alunos começaram a pesquisar e descobriram que esse tipo de plástico tem uma proteção muito grande contra a radiação.
Então, a ideia deles é fazer uma liga, um concreto, que tem, além do cimento, esse plástico, criando uma estrutura protetora contra a radiação cósmica”, completou Tiago.
O professor também explicou que o tipo de plástico usado nessa impressora 3d é um produto brasileiro. “A estação espacial usa nas impressoras 3d um material brasileiro que, inclusive, vem da cana-de-açúcar. Uma empresa brasileira produz a partir da cana”.
Serão realizados dois experimentos iguais. Um deles será enviado para ser executado no espaço seguindo um protocolo desenvolvido pelos alunos. O outro, chamado de controle, ficará na Terra e será executado ao mesmo tempo.
Quando o experimento voltar do espaço, será possível comparar os resultados obtidos no espaço, com aquele que ficou em Terra.
Aprovação do projeto
Após o envio dos projetos para a SSEP, demorou cerca de um mês até os alunos receberem o resultado que o projeto deles foi o escolhido.
Agora, no próximo ano, os alunos que participaram do projeto irão até os Estados Unidos, onde poderão acompanhar o lançamento da espaçonave que levará o projeto para a Estação Espacial.
Além disso, os alunos também participarão de um congresso, com alunos canadenses e americanos que participaram do projeto.
“Até o dia 22 de janeiro, para deixar o projeto com o máximo de detalhamento e refinamento possível. Depois disso, esse experimento vai para análise e testes e aí ele vai para o lançamento”.
O projeto brasileiro faz parte da 12ª Missão. O congresso reunirá todos os alunos aprovados nesta missão.
Tiago Bodê
Tiago Bodê, 32 anos, é cosmopolense e teve o interesse pela ciência despertado ainda na infância. Foi aluno da EMEB Rodrigo Octávio Langaard Menezes e também do GEPAN.
Estudou Ciências Biológicas na Unesp até conseguir uma bolsa de estudos na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, onde completou o curso superior.
Depois, fez o mestrado na Universidade de São Paulo (USP), na área de ensino de Ciências. Agora, também na USP, cursa o Doutorado, também na área de ensino de Ciências.
Gazeta de COSMÓPOLIS: Como foi a sua formação educacional?
Tiago Bodê: Estudei no ‘Rodrigo’ até a quarta série e depois fui para o GEPAN. Estudei no GEPAN até o último ano do ensino médio. Estudei minha vida inteira em escola pública.
Aí, no último ano do Ensino Médio, consegui, no meio do ano, uma bolsa para estudar em Holambra, em uma escola particular. Terminei o estudo e fui prestar vestibular, mas, não passei.
Fiz dois anos de cursinho em Paulínia, em um cursinho público. Vendia trufas para pagar o transporte e estudei lá dois anos.
Prestei vestibular, fiquei bem próximo da aprovação, mas, não passei. Consegui uma bolsa em um cursinho em Cosmópolis.
Sempre prestei vestibular para Ciências Biológicas. Tentei uma vez, não consegui. Tentei uma segunda vez, também não consegui. Aí, tentei a terceira vez e passei. Passei na Unicamp, passei na USP e na Unesp.
Aí fui pra Unesp. Depois, eu fui pra Unicamp e fiquei mais ou menos dois anos pra fazer uma parte do curso aqui (na Unicamp). Nesse meio tempo, consegui uma bolsa para a universidade de Birmingham, na Inglaterra.
Era uma bolsa do Conselho Britânico. Eles abriram uma vaga, eu me candidatei, consegui a bolsa e fui.
Na sequêcia, voltando de lá, prestei o mestrado na USP e concluí. Agora, prestei o Doutorado também na USP.
Tanto o mestrado quanto o douturado foram na área de ensino de Ciência. Entrei para trabalhar com educação e para trabalhar com Ciências com os alunos, como eu posso pegar a ciência como instrumento social e trazer para a vida do aluno.
Gazeta de COSMÓPOLIS: Como você vê os desafios que um aluno de escola pública tem para se interessar por Ciências?
Tiago Bodê: Eu, como vim de uma escola pública e vivi a escola pública, posso dizer que, por mais que eu tinha condições adversas, que foram condições difíceis, que me mostravam que não era possível, eu sempre acreditei muito que era possível. Isso foi algo muito difícil. Eu sempre fiz tudo na minha vida, me dediquei ao máximo para conseguir. Então, eu me dediquei ao máximo para conseguir.
Existem várias instâncias, e eu acho que na instância pessoal é isso: o aluno não pode desistir nunca. Esse é o primeiro passo.
Sempre têm críticas à escola pública, dizendo que a escola pública não funciona e que os professores não são bons e coisas do tipo.
Eu gostaria de aproveitar esse espaço para agradecer alguns professores das escolas públicas porque, mesmo ganhando mal, mesmo em condições absurdas de trabalho, foram professores que eu vi que deram a vida para fazerem um trabalho lá. E esses professores me ajudaram muito. Eu só consegui fazer o que eu estou fazendo agora porque tive professores nesses espaços que acreditaram.
Gazeta de COSMÓPOLIS: Quando surgiu o interesse pela Ciência?
Tiago Bodê: Uma das coisas que me fez interessar por Ciências é um seriado chamado ‘O mundo de beackman’. Eu lembro que, na primeira vez que eu assisti, vendo aquele cientista fazendo aquelas coisas malucas, eu pensei: ‘Nossa, que legal, que engraçado aquilo’.
Me lembro do primeiro conceito que eu aprendi que foi um conceito de atrito que ele fez em uma aula.
Dali eu comecei a assistir os outros vídeos e comecei a me encantar por Ciências.
Em casa, eu peguei no forro de casa, limpei e fiz um minilaboratório lá.
Aí, eu peguei um livro na escola que tinha alguns experimentos e eu queria fazer tudo que estava lá.
E foi nesse processo de encantamento com o seriado e fazer essas experiências em casa, que eu comecei a me apaixonar pela Ciência.
Gazeta de COSMÓPOLIS: Como se tornou professor de Ciências?
Tiago Bodê: Eu entrei pra fazer Ciências Biológicas e aí, dentro do curso, nas universidades que eu estudei, você não encontra muitas pessoas vindas de escolas públicas.
Na minha sala, por exemplo, tinha cinquenta alunos e, desses, só eu e mais uma pessoa éramos de escola pública.
E aí eu comecei a ficar incomodado com isso. Eu estava em um lugar que era para todo mundo estar, que era um lugar público, e não estavam.
É claro que estava feliz de estar ali, mas, ao mesmo tempo, eu ficava muito incomodado.
Nós temos um número muito maior de escolas públicas do que particulares. E nós temos uma representação muito pequena.
Então, eu falei, agora, eu quero seguir a educação e a Ciência e participar de projetos.
Estação Espacial Internacional
Estação Espacial Internacional (EEI), (em inglês: International Space Station, ISS), é um laboratório espacial completamente concluído, cuja montagem em órbita começou em 1998 e acabou oficialmente em 8 de junho de 2011.
A estação encontra-se em órbita baixa (entre 340 km e 353 km), que possibilita ser vista da Terra a olho nu, e viaja a uma velocidade média de 27 700 km/h, completando 15,77 órbitas por dia.
A estação é utilizada continuamente para realização de experiências científicas (algumas cuja realização na superfície terrestre seriam de elevada dificuldade, mas de relativa facilidade em órbita). Atualmente, a estação está pronta para suportar tripulações de seis elementos.