O mês de setembro traz, com ele, além da primavera, a campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio “Setembro Amarelo”, que, desde 2014, tem o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção.
A Psicóloga Érica Priscila Zia indica que, há tempos, os suicídios costumavam ser mais comuns entre os idosos, do sexo masculino, sem companheira(o), com doenças crônicas e depressão. “No entanto, dados recentes apontam que o suicídio se tornou a segunda principal causa de morte em jovens abaixo dos 25 anos de idade e a principal causa de morte entre garotas adolescentes”, informa.
Segundo a especialista, alguns estudos baseados em pesquisas revelam que o principal motivo pelo qual alguém se suicida é a tentativa de eliminar uma dor psíquica muito forte. “As causas são infinitas e variam entre os indivíduos, algumas delas mais frequentes podem estar ‘ligadas’ a problemas de relacionamento, perdas de modo geral (emprego, ente querido, status), papel que representa na sociedade… enfim, vários são os fatores que podem levar uma pessoa a uma crise depressiva, ou seja, o suicídio é um fenômeno extremamente complexo.
Podemos identificar alguns fatores de vulnerabilidade, como: maus tratos infantis, histórico familiar de comportamento suicida, impulsividade, baixa autoestima entre outros fatores em especial nos indivíduos que sofrem de depressão”, explica ela.
Em grande porcentagem, Érica afirma que o suicídio está relacionado com a depressão, o que, nos dias atuais, é muito comum. “Quase 90% das pessoas que se suicidam apresentam algum tipo de transtorno mental, sendo a depressão o mais comum. Podemos incluir nesses transtornos a esquizofrenia, dependência química, entre outros. O transtorno mental é uma condição necessária, porém, não suficiente, para explicar o suicídio, tendo influência dos fatores de vulnerabilidade, principalmente, a história pessoal de tentativas prévias. Portanto, não podemos afirmar que exista um motivo específico para o suicídio, mas, uma soma de fatores desde transtornos mentais a eventos de vida estressantes, baixo suporte social, sensação de desespero e desesperança que levam a uma dor psicológica para a qual o suicídio, para a pessoa que o comete, pareça como uma solução. É importante ressaltar que o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário”, alerta.
A família é de fundamental importância na prevenção do suicídio. “Podemos afirmar que, ao contrário do que vemos ou imaginamos, conversar sobre o suicídio não estimula o ato, e sim, traz o conforto e alívio para quem pensa em se suicidar – ou seja, sentir que alguém realmente se importa e demonstra interesse em ajudar pode trazer esperança para o suposto suicida”, aconselha a profissional. “Costumo dizer que é através de uma conversa aberta, franca e sem julgamentos, que o indivíduo com risco de suicídio pode passar a se sentir compreendido e, assim, aceitar ajuda especializada”, acrescenta.
A família consegue perceber alguns “sinais” de alguém com pretensão suicida, observando comportamentos, palavras, expressões ou até conversas relacionadas a perda de sentido da vida, que é o que geralmente o indivíduo com essa pretensão costuma relatar. “Pessoas que vinham muito angustiadas e de repente parecem tranquilas como se tivessem encontrado uma solução para a sua angústia, merecem atenção. Também, quando observamos que as pessoas parecem se preocupar em tomar providências para proteger seus entes queridos, como fazer testamentos ou seguros de vida e organizar documentos”, alerta a Psicóloga.
A especialista cita alguns cuidados que podem ajudar na prevenção do suicídio: “manter bons laços afetivos, bom relacionamento com amigos e familiares, alimentação saudável, dormir bem, evitar uso de álcool e outras drogas e praticar exercícios físicos, entre outros”, informa ela.
De acordo com a Psicóloga, pessoas expostas a fatores de risco, como abuso emocional, físico ou sexual, violência doméstica, instabilidade familiar, falta de suporte social, bullying, isolamento social, desemprego, aposentadoria, entre outros, merecem uma atenção especial.
O tratamento pode envolver medicamentos, psicoterapia e, em alguns casos, internação. “A principal ‘arma’ que temos contra o suicídio ainda é o acolhimento, ou seja, passar segurança e conforto ao indivíduo com pretensão suicida pode resolver grande parte do problema”, finaliza a profissional.