Setembro Amarelo: a importância da prevenção do suicídio

Você saberia como identificar ideações suicidas em alguém próximo a você? Saberia como ajudar alguém que possui esse tipo de pensamento? É em prol disso que a campanha do Setembro Amarelo, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, pauta este assunto que, ainda hoje, é visto com certa superficialidade.
A literatura e televisão, nos últimos anos, estão retratando a causa com cada vez mais frequência, visando desconstruir os paradigmas criados sobre a questão. Hoje em dia, se vê extremamente importante que a população tome ciência da existência deste problema como uma real ameaça à vida humana.
O psicólogo Marcio Paulo Ruiz Monteiro explica que é possível identificar alguém com potencialidade suicida a partir da mudança no comportamento da mesma. “Não quero generalizar que toda mudança de comportamento é uma ideação suicida, mas é um processo imbricado pelo desinteresse no próprio viver e o individuo que concretiza o ato passou por acontecimentos estressantes nos meses anteriores ao suicídio. É importante notar que os estudos mostram, para a auto finitude da vida, que as tentativas ocorreram por 10 a 20 vezes”, comenta.
De acordo com o especialista, o indivíduo com ideação suicida tem um sofrimento muito intenso. O desejo de viver e o desejo de morrer batalham numa gangorra nos indivíduos suicidas.”Evidentemente, a pessoa tem demonstrado algum sinal, como pedido de ajuda, porém, na grande maioria das vezes ‘ignoradas’ pelo outro, pois se sentem impotentes diante de tal realidade. Quando as pessoas dizem ‘Eu estou cansado da vida’ ou ‘Não há mais razão para eu viver’, elas geralmente são rejeitadas”, pondera.
É comum, em pessoas que se matam, a demonstração de alguns avisos de sua intenção antes da concretização do ato. Marcio comenta que um fato muito importante, comprovado por estatísticas, é que muitos suicídios ocorrem num período de melhora, quando a pessoa tem a energia e a vontade de transformar pensamentos desesperados em ação autodestrutiva, tornando ainda mais necessária a atenção sob esses indivíduos.
Este foi o caso do jovem CH, como prefere ser chamado. Após descobrir ser vítima de depressão, passou a buscar ajuda de todos ao seu redor, tendo se sentido menosprezado por todos. “Tentei me matar cinco vezes. Quase todas não resultaram em nada muito grave, mas, a última era para ter acontecido, se um policial militar não tivesse me impedido”, explica. “Não penso mais em suicídio desde fevereiro deste ano. Conheci uma pessoa que me ajudou bastante. Mas, até hoje, luto contra a depressão”, continua.
Já Beatriz, em agosto de 2017, buscou na morte uma forma de solucionar seus problemas. “Eu descobri que tinha depressão algumas semanas antes de tentar me matar. Tudo parecia se fechar para mim, todas as portas. Foi então que eu decidi que não havia outra saída se não o suicídio”, conta.
Quando as ideações passaram a fazer parte de sua rotina, Beatriz buscou ajuda com um ex-namorado para consultar-se em uma psicóloga. Naquele período, a jovem preferia esconder sua condição das demais pessoas em seu convívio.
“No dia que tentei me matar, eu fui a uma consulta com uma terapeuta, mas, parece que me senti pior ainda após aquela sessão. Na tarde do mesmo dia, eu cometi o ato contra mim mesma. Fui levada às pressas ao hospital, sempre me recusando a realizar qualquer tratamento. Eu não queria viver”, pondera.
Márcio explica que este processo anterior a concretização do ato está diretamente ligado com os riscos de tentativas de suicídio. O “não saber o que fazer com tamanha angústia vivencial”, vivenciado por Beatriz e por muitos outros, aumenta as chances de um suicídio, já que a “coragem para concretizar” surge com a ausência do medo.
“No momento que tentei, não me passava nada na cabeça. Era um turbilhão de coisas e, ao mesmo tempo, um vazio. Continuei pensando em me suicidar até o começo deste ano. Hoje já não tenho mais medo de cometer algo, mas demorou muito para que eu deixasse esse receio de lado”, comenta a jovem.

Fatores
Tanto CH como Beatriz afirmam que as ideações iniciaram após o surgimento da depressão, que, com o tempo, tornou-se parte de suas vidas. “A depressão nunca vai embora, ela caminha com a gente a vida inteira. Cabe a nós controlar, mas ela pode voltar”, comenta o jovem.
Entretanto, o psicólogo afirma que, apesar da depressão ser o diagnóstico mais comum em suicídios consumados, as pessoas que cometeram o ato possuíam algum transtorno mental diagnosticável.

Como ajudar

Marcio Paulo Ruiz Monteiro
Psicólogo Clínico
CRP: 06/136080
e-mail: psicomarciomonteiro@gmail.com


O psicólogo explica que os sinais do sofrimento psicológico são denunciados pela fala concomitante ao comportamento.
“A família, cuidador ou amigos devem dar credibilidade à sua fala, como, por exemplo, ‘Eu estou cansado da vida’ ou ‘Não há mais razão para eu viver’. Diante disto, deve ouvir atentamente, ficar calmo, entender os sentimentos da pessoa (empatia), dar mensagens não-verbais de aceitação e respeito, expressar respeito pelas opiniões e valores da pessoa, conversar honestamente e com autenticidade, mostrar sua preocupação, cuidado e afeição, focalizar nos sentimentos da pessoa e por certo encaminhar a pessoa para o devido tratamento com um profissional da saúde mental”, conclui.

Amigos da Vida
Há mais de trinta anos, os Amigos da Vida prestam apoio emocional a pessoas que buscam um ouvido ou ombro amigo para desabafar.
Localizados na cidade de Campinas/SP há 37 anos, os Amigos da Vida são uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, formada por voluntários que emprestam parte de seu tempo para ajudar pessoas que se encontram em alguma crise emocional. Em última instância, trabalham na prevenção do suicídio.
Os atendimentos às pessoas que procuram apoio são feitos por voluntários plantonistas, que passam inicialmente por um Curso de Formação de Plantonistas, quando aprendem a filosofia de trabalho e são submetidos a um rigoroso treinamento teórico e prático.
Há atendimentos pessoais, em sua sede ou em alguns eventos externos, por telefone (19 3231-4111 ou celulares de todas as operadoras) ou ainda pela internet, através de chat on-line. O site www.sociedadeamigosdavida.org.br apresenta o histórico da entidade, as formas e horários de atendimento, que é realizado de forma anônima e sigilosa.
A entidade trabalha o suicídio sob a visão humanista, onde acredita-se que a solução para os problemas enfrentados pelo atendido está na própria pessoa e, portanto, só ela poderá tomar a melhor decisão para si.

Nota da redação: Os personagens desta matéria são reais e contam suas verdadeiras histórias contra a depressão e suicídio. Por questões pessoais, preferem o anonimato, sendo seus nomes fictícios.