Quadros que retratam a história de Cosmópolis marcaram seu primeiro ano na Secretaria de Cultura

Para aqueles que entram na Secretaria de Cultura de Cosmópolis fica impossível não notar os quadros de fotos antigas da cidade que José Honorato Fozzati colecionava. Esses quadros estão espalhados ao longo de todo o prédio. “Quando recebemos as fotos, mesmo não tendo espaço o suficiente, pensei que não poderíamos receber e deixar numa caixa. Sendo assim, penduramos em todas as paredes que tínhamos aqui, espalhando pelos corredores”, conta a funcionária da Secretaria de Cultura, Bernadete Gasparotto.
“Fotos são histórias vivas. Olhando para uma foto, eu imagino quem tirou, qual foi o olhar da pessoa quando tirou a foto, que história ela quer contar para a posteridade, quem são as pessoas que estavam na foto e o porquê da foto” – é assim que Bernadete define seu sentimento ao olhar para as paredes repletas de fotografias, que já comemoram um ano desde a doação para a Secretaria.
Bernadete conta que os quadros chegaram por meio de uma doação após a morte de José Honorato, quando foi feita a reforma no escritório de contabilidade Ecin, no qual ele era sócio.
A advogada, contadora e sócia do Ecin, Vera Beatriz Curiacos Nallin, explica que a reforma se deu, pois, a estrutura do prédio estava precisando de uma nova pintura nas paredes. Com isso, ela explica que foi preciso tirar os quadros temporariamente das paredes.
Pensando na nova estrutura do escritório, Beatriz diz que pretendia dispor um novo espaço, porém, reduzido, para os quadros. “Eu gostava dos quadros, mas, era mais o estilo dele. Eu ganhei um quadro dele, inclusive, que guardei em minha casa”, conta a sócia.
Entretanto, após a retirada dos quadros para a reforma, a família de José Honorato decidiu doar todo acervo para a Secretaria de Cultura. “O pessoal da Cultura foi muito generoso conosco, porque tudo aconteceu muito rápido. Foi bastante doloroso, mas, saber que o acervo está tendo esse valor até hoje, nos deixa muito emocionados”, conta Mariana Fozzati, filha de José Honorato.
Ela afirma que ter os quadros expostos ao público é a realização de um sonho. “Temos certeza de que era isso o que ele queria, ele fazia questão de passar às pessoas as informações históricas que ele tinha”.
Fozzati guardava todas as fotos com muito carinho, conta Mariana. Além disso, ela afirma que ele fazia questão de expor os quadros onde o máximo de pessoas pudesse ver. Na época, era no escritório. “Ele deixou exposto no escritório porque sabia que era um fluxo grande de pessoas, e sabia que mais gente teria acesso a isso”.
E da Secretaria as fotos não saem, segundo Bernadete. “Para nós, enquanto pudermos manter esse acervo na Cultura, vamos manter. Nosso sonho é construir um centro de memória maior para guardar essas e outras peças, pois, no atual, não temos mais espaço”.
O caminho futuro para as fotos é conquistar um espaço físico adequado. Bernadete acredita que, a partir do momento que a Secretaria tiver um espaço físico voltado somente para isso, ela irá receber mais pessoas procurando colaborar com a reconstrução da história de Cosmópolis.
“Por mais que você tenha as fotos on-line, ou digitalizadas, quando pegamos uma foto impressa, ela carrega consigo um valor histórico muito grande”, explica a funcionária da Secretaria.

O começo
José Honorato começou a digitalizar as fotos doadas pelos amigos por volta dos anos 2000. Seu companheiro e técnico de informática do Ecin, Marco Antônio ‘Zorro’ Gonçalves, lembra que tudo começou com as crônicas que Honorato escrevia para o jornal. “Foi aí, então, que um senhor trouxe uma foto antiga. Pensamos em escancear e, como tinha a máquina no meu escritório, começamos a fazer isso, foto por foto”.
Uma foto especificamente chamou a atenção de Zorro. Ela era de 1901 e foi a primeira a ser enquadrada. Também se tornou a capa do livro da história de Cosmópolis, escrita pelo Honorato. Pela complexidade da época, algumas fotos eram impressas em Barão Geraldo.
Foi a partir desta primeira impressão que Honorato decidiu pendurar as fotos no prédio; na época, ainda se situava na Avenida Ester, mas, em outro prédio. Com esses quadros pendurados no escritório, alguns amigos dele começaram a trazer ainda mais fotos, fazendo, assim, que o volume começasse a crescer ainda mais e com maior velocidade.
No começo, havia diversas dificuldades. Por se tratarem de fotos coloridas, era difícil de encontrar lugares que realizavam esse tipo de impressão, que era cara também. “Demoraram cerca de 5 anos para ele conseguir a coleção que tinha”, lembra Gonçalves.
Zorro conta que apoiar o companheiro nesse trabalho foi importante para conhecer a história de Cosmópolis. “Para mim, foi importante, até porque eu não nasci aqui. Além da foto, escrevíamos também um texto, relacionando o que era tratado na foto”.
Eram tantas as fotos e pedidos, que o empresário decidiu fazer um CD com todas as digitalizações. “Quando comecei a ajudá-lo, não imaginava que ia dar tanta repercussão. Mas, com o tempo, sendo exibidas, começou a ter mais procura e mais pessoas vieram até nós para ajudar a divulgar o trabalho. Eu fico grato por poder ter participado disso. O importante é o fato desse trabalho ter sido feito”.
Após colocadas nas paredes, eles decidiram fazer um vídeo, intitulado ‘Cosmópolis 60 anos’, com uma coletânea de crônicas e fotos. “As fotos serviram para isso, demonstrar, para todos que passavam por lá, a história de Cosmópolis”, finaliza Zorro.

O passado e o presente
O técnico afirma que os quadros ajudaram a ter uma noção de como era a cidade no passado, tanto em aspectos positivos quanto negativos. Ele conta que, muitas das fotos, como as que retratam a estação ferroviária, mostram como a cidade era evoluída para a época.
Além disso, Zorro conta que se fascina ao ver como eram as praças do Município. Segundo ele, o movimento que havia nelas, retratado nas fotos e nas crônicas de Honorato, era maior do que atualmente.

Escolas
Além dos funcionários e clientes, o escritório era palco de diversas pesquisas escolares. Isso porque, como conta o técnico, muitas crianças usavam as fotos como materiais de pesquisa. “As crianças traziam os temas das pesquisas para o Zé contar as suas histórias. Os alunos sempre vinham conversar com ele e pegar materiais, fotos e depoimentos”.

As paredes
“Os clientes comentavam sobre as fotos. Um dos nossos clientes localizou o pai dele e afirmou que não tinha essa foto na casa dele. Vi muita gente reconhecendo a família naquelas fotos”, lembra Zorro.
“Quando eu entrava no escritório e via as fotos, pensava na generosidade que ele teve com a população em dividir o conhecimento da história. Me emocionava muito. Por muitas vezes, as pessoas paravam só para ver os quadros”, lembra a filha Mariana
Contudo, ainda restaram dois quadros na parede do escritório. Um retrato do sócio fundador Oswaldo Heitor Nallin e outro do sócio diretor José Honorato Fozzati. Ambos foram feitos pela sócia Beatriz.