A raiva é conhecida como uma emoção crua, uma força poderosa e muito difícil de conter. Faz parte do conjunto das emoções denominadas negativas (raiva, culpa, vergonha, arrependimento, medo e pesar), e representa algo em que precisa defender-se ou evitar. “Ela aparece, bastando que algo simplesmente não aconteça da maneira como se esperava. A raiva é expressada quando se é maltratado, quando existe o sentimento de se ter sido enganado, ofendido ou quando não se tolera algum tipo de comportamento”, explica a psicóloga Maristela Ramos.
Essa emoção pode ser impulsiva/espontânea, expressando explosões agudas e repentinas, mas também pode ser silenciosa, premeditada, lúcida e controlada. Pode ocorrer uma reação imediata a uma provocação, ou pode ser um combustível para uma vingança futura. “A raiva pode permanecer por muito tempo contida, aparecer repentinamente de modo bastante selvagem e, então, voltar ao estado mais controlado. Depois que a fúria intensa passa, ainda pode-se permanecer irritado com algo ou alguém por muito tempo”, esclarece a psicóloga.
A psicóloga diz que é inevitável que, em suas formas, a raiva envolva a moralidade. “A incapacidade do controle sobre as próprias reações emocionais impulsivas coloca o caráter à prova, podendo ser vista como fraqueza ou defeito. Esse comportamento pode ter repercussões na posição social de um indivíduo, assim como prejudicar suas relações interpessoais”, alerta.
A raiva, muitas vezes, é vista como uma emoção negativa que deve ser evitada e afastada. Qualquer pessoa pode se irritar e expressar a raiva no tom, momento e motivos certos, isso exige uma avaliação cuidadosa e consciente da pessoa. Isso é uma habilidade que começa a ser praticada na infância quando se precisa aprender a reagir às primeiras formas de injustiças, e vai se lapidando com o passar dos anos, pela vida toda.
“Às vezes, é melhor, sim, bater o punho sobre a mesa e demonstrar claramente um descontentamento, do que permitir que o ressentimento aumente por dentro. Falar expondo o descontentamento pode trazer o esclarecimento e a resolução de um problema que beneficie a todos os envolvidos. A raiva que permanece e ferve por dentro pode trazer repercussões graves à saúde. Estudos indicam que reagir a situações estressantes com raiva aumenta o risco de doenças cardiovasculares prematuras, principalmente, o infarto do miocárdio”, esclarece Maristela.
Mas, sentir raiva não é errado, o que pode ser perigoso é o uso que se faz dela. A psicóloga diz que essa emoção pode até ser útil quando mantida dentro dos limites aceitáveis e usada na hora certa. “Como na defesa da justiça, na exigência de medidas preventivas a fatores de riscos e no confronto construtivo em situações em que a calma não teria tanta eficácia”.
É possível interromper o percurso da raiva?
“Sim, se a pessoa conhecer o mecanismo e possuir estratégias de enfrentamento do estresse. No caso de
uma ‘raiva patológica’, aquela que a pessoa perde o controle facilmente e age com agressividade verbal ou física, existem medicações destinadas a regular o funcionamento emocional. A psicoterapia também pode ajudar a criar as estratégias, e também ressignificar a maneira como se olha/entende/sente as situações e comportamentos das outras pessoas que causam tanta irritação e, consequentemente, a raiva”, explica.
Maristela lembra-se de um filósofo romano, Sêneca. “Ele dedicou-se a escrever um livro todo sobre a raiva. Escreveu que a raiva é um componente inevitável a existência, pois, na vida, algo sempre seguirá pelo caminho oposto ao que se gostaria. Nem todos os planos darão certo como se quer, ninguém tem a sorte de ver todos os seus desejos atendidos. É extremamente fácil perder a paciência e ficar com raiva de uma situação, pessoa, até consigo mesmo e com seu azar. O importante é conseguir olhar e analisar a origem real do incidente ou situação irritante e, acima de tudo, não ‘abraçar’ provocações. Sem sombra de dúvida, uma pessoa se eleva a um patamar mais alto ao ignorar aqueles ou aquilo que a provocam”, comenta.
Caso houver necessidade, é de extrema importância que a raiva seja tratada com um especialista para que não haja problemas futuros.