Quando o adulto se torna ‘filho’ novamente

Dependência emocional pode se manifestar em qualquer fase da vida, refletindo medos e inseguranças profundas que muitas vezes têm raízes na infância

Depender é uma palavra definida pelos dicionários como: precisar de auxílio, de proteção, de sustento. Muito ouve-se falar sobre a dependência emocional, que pode afetar pessoas de qualquer sexo, idade, origem étnica ou condição socioeconômica. No entanto, experiências vivenciadas na infância podem atuar no seu desenvolvimento, assim como traumas e questões de autoestima baixa.

Dependência emocional é quando uma pessoa se torna excessivamente ligada emocionalmente à outra, e pode se manifestar em relações familiares, amorosas, de amizade e até no ambiente de trabalho.

Tendem a entrar em um ciclo vicioso sacrificando as próprias necessidades e desejos para satisfazer a outra, pois há medos que mantém a repetição desse comportamento como de ser abandonado, de ficar sozinho, de ser rejeitado e não serem queridas, reconhecidas e amadas.

Essa condição de dependente de outra pessoa acontece com todos em pelo menos um momento de suas vidas, que é quando se é um bebê. Quando se pensa no reino animal, alguns já nascem e logo já andam, no máximo serão amamentados por 1 a 2 meses e logo irão aprender a se virar. O “filhote” de ser humano não sobrevive sozinho, é totalmente dependente por anos.

Quando se olha um adulto supõe-se que ele consiga buscar sozinho meios para a sobrevivência e que ele funcione de forma independente, mas por que será que alguns desses adultos apresentam essa dependência de alguém mesmo que possuam uma vida funcional, ou seja, que estudem, trabalhem, possuam conquistas, entre outras?

Embora fisicamente adultos, emocionalmente se encontram regredidos na fase infantil precisando de uma pessoa que seja capaz de cuidar e sustentar física e emocionalmente.

Chega uma hora que há essa separação dos pais, situação que também vai se aprendendo desde criança, pode parecer tão natural como quando se vai para a creche, casa dos avós, escola, mas, pela subjetividade não é possível prever como uma criança sentirá essa vivência. Ou até experiências mais traumáticas como falecimento, abandono e separação dos pais, entre outras.

Pode permanecer inconsciente um medo de ficar ou caminhar sozinho, um adulto que conserva medo de seguir e resolver suas coisas. Como já cresceram, a razão e até os próprios pais lhes dirão: ”você não é mais uma criança, ande com suas próprias pernas”. Como ainda não conseguem fazer isso, se vinculam à outras pessoas, a outros relacionamentos que acreditam que irão proporcionar essa segurança contra seus medos internos.

Por que então uma pessoa trocaria essa independência por essa condição incômoda da dependência? A liberdade em decidir e poder fazer o que quiser possui muito valor para o adulto, mas, há também um outro lado dessa liberdade toda: a responsabilidade. Ser aquele que responde pelas consequências dos próprios atos pode ser apavorante para alguns. Alguns pais em uma atitude superprotetora podem “impedir” seus filhos de assumir desde a infância/adolescência responsabilidades (que são de acordo com a idade deles), e quando se veem adultos ficam sem saber como agir sozinhos.

Ser independente, ter autonomia é conseguir assumir e bancar tanto os acertos quanto os erros e suas consequências. Quando se busca alguém sempre que se precisa tomar uma decisão, pode significar um medo de errar, e vai além, pois pode ser também não suportar aguentar carregar um erro sozinho.
A problemática sobre a dependência emocional é que essas pessoas acabam por se submeter ao desejo do outro, se anulam, perdem a identidade, o amor próprio desaparece e correm o grande risco de entrarem e sofrerem muito em relacionamentos abusivos. A maioria das pessoas que permanecem nessas relações possuem essa característica/traço em sua personalidade. Uma pessoa não dependente emocional consegue dizer não, consegue colocar limites, consegue sair dessa relação, pois esse medo do abandono e da solidão não comanda sua vida.

Finalizando e lembrando que todas essas situações para o desenvolvimento da dependência emocional são exemplos identificados em clínica, mas cada um traz os seus motivos inconscientes, e que é possível identificá-los e tratá-los por meio da análise psicanalítica ou psicoterapia. E inconscientes por quê? O adulto consegue racionalizar e pensar “eu já sou um adulto, moro sozinho, trabalho, me sinto independente, mas por que quando me envolvo com alguém me torno essa pessoa dependente do outro? Por que mesmo querendo fazer diferente não consigo?”. São justamente essas respostas que são os conteúdos inconscientes e que precisam vir à consciência para serem elaborados e ressignificados.