Qual sua concepção acerca da morte como condição humana? E como a velhice pode ser olhada como um caminho de preparação para tal?

“No inconsciente, não há representação para a morte. Na profundidade de nós mesmos, nos temos como imortais, privando-nos de nos preparar para essa força ceifadora que temos como destino. Na nossa vida, somos acometidos por inúmeras mortes de diversas maneiras, e isso talvez se deva ao fato de que é preciso se familiarizar com ela, pois dela, a morte, invariavelmente não se pode escapar. As inúmeras mortes ocorridas em vida são partes de um princípio da natureza cujo objetivo é sempre a renovação. Para algo nascer é preciso um outro morrer, pois tem que ter espaço para o outro crescer. Isso falando de ciclos de renovação, tão importantes de serem elaborados. Os antigos faziam ritos de passagem em todo fim de ciclo para se despedirem do ciclo passado e darem boas-vindas ao novo; digo isso porque quero me referir ao fato de que é preciso aceitar esse princípio ceifador e criador que permeia a nossa existência.
O povo do Oriente vê e lida com a morte de maneira muito diferente dos ocidentais, claro que também por conta da dicotomia entre as religiões orientais e ocidentais. A religião ocidental, mais propriamente o Cristianismo, predominante aqui, influencia profundamente o modo como vemos e lidamos com a morte, com um pesar extremo, pois, é o fim de tudo, não só o fim como a possibilidade de se queimar eternamente num inferno por ter feito uso dos ‘pecados da carne’; essa crença fantasmagórica e cruel foi-nos imposta através de gerações, petrificando em nós um grande medo do fim. Se houvesse uma desmistificação da morte, no tocante a tirá-la da posição de tabu, talvez falando-se mais sobre como ela age continuamente na natureza mais íntima e na qual estamos inseridos ambientalmente; pois não é possível se preparar para algo do qual não se fala.
No tocante a questão da velhice ser um caminho para a preparação para a morte, pode-se soar triste, contudo não precisa ser, pois, privilegiado é quem consegue chegar na velhice e ter a chance de se preparar para o fim, haja vista que muitos encerram seus ciclos de maneira repentina; esses que partem sem terem tido tempo de se despedirem da vida, muitas vezes, assim o fazem justamente por nutrirem em seus íntimos a onipotência fantasiosa de que a morte não os atinge, os impelindo a buscarem toda uma sorte de perigos na vida.
Com o avanço da tecnologia na área da medicina, a expetativa de vida aumentou exponencialmente; esse adiamento da morte tem seus aspetos positivos, mas, também os negativos – o pró é o fato de podermos viver mais, uma grande conquista, porém, em contrapartida, relegam muitos a viverem como vegetais, pessoas cujas vidas lhe escaparam em vida”.
Quer saber mais sobre este e outros assuntos referentes ao viver e o existir? Entre em contato comigo pelo WhatsApp 19 99443 0811. Natal Marsari Neto, Psicólogo Coordenador do Núcleo de Estudo Inaciano “JESUS SALVADOR DOS HOMENS”
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Mannoni, Maud, 1923 .O nomeável e o inominável: a última palavra da vida. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., 1995.

Por Natal Marsari