Professores falam sobre as dificuldades do ensino a distância e a reinvenção da rotina diária

Tecnologia tem contribuído com o contato entre professores e alunos através de grupos e redes sociais

Após a suspensão das aulas presencias, professores e alunos tiveram que lidar com algumas dificuldades no ensino a distância. Alguns professores do município contam suas experiências para se adequarem a uma mudança histórica para enfrentar o isolamento e levar conhecimento com conteúdo diferenciado aos alunos. Confira.

Ana Cristina de M. Bernacchi
Professora de Química e Educação Infantil
E.E. Dr. Paulo de Almeida Nogueira
EMEB Esther Nogueira
Dificuldades
“Os maiores desafios enfrentados pelos professores no ensino remoto é a dificuldade de contato e engajamento dos alunos e/ou responsáveis, assim como a dificuldade destes em acessar as plataformas educacionais, onde as aulas são disponibilizadas ou onde as aulas acontecem, e a falta de material tecnológico, tanto para os alunos, como para os professores”, explica a professora.
Tecnologia
“A tecnologia facilita, sim, sem dúvida, pois, sem ela, nosso trabalho estaria mais prejudicado do que ficou este ano, porém, temos que levar em consideração o fator primordial de que muitos não têm acesso à tecnologia e a internet, por isso, as escolas têm se desdobrado para procurar esse aluno e engajá-lo no ensino remoto”.
Diferenças no EAD
“Eu sou professora de Ensino Médio e Educação Infantil. Então, falando desses segmentos, percebo que a maior diferença é que os adolescentes possuem maior autonomia para realizar as atividades, porém, precisam da supervisão dos responsáveis porque desistem com facilidade. Já as crianças dependem totalmente dos pais, tanto para buscar/acessar as atividades como no auxílio para desenvolvê-las”.
Aulas presenciais
“Como professora há 27 anos, sinto falta das pessoas, principalmente, dos meus alunos, porque escola é vida, é agitação, é contato, é interação, é alegria e, de repente, tudo isso teve que parar e a escola passou a se resumir a uma tela, onde só existe uma pequena interação e onde a saudade só aumenta”, finaliza.

Paulo Jeovani dos Santos Junior
Professor de Música
EMEB Rodrigo O. L. Menezes
Mudança na Rotina
“Com certeza, a principal mudança é passar a maior parte do tempo em casa e não ter contato com os alunos de forma presencial”, conta o professor.
Dificuldades
“Uma das dificuldades é não ter como auxiliar presencialmente o aluno e depender da intermediação dos pais para a realização da atividade. 90% das vezes, eles não têm o preparo didático adequado para auxiliar e não sabem como ajudar. Fora os que não têm tempo e o aluno fica sem fazer.
Aulas presenciais
“Além do contato carinhoso dos alunos, sinto falta da possibilidade de fazer as intervenções pedagógicas adequadas, para cada turma e para alunos individuais”.
Tecnologia
“Sem dúvidas, em relação a tecnologia, o maior ganho foi um contato mais direto com os pais e mães dos alunos – isso foi positivo”.
Alunos
“Para os alunos, a maior dificuldade é realizar as atividades. Muita coisa precisa dar certo pra isso acontecer, empecilhos que antes não existiam. A atividade precisa chegar ao aluno, por meios digitais, e sabemos que o acesso não é democratizado. Nem todos os pais têm disponibilidade para pegar as atividades para os alunos. Os pais precisam ter tempo para realizar as atividades junto com os filhos, porque eles não têm autonomia para fazer por conta. Então, muita coisa pode dar errada no caminho. Fatores que nenhum professor controla”, finaliza o professor.

Bruna Poliana Souza Hammam
Professora de Educação Especial
APAE
Rotina
“Não houve muitas mudanças em minha rotina, pois já estou habituada a trazer parte do meu trabalho para casa, também já reforçava nos estudos do meu filho. A diferença é que tenho sido a professora dele também. Assim como muitas mães, donas de casa, que também são professoras, a rotina sempre foi muito agitada. Mas, acredito que o maior desafio é se manter em isolamento social. As crianças cobram atenção o tempo todo, meu filho é único e não ter uma outra criança para brincar tem sido frustrante para ele”, conta a professora.
Dificuldades
“Neste período de pandemia, o desafio começou em criar conteúdo para enviar às famílias, gravar vídeos para orientar os alunos na realização das atividades e demonstrar técnicas de aplicações aos pais. A maior dificuldade foi receber o feedback instantâneo dos pais, ter a atenção dos alunos nas atividades. Em relação aos alunos, a maior dificuldade é se manter em isolamento social. Principalmente, para os autistas, este ano foi um retrocesso para seu desenvolvimento, pois, sabemos que uma das comorbidades do autismo é o retraimento interior, de uma escassa interação com o mundo externo. Alguns estão em situação depressiva, pela difícil aceitação da mudança na rotina. A utilização da máscara também é uma dificuldade da família, pois o autista tem muita sensibilidade sensorial – manter a máscara no rosto causa agitação, incômodo”, explica.
Tecnologia
“A tecnologia tem facilitado o contato de professores e alunos, através do grupo da sala, no WhatsApp, e me ajudou a estabelecer um vínculo com as famílias, pois estive diariamente enviando vídeos, recados, demonstrei como o trabalho na escola é desenvolvido, conversamos sobre as expectativas, etc. Essa comunicação da família com a escola é muito importante para o desenvolvimento do aluno. Sempre digo, se a família, o professor e toda a equipe multidisciplinar estiverem na mesma sintonia, conversando para juntos encontrarmos intervenções melhores para os alunos, conseguiremos resultados positivos”, finaliza Bruna.

Edi (Ya) Rodrigues da Trindade
Professor da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
E.E. Dr. Paulo de Almeida Nogueira
E.E. Célio Rodrigues Alves
Dificuldades
“Na condição de formador, observei que as dificuldades enfrentadas pelos professores e alunos têm sido em lidar com a rotina, a pandemia nos fez reinventar para trabalhar com as aulas remotas. Dificuldade de acesso a internet por parte dos alunos, somos país de terceiro mundo, carente, algumas regiões quarto e quinto mundos, e se torna difícil lidar com as novas tecnologias em lugares onde não chega a internet e o aluno tem que se deslocar de sua residência para levar trabalho físico à escola frente a pandemia provocada pela COVID-19. O WhatsApp tem sido a salvação dos brasileiros, barato, de fácil acesso e rápido para as informações chegarem”, conta o professor.
Aulas presenciais
“O que mais sinto falta é a presença física dos colegas de trabalho e dos alunos, não tenho nenhum desejo de ser um mal necessário, entretanto, o momento presente é de afastamento social”.
Tecnologia
“A tecnologia tem nos ajudado em vários aspectos, o acesso às mídias disponibilizadas gratuitamente pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para os gestores, professores e alunos, as quais cito: Centro de Mídias de São Paulo, pelo aplicativo de celular e computador; o Google Meet para as aulas remotas; dentre tantas outras muito conhecidas pela sociedade que são de uso comum de todos nós, como o Facebook, Instagram, etc.”, finaliza.