O comportamento agressivo é normal e deve ser vivido pela criança. Na infância, são normais os ataques de agressividade. O que acontece é que algumas crianças persistem em sua conduta agressiva e em sua incapacidade para controlar seu gênio forte, podendo sentir-se frustradas diante do sofrimento e da rejeição dos demais. Segundo as teorias do impulso, a frustração facilita a agressão.
De acordo com a psicóloga Kaleandra Quaiatti Resta, é muito importante, por exemplo, que a criança tenha e encontre um bom modelo em seus pais. “As crianças se relacionam com os demais da mesma forma que fazem com seus pais. Se eles mantêm uma relação tranquila, é assim que a criança se portará diante dos seus amiguinhos. Se a relação é mais conturbada, provavelmente, a criança seguirá esse modelo de comportamento”, explica.
Educar as crianças é uma tarefa difícil, requer trabalho. Mas vale a pena tentar acertar, ter equilíbrio e consenso entre os pais para que na educação da criança não ocorram erros de dupla comunicação. A linguagem deve ser uma só entre os pais, para que um não tire a autoridade do outro na frente do filho.
A criança que está passando por essa fase de agressão se irrita profundamente quando algo lhe é negado ou é contrariada de qualquer forma. A expressão da sua angústia é dolorosa: mordidas, socos, tapas, chutes. “As crianças são totalmente emocionais e pouco racionais. Por não saberem lidar com alguns sentimentos, podem expressá-los por meio de atos agressivos. Sabe-se, no entanto, que a agressividade não é um traço de personalidade. Se seu filho está agressivo, certamente, ele está sendo influenciado pelo cotidiano familiar e, em menor escala, por fatores externos, como a televisão, amizades, entre outros”, orienta a psicóloga.
Porém, para tudo há um limite e os pais devem ficar preocupados quando as atitudes perturbadoras se tornam prolongadas. “Algumas vezes, as crianças apresentam uma agressividade não apenas transitória, mas permanente, ou seja, parecem estar sempre provocando situações de briga. Este é o momento de entrar em ação e procurar orientação e terapia infantil”, alerta Kaleandra.
A boa notícia é que, com o tempo e a educação que recebe, a criança aprende a transformar essa raiva em um comportamento aceito pela sociedade e pelos pais. Descobre uma maneira, uma válvula de escape para lidar com as frustrações, assim como nós adultos fazemos na maioria das vezes. A notícia não tão boa é que, depois dos primeiros dois anos de vida, aparecem outros fatores que levam à agressividade. Segundo a psicóloga, a personalidade da criança é um deles.
“Algumas realmente serão mais raivosas do que as outras e exigirão uma orientação mais profunda para se adequar e direcionar essa energia para algo positivo. Certos acontecimentos na família, como mudanças, separação, doenças e discussões, assustam a criança e ela pode reagir, sendo agressiva. Pode ser algo muito inconsciente e angustiante, de funcionamento familiar, pais enfraquecidos, submissão a avós, iminência de separação e outros sintomas de que a família não está bem estruturada. A criança fica insegura com o contexto familiar e descobre na agressividade uma forma de sinalizar que precisa de atenção, explicações, carinho e até limites para se sentir bem novamente.”
Os pais devem se sentir responsáveis pelo filho, mas não podem achar que serão capazes de moldá-los completamente. Uma criança de temperamento mais agressivo não mudará totalmente. O que muda é que, com a educação, os pais ajudarão a perceber o quanto ela perde com certas atitudes.
“É preciso aprender a lidar com a personalidade dela e aos poucos ir moldando um modelo único de educar e com o que mais ela se identifica. Se o pai dirige de maneira violenta, xingando e fechando os outros carros, esse é o modelo de masculinidade que o filho vai receber. Uma família mais agressiva, com pais muito bravos, violentos em suas palavras, transmite esse modo de funcionamento aos filhos. A criança, portanto, aprende pela repetição e os pais nunca podem desistir disso. Apesar de aparentar o contrário, filhos que fazem tudo o que querem ficam inseguros, querem a proteção de um “não pode”, a orientação dos pais. Mesmo bebês de apenas dois anos já mostram a sua raiva para sinalizar a falta de limites”, alerta Kaleandra.
Lidar com essa agressividade dos filhos é uma tarefa árdua que exige cuidados e dedicação diária. Em primeiro lugar, vem o clássico, que todos os pais já ouviram: é preciso ter paciência. E lembrar que, apesar da intensidade que a agressão parece ter – não é fácil levar uma mordida do filho no auge da irritação –, está se lidando com crianças, com emoções primitivas, com seres que mal entendem seus sentimentos e suas ações e dependem do adulto para aprender a lidar com tudo isso. No mais, é a causa que vai mostrar a melhor maneira de administrar a situação.
As consequências de uma boa educação demoram a aparecer, segundo a psicóloga, e é preciso repetir as regras todos os dias, por muitos anos. Já a repressão tem resultado imediato, deixa a criança sem ação, com medo e, por um tempo, ela não repete o erro. Mas, também não evolui, não reflete, não aprende. “Há dias que falar calmamente com uma criança exige uma extraordinária força de vontade. Mas, lembre-se de que educar realmente dá trabalho. Se estiver muito fácil, você pode estar no caminho errado”, orienta.
Quando a causa é uma mudança no contexto familiar, o melhor é conversar com a criança. Antes de exigir uma mudança, é necessário ser honesto, fazer a criança se sentir confortável e segura, apesar da situação. E, de novo, explique que as atitudes agressivas não são legais e não vão resolver os medos dela. “Caso o motivo seja a imitação do que ela vê em casa, a mudança deve começar pelos pais. Eles devem rever suas maneiras, seus valores, entender que no mundo dos adultos sua forma de agir pode até estar no limite da civilidade, mas que, quando se trata de educar uma criança, tem de ser diferente e melhor”, finaliza a especialista.