Projeto orientado por professor cosmopolense é premiado na maior feira de ciências do mundo

Tiago Bodê foi responsável pela elaboração de um projeto ligado ao ensino de astrobiologia utilizando equipamentos de alta imersão

Tiago e Henrique fizeram parte da delegação brasileira no evento

Em maio deste ano, Tiago Bodê, que atualmente está desenvolvendo seu doutorado na USP, com parte da sua pesquisa na Columbia University, em Nova York, além de uma especialização em Inovação e Tecnologia no Instituto de Technologia de Massachusetts – MIT (USA), pode orientar seu aluno Henrique Amorim em uma pesquisa científica que foi premiada como o terceiro melhor projeto do mundo na categoria de Systems Software.

Em anos anteriores, o professor, ex-aluno da Escola Estadual Dr. Paulo de Almeida Nogueira, o Gepan, já havia orientado outros projetos que foram premiados em diversos meios científicos. Entre eles, o que mais se destacou com repercussão nacional, aparecendo em diversos veículos da mídia tradicional, foi um projeto que foi selecionado pela NASA para ser enviado e controlado por astronautas da Estação Espacial Internacional – ISS: o maior laboratório científico no espaço, com o tamanho aproximado de um campo de futebol americano, que fica girando na órbita da Terra. Foi a primeira vez que um país de fora da América do Norte havia sido selecionado para uma missão.

Esse projeto remete à radiação cósmica, que é altamente prejudicial aos astronautas que passam muito tempo em órbita, mesmo estando dentro das cápsulas espaciais, podendo resultar em câncer e até mesmo em mutações ao DNA humano. O intuito era desenvolver um material que pudesse proteger as pessoas da radiação. Seus alunos descobriram um material brasileiro, um tipo de plástico extraído a partir da cana de açúcar, já utilizado pelos astronautas em impressões 3D, que é capaz de atenuar drasticamente o nível da radiação cósmica. Devido ao sucesso do projeto, atualmente, existem estudos que planejam implementar o material no revestimento interno das estações espaciais.

O projeto mais recente orientado pelo professor alcançou o terceiro lugar na área de Sistema de Software, na maior feira de ciências do mundo, realizada em Atlanta, capital do estado da Geórgia, nos Estados Unidos, a ISEF (Regeneron International Science and Engineering Fair) ou Feira Internacional de Ciências e Engenharia. Bodê e seu aluno, Henrique Amorim, já ganharam mais de 20 prêmios nacionais e internacionais. Os dois fizeram parte da delegação brasileira na feira, que também foi composta por outros membros, que apresentaram diversos projetos em diversas categorias. No evento, foram apresentados mais de 1800 projetos, elaborados e representados por delegações científicas de 63 países.

“Durante o evento científico, concorremos com muitos pesquisadores e representantes de empresas e laboratórios de grande destaque no desenvolvimento científico e tecnológico, tais como a Apple e a Microsoft… além disso, se considerarmos a condição de estrutura e investimento que temos aqui no Brasil, o desafio foi ainda maior. Nesse cenário, acreditamos que a premiação é um grande feito para a ciência brasileira.

O projeto está baseado no desenvolvimento de um metaverso para a educação. Usando as tecnologias de alta imersão por intermédio das ferramentas digitais, especificamente os óculos de realidade virtual, uma pessoa pode emergir em um novo ambiente, como se estivesse em uma outra realidade. Por meio dessa simulação ultrarealista, o usuário vai para um futuro em que o planeta Terra está passando por um colapso ambiental e a vida está perto de se tornar extinta. Na história, um grupo de pesquisadores brasileiros é enviado ao espaço para que seja encontrada alguma outra forma de vida, ou algum novo refúgio para a humanidade. Durante a interação no metaverso, a ideia é que o jogador possa usar e aprender conteúdos, além de desenvolver habilidades e competências científicas que são fundamentais no ensino básico. Desse modo, o estudante pode explorar o planeta e resolver problemas, baseados em conceitos pedagógicos, para tentar salvar a humanidade. Basicamente, é um jogo dentro de uma realidade virtual, que procura tornar mais interessante e estimulante o aprendizado na área de astrobiologia. Para Bodê, “essa perspectiva pedagógica pode contribuir significativamente para o desenvolvimento da autonomia, do letramento digital e da alfabetização científica, aspectos fundamentais para uma educação crítica e emancipatória”.

Para concluir o projeto, Bodê ressalta que o investimento e a estrutura do Colégio Dante Alighieri, instituição em que trabalha e que foi fundada há mais de um século por imigrantes italianos, localizada na cidade de São Paulo, foi muito importante. Segundo ele, ações que valorizem o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país são fundamentais. Através delas, podemos construir uma sociedade mais consciente, autônoma e democrática. “O meu aluno Henrique não é um gênio que estava sentado debaixo de uma árvore e que teve uma ideia brilhante. Isso não passa de mito. Ciência de verdade se faz com curiosidade, investimento e muita dedicação. Conheci muitos alunos curiosos e criativos como o Henrique quando estudava no Gepan. Uma galera incrível, super boa e professores muito dedicados. A diferença não está na capacidade, no potencial ou na força de vontade… um dos grandes problemas que temos é falta de valorização da educação e de investimento público. Com mais investimento, certamente teríamos muito mais pessoas se tornando grandes cientistas, como esse meu aluno”, conclui o professor.