No ano passado, com as restrições da pandemia, as famílias brasileiras mergulharam numa nova e inesperada realidade: o isolamento social. Isto trouxe alguns ganhos por um lado no tocante à proteção contra o contágio do vírus que ainda assusta o mundo todo. Mas, por outro lado, também trouxe inúmeras outras consequências para as quais ninguém estava preparado; o convívio doméstico foi afetado, a permanência de várias pessoas da família na casa ao mesmo tempo, as adaptações para o trabalho em casa (home office), as aulas das crianças, a falta de atividades recreativas externas, entre tantos outros aspectos que estiveram presentes durante todo o ano de 2020.
Podemos dizer que o ano de 2020 marca o início de novos tempos, um marco em nossa história de cultura e civilização. Isto porque o mundo todo foi obrigado a rever seus costumes, hábito, ideias, comportamentos, planos etc. Uma mudança assim, nesta proporção, afeta diretamente o comportamento dos indivíduos, de diferentes maneiras. Uma coisa é certa: não mudamos para melhor. De acordo com os dados das pesquisas na área da saúde mental, por exemplo, houve um expressivo aumento dos casos de transtornos mentais, desde os mais leves e comuns, até aos mais graves e incomuns. Prova disso é o faturamento da indústria farmacêutica que, assim como muitos outros setores, obtiveram significativo aumento de seus lucros.
Neste artigo, chamo a atenção para o “adoecimento” pelo qual muitas famílias e casais vêm passando. Na maioria dos casos, de modo despercebido até, tal é a sutileza do problema. Os grandes conflitos interpessoais começam sempre silenciosamente, e vão evoluindo aos poucos, ganhando força e poder, até não poderem mais serem contidos de modo a esconder ou mascarar o problema. Nessa fase, costuma eclodir disputas, conflitos, brigas, ofensas e xingamentos, o que dificulta, ou até mesmo impede, uma visão mais clara e uma postura mais saudável frente aos mesmos.
As famílias se viram frente a grandes desafios porque as relações interpessoais estiveram à prova o tempo todo. De um lado, um ambiente pouco estimulante, até mesmo entediante; de outro, possíveis escapes para o mundo digital como forma de fugir das questões que surgiam. A tecnologia que se apresentou a nós cidadãos da modernidade como a grande amiga tem também um lado bem sórdido e doentio; atrofia o cérebro quando utilizada de modo errado e em demasia. Esse atrofiamento cerebral pode ser comparado a um tipo de demência precoce. Um tipo de retardamento progressivo e voluntário que muitas vezes nós mesmos fazemos questão de manter em nossa vida, ignorando, é claro, os terríveis efeitos dessa atitude.
Assim, a terapia de casal e família se apresenta mais uma vez ao mundo social como um caminho possível para a pacificação dos relacionamentos. Um caminho natural de entendimento e enriquecimento na comunicação que pode devolver aos envolvidos nas tramas emocionais e afetivas presentes nos agrupamentos humanos, uma luz calma e serena a conduzir de modo seguro e promissor os que ainda acreditam uns nos outros.
Natal Marsari – Psicólogo
CRP: 06/61754