Com a alta demanda de afazeres, muitas mulheres acabam deixando de lado os cuidados psicológicos
Talvez não se gostaria de saber que é assim, mas, no Brasil, vive-se uma estrutura patriarcal de cultura e educação que, de alguma forma, pode provocar traumas nas mulheres, porque, além de impor padrões, deslegitima o sofrimento feminino e as coloca como as cuidadoras do mundo, que acaba por impedir que elas olhem para suas próprias questões psíquicas.
Quando se fala sobre saúde mental, o sofrimento psíquico não tem gênero, é comum a todas as pessoas. Aqui particularmente serão levadas em consideração as mulheres, já que essas trazem questões relevantes que merecem ser levantadas. Serão mencionadas algumas, dentre tantas outras.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) traz dados que uma em cada cinco mulheres apresentam Transtornos Mentais Comuns (TMC) e uma taxa de depressão em dobro em comparação aos homens. Existem, sim, diferenças nos processos biológicos (corporais) feminino em relação ao masculino, mas acredita-se que segue além dessa perspectiva. Ser mulher atravessa papéis, comportamentos, atividades e oportunidades que determinam o que irão experimentar ao longo da vida e que são estruturalmente diferentes das experimentadas pelos homens.
Na área profissional, ocorre a sobrecarga física e mental, apontados como principais fatores que deixam a mulher vulnerável ao sofrimento psicológico. Como exemplo, a baixa qualidade do emprego com predomínio de informalidade, caráter temporário, falta de vínculos trabalhistas, que podem gerar temor, ansiedade, inseguranças e incertezas. Também padrões irregulares de carreira, como o tempo que a mulher passa fora do mercado de trabalho para cuidar dos filhos e da casa, a licença maternidade, ausências para acompanhamentos médicos relacionados à saúde da mulher, que afetam a percepção das contratações sobre a disponibilidade e comprometimento da mulher com o trabalho, que leva à discriminação e exclusão do mercado. O cenário de cobranças pode piorar quando é somado o trabalho remunerado às tarefas domésticas, em que as mulheres são consideradas as principais responsáveis.
Outro ponto relevante é que, de tempos em tempos, os padrões de beleza para o corpo feminino sofrem alterações de acordo com a cultura e sociedade. Estes padrões são surreais e inalcançáveis por meios naturais, e ainda se prega a jovialidade utópica – a percepção atual é que “não é permitido envelhecer”. Essa pressão externa começa gerar cobranças internas que repercutem na saúde mental e também na física com desenvolvimento de transtornos alimentares e de imagem corporal.
E por falar em tempos atuais, nunca se ouviu e viu-se tanto em meios de comunicações ou mesmo pessoal, familiar ou em meio social, as histórias de violência física e psicológica sofrida pelas mulheres. Abusos psicológicos que quase sempre são “silenciosos” e que causam danos emocionais profundos que impactam a autoestima através das humilhações, desvalorizações e ameaças.
Cuidar da saúde mental das mulheres não pode ser pensado em soluções únicas, porque necessariamente deveria passar pela construção de políticas públicas e intervenções sociais, em que o desafio seria poder disponibilizar um maior acesso ao processo psicoterapêutico para o cuidado da saúde mental. Que a própria cultura sobre a busca do cuidado psicológico pudesse caminhar a passos mais largos para um pensamento que este não é limitado a elite e tão menos associado a “loucura”.
Enfim, de maneira geral, os primeiros passos para cuidar da saúde mental são conseguir falar sobre os sentimentos, manter-se ativo fisicamente com a prática de exercícios, já que o corpo e a mente estão interligados, alimentação saudável, evitar substâncias que alteram a consciência (álcool e outras substâncias psicoativas), vínculos afetivos são importantes, fazer pausas e ter tempo para fazer algo prazeroso, e não ter medo de pedir ajuda. A mulher, na verdade, é taxada como sexo frágil, mas isso não é verdade, ela é muito forte e guerreira, difícil algo que a faça desistir de tentar ou de prosseguir, mas ela tem um limite, excedê-lo pode causar o desequilíbrio e adoecimento. Saber reconhecer o momento de buscar ajuda é essencial e algumas vezes até vital.