Falta de apoio da família e da sociedade, a discriminação e o preconceito geram angústia em expressar seu verdadeiro eu e sofrer exclusão...
Ainda na sociedade atual existe o isolamento da diversidade. As travestis e transexuais são as que mais sofrem com o preconceito e a discriminação no ambiente familiar e social, incluindo os serviços de saúde, entre outros.
Na transexualidade, o sujeito não se identifica com o gênero atribuído ao mesmo no nascimento, fato que gera sofrimento no indivíduo. Comumente, os mesmos buscam realizar a transição do gênero atribuído no nascimento para sua identidade de gênero, deparando-se com o estigma social. Sendo assim, encontra-se o preconceito, submetendo essas pessoas a diversas variáveis que podem gerar uma consternação psíquica e emocional. Estas pessoas experimentam diversos tipos de violência, incluindo verbal, psicológica, física, sexual e negligência, gerando o enfrentamento do não pertencimento, ocasionando uma fonte de desamparo, vazio social, sofrimento, perda de suporte, aspectos que influenciam na visão de si e do mundo. A limitação da visão íntegra de si e do mundo pode tornar os indivíduos vulneráveis às dificuldades de adaptação a situações adversas.
Uma pessoa trans no Brasil tem a média de vida de apenas 35 anos – já a média da população em geral é de 75,5 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – dados do ano de 2016. A expectativa de vida da população trans no país tem grande influência de acordo com o número de homicídios e suicídios destas pessoas. A diversidade tipológica da intolerância e da violência varia de forma crescente, desde o assédio moral, a discriminação e até a morte. De acordo com TransgenderEurope (TGEu, 2015), o Brasil matou cerca de 868 travestis e transexuais nos últimos oito anos, encontrando-se em primeiro lugar na lista de países com mais registros de homicídios desta população. Ressalvas devem ser feitas considerando a forma de registro quanto a identificar pessoas trans, além de que os dados apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o suicídio são contabilizados de forma geral. Apesar dos dados constatados em pesquisas realizadas exclusivamente com as pessoas transexuais apresentarem uma taxa elevada, a própria OMS não possui dados específicos.
Tuchlinski (2019) publicou no jornal O Estado de S. Paulo o artigo em que é evidenciada a fala da psicóloga do Núcleo de Sexualidade da Holiste, Lara Cannone, que discorre que o próprio indivíduo, devido a cultura e a criação, tem em si internalizados preconceitos, sendo assim, a experiência de sentir-se diferente do padrão imposto pela sociedade ocasiona um adoecimento. É necessário realizar um processo de desconstrução da normalidade esperada pela sociedade para que o indivíduo possa ressignificar as experiências interpessoais e intrapessoais. A falta de apoio da família e da sociedade, a discriminação e o preconceito geram angústia em expressar seu verdadeiro eu e sofrer exclusão, além da angústia em não expressar em seu corpo o seu gênero, aspectos que podem gerar transtornos, como, por exemplo, a depressão e a ansiedade.
Schumann e Martini (2016) abordam, em seu estudo, dados apresentados por uma ONG de promoção da cidadania LGBTQIAPN+, chamada Grupo Dignidade, que divulga um levantamento do Ministério da Saúde em 2006, embasado em uma pesquisa do núcleo de epidemiologia psiquiátrica da Universidade de São Paulo (USP), em que foi constatado que 9,5% dos brasileiros já tiveram pensamentos suicidas e 3,1% tentaram suicídio. A terceira maior causa de mortes em jovens é o suicídio; em primeiro e segundo lugares encontram-se acidentes de trânsito e violência, sendo que 61,1% dos jovens já foram vítimas de homofobia.
Neste mesmo ano, foram realizadas 3.031 denúncias no Disque Direitos Humanos (Disque 100), constatados a partir do Relatório Violência LGBTFóbicas no Brasil e do Relatório de Violência Homofóbica no Brasil. Já em 2013, as denúncias chegaram a 1.906. Ainda neste estudo é apresentado que a ONG afirma que o público LGBTQIAPN+ tem mais chances de tendências suicidas do que os cisgêneros e heterossexuais, sendo mais atingida a população transexual, devido ao estigma social de doença, ocorrendo isolamento e marginalização. Entre os fatores para o suicídio encontram-se interligados aspectos individuais, como a depressão, e aspectos coletivos, como o preconceito e a rejeição, considerando de altíssima importância o cuidado da saúde mental dessas pessoas.
Se você é LGBTQIAPN+ e está passando por alguma dificuldade emocional ou conhece alguém que esteja, procure atendimento especializado. Isso é muito importante e salva vidas!