Entender o suicídio vai além das mensagens motivacionais e exige reconhecer os diversos sinais e intenções por trás desse comportamento complexo, ressaltando a importância da intervenção contínua e da compreensão profunda das motivações individuais
10 de setembro é a data dedicada ao Dia Mundial de Prevenção ao suicídio. No Brasil é desde 2015 que o mês passou a ser nomeado como Setembro Amarelo por entidades que buscam a conscientização sobre o tema. Essa cor foi escolhida para esse movimento em referência a uma campanha que ocorreu nos EUA, a Yellow Ribbon (Laço Amarelo), depois que um jovem de 17 anos cometeu suicídio em 1994. Ele tinha a habilidade de restaurar carros, e restaurou um Mustang 68, pintando-o de amarelo. Esse programa Laço Amarelo está presente em 47 países e ensina a identificar sinais e a importância de pedir ajuda para si e para alguém.
Há sim nessas campanhas pessoas com uma ótima intenção em ajudar, disponibilizando em redes sociais, TV, escolas, entre outros espaços, conteúdos informativos que contribuem para evitar esse fim trágico, que é o auto-extermínio. Mas existe uma problemática: a banalização, em que as campanhas acabam ocorrendo de forma superficial, em que acreditam que bastam algumas frases motivacionais e mensagens edificantes para lidar com esse problema. A questão é bem mais preocupante.
É possível considerar que uma pessoa encontra-se no “espectro suicida”, espectro porque cada pessoa acaba por ter manifestações próprias, isto é, diversos sintomas e em níveis diferentes, como desde pensamentos intencionais de desejo de morrer até a prática propriamente dita.
O suicídio é um ato simbólico, um ato representativo, porque por trás desse ato existem propósitos (motivos/razões) conscientes e inconscientes. Ao tentar esse ato essa pessoa está tentando dizer algo para si e para outros. Há nas tentativas uma mensagem, um sentido, um pedido de ajuda.
Existe sim um desejo consciente de desaparecer, de morrer. A morte é muitas vezes pensada como o fim de tudo, logo, pode ser o fim de qualquer sofrimento. Mas há contraditoriamente também o desejo de sobreviver, há um desejo de vida ou que essa problemática que pode ter dado o início a essa intenção ou tentativa se resolva, que alguém ou alguma situação possa salvá-lo. É esse desejo de vida que pode ser o ponto de apoio, a alavanca em um tratamento psicoterápico dessas pessoas. O suicídio é considerado o desfecho, é sobre as intenções ou tentativas que é possível intervir.
Ao ter esse comportamento suicida, a pessoa está expressando um sofrimento psíquico/emocional, e algumas pessoas podem questionar: “mas por que eles não expressam de outra forma?” . Isso acontece quando falha essa outra possibilidade de expressão, ela pode até ter tentado lidar de outra forma, mas seu repertório emocional não deu conta, é como se fosse a última saída.
Em outras palavras, diante de situações traumáticas, uma pessoa recorre aos próprios recursos psíquicos e esses não são suficientes para lidar ou para dominar a situação (encontrar uma saída), ocorre que quem é dominado é a pessoa por essa carga, uma avalanche de emoções e sentimentos. Exemplo de trauma é pensar uma criança abusada sexualmente, é um trauma porque ela não tem meios psíquicos para lidar com essa situação. Uma pessoa, mesmo sendo considerada adulta, pode ter essa mesma fragilidade e vulnerabilidade emocional infantil.
Há um autor que escreve sobre as personalidades que são mais propensas a transitarem sobre esse espectro suicida: os perfeccionistas, os impulsivos e os desesperançosos. Os perfeccionistas têm por características o apego a própria imagem ideal, dificuldade de lidar com erros ou imperfeições, dificuldade em pedir ajuda, tentam lidar com os problemas sozinhos, tendência a não se colocar no lugar de dependência do outro, e dependendo do grau dessas características a pessoa pode cogitar o suicídio como forma de resolução, pois não possuem esse recurso de pedir ajuda a pessoas, bem como procurar um profissional. Sentem-se envergonhados e até humilhados pedindo ajuda. “É melhor morrer que passar por isso”.
A personalidade com impulsividade também é pensada com maior propensão a esse comportamento suicida. Tem como características a intensidade emocional e dificuldade de lidar com frustrações e contrariedades. Apresentam atitudes impensadas e reações exageradas. Podem até serem nomeadas com Transtorno de Personalidade Bordeline.
E os desesperançosos em que a vida passou a ser apenas um fardo, não esperam mais nada de bom, a vida é pesada e sem sentido. Muitas vezes, essas pessoas possuem o diagnóstico de depressão ou bipolaridade. O senso comum até pensa que a depressão é na totalidade a característica das pessoas que recorrem ao suicídio, mas como visto, existem outras personalidades também propensas.
Enfim, o que se pode fazer para alguém que está falando sobre suicídio ou tendo esses comportamentos, é entender que isso é um pedido de ajuda, que essa pessoa pode não conseguir pedir essa ajuda de outra forma. Que esse mês de setembro intensifique trazer conhecimento sobre o tema, mas tem que ser pensado ininterruptamente.