Essa pergunta não é nada incomum na vida de um psicólogo. Por muitas razões, existe no imaginário das pessoas que um psicólogo é alguém que se opõe a Deus de certo modo. Creio que esta visão tenha suas origens nos fundamentos da psicanálise, ou também encontre eco em alguns princípios do cientificismo moderno. Seja qual for a razão, considero importante expor minha experiência pessoal, nada além disso.
Não falo em nome da psicologia, nem da ciência, nem de nada nem ninguém a não ser de mim mesmo. Eu meu nome eu posso dizer que ser psicólogo e trabalhar com a ciência não exclui uma vida de princípios religiosos, ao contrário, de acordo com a ética cristã, o respeito ao próximo é uma base segura para qualquer tipo de relacionamento interpessoal.
O que eu sei é que essa nossa modernidade já passou dos limites há muito tempo, sempre pregando um ateísmo barato e fácil, uma espiritualidade customizada de acordo com a necessidade do cliente, isso sim tem sido objeto de grande crítica por parte dos seres pensantes, independentemente de suas profissões. Médicos, psicólogos, jornalistas, advogadas, empresários, operários, enfim, todas as áreas, todas as profissões expõem pensamentos de preocupação com essa onda de relativização de tudo, dos valores, dos princípios. Isso não implica em ser “moderno”, mas, na maioria das vezes, em ser apenas besta mesmo.
Fonte bibliográfica: qualquer livro de Bauman. Mas independentemente do que diz um sociólogo você pode fazer sua própria pesquisa empírica ao olhar ao seu redor e constatar que muito embora nós estejamos em tempos de relativa fartura das coisas, bens, serviços, etc., também estamos diante de dilemas cruciais, tais como: crise profunda na experiência do sentido da vida, crise profunda nas relações interpessoais expressa de modo triste através de brigas políticas que em nada acrescentam a ninguém.
E o psicólogo no meio disso tudo ouvindo seu cliente se queixar de um mundo que não faz sentido, de relações que se desfazem num passe de mágica, ou da falta dela, enfim, no consultório somos confrontados com o outro lado desse “admirável mundo novo”, e é ali que necessitamos transmitir mais que um simples código teórico, é ali, na prática sagrada da clínica que temos a oportunidade e a graça de transmitir que a psicologia, embora reduzidíssima pelo espírito da modernidade, ainda aponta o caminho de sua origem, a alma humana. Simples e complexa, santa e pecadora, efêmera e imortal.
Psicólogo acredita em Deus?
2 de outubro de 2020 Variedades
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