Há alguns anos, eu me senti motivado a visitar uma senhora. Ela trabalhava como diarista na cidade de Curitiba, no Paraná. Na época, eu trabalhava nessa cidade, a mesma em que nasci. Aparentemente, essa senhora não tinha problemas; pelo contrário, ela vivia de forma confortável e feliz.
Ao chegar, fui recebido com um largo sorriso. O pequeno apartamento, com mobília nova de lojas populares, sugeria que financeiramente ela estava bem. O filho, de 11 anos, estava lanchando à mesa. Havia pão com queijo, achocolatado e três variedades de frutas.
Comecei a conversa falando de amenidades, dei algumas voltas e então cheguei ao ponto: “Raquel, você é uma mulher especial para Deus, é uma guerreira que cria seu filho sozinha e com muita responsabilidade.
Suas decisões parecem sempre bem ponderadas. O que aconteceu? Por dois anos, você foi membro de nossa igreja e, de repente, sumiu. Agora, você está frequentando um culto que fala muito de dinheiro, mas pouco de obediência a Deus e de santificação. Sua antiga igreja sempre lhe tratou com amor; é uma igreja que preza pelo ensino da Bíblia e que é séria em todas as atividades. Diga-me, o que aconteceu? Quero entender isso.”
Naquele dia, fui surpreendido pelas ponderações de Raquel. Ela se ajeitou na cadeira e disse: “Olha, pastor, eu vivia uma vida de incertezas. Trabalho como diarista, e havia semanas em que só aparecia uma casa para limpar. O tempo todo chegavam cartas de empresas me cobrando contas que eu não tinha como pagar. Meu filho queria um brinquedo, e eu não podia comprar.
Ele pedia dinheiro para o lanche, e eu tinha de negar. Estava entrando em depressão, e minha casa estava sempre suja e com mobília velha que ganhava dos clientes. Até que, um dia, uma amiga me convidou para ir a um culto de prosperidade. Foi um milagre. Na outra semana, começaram a surgir casas para eu limpar. Hoje, não tenho um dia de folga, graças a Deus.”
Ela continuou: “Veja minha casa, pastor, é tudo simples, mas é meu e está tudo pago. Meu filho está mais feliz. Eu estou mais segura e certa de que Deus tem muito mais pra mim. Tenho certeza de que vou comprar meu primeiro carro, e será zero quilômetro. Não quero nada que seja usado. Chega de pobreza, pastor. Deus não quer que Seus filhos passem dificuldades. Eu sou filha do Rei. Sou uma princesa, e princesas se vestem bem, comem bem e podem pedir qualquer coisa ao Pai!”
Raquel parecia acreditar ter sido predestinada a ser próspera. Ela entendia ter encontrado um lugar realmente seguro, onde achara esperança para sua vida e a de seu filho. Será que ela estava enxergando as coisas claramente? Como dizer a ela que prosperidade material não é sinônimo de salvação?
Como conscientizá-la de que, na verdade, Jesus nos chama a deixar tudo para segui-Lo e não para nos tornar necessariamente ricos?
A experiência de Raquel se repete aos milhares em nosso país, na América do Sul e em outros continentes. Se isso fosse verdade e tomasse as proporções devidas, seria a solução para todos os países miseráveis do mundo. Teria sido encontrada a solução para a pobreza, e nunca mais haveria fome na África e além. O fato é que o chamado “evangelho da prosperidade” já se estabeleceu há mais de 20 anos em diversos países pobres. Então, por que a pobreza continua ganhando essa guerra?
Na verdade, o evangelho da prosperidade precisa ser avaliado de forma bem clara e honesta à luz da Palavra de Deus. Precisamos saber o que realmente Deus tem reservado para nós no que diz respeito à salvação e à vida material terrena.
Com base na Bíblia, podemos afirmar que a vida espiritual produz necessariamente riqueza e bem-estar material? Será que a riqueza é sempre um sinal da bênção de Deus? O que dizer da riqueza alcançada por meio de opressão, dolo ou mesmo corrupção? Além disso, seria a pobreza ou doença sempre um sinal de maldição de Deus, ou ainda de falta de fé?
Devemos reconhecer que o evangelho da prosperidade tem sido um dos fenômenos religiosos mais atrativos dos últimos tempos. Uma pesquisa divulgada na revista Time (de 10 de setembro de 2006) mostrou a seguinte realidade: Nada menos que 17% dos cristãos entrevistados disseram que se consideravam parte de tal movimento. Outros 31% acreditam que, se você dá seu dinheiro a Deus, Ele irá abençoá-lo com mais dinheiro. Igualmente, 61% acreditam que Deus quer que as pessoas sejam prósperas. Este percentual é mais elevado do que o próprio número de evangélicos daquele país!