*Adriano Gonçalves
A vida seguia seu curso como um rio que teria destino certo, o mar. Porém, algo acontece, o curso é mudado, pedras surgem pelo caminho e aquilo que estava certo – o deságue do rio no mar –, de repente, não é mais tão certo assim. Surge a incerteza, os planos e sonhos ficam suspensos. De fato, a pandemia desconfigurou os sonhos de muitas pessoas, se não de todas.
Como planejar a vida após a pandemia? O que é possível colocar no papel agora para daqui alguns anos? Diante de tantas incertezas sobre o que ainda iremos passar, como reservar um espaço aos sonhos adiados? Será que adiar é a única opção ou podemos “repaginá-los” e contá-los de outra forma?
Pessoas que iriam se casar, pretendiam ter filhos, preparavam-se para escolher uma graduação… Devemos reservar um tempo a estes sonhos ou esperar a tempestade passar para voltar a planejar? Precisamos nos ater a alguns pontos para respondermos estas perguntas.
Sem presentificar a vida não se pode ter olhos na realidade. Adiar nem sempre é a única opção, podemos “repaginar”; sonhos que não tenham eco de eternidade não subsistirão. E, quando falo de presentificar a vida, falo de uma postura que não nega a realidade, mas a abraça, traz nas mãos o real do presente, sem fuga para o trágico nem para o negacionismo. Presentificar a vida neste momento é torná-la presente, sem tentar fugir para o passado, que não existe, ou para o futuro que se mostra incerto.
Sonhos precisam ter raízes no presente. Por exemplo, ter um filho ou não na pandemia? Peraí, isso está em suas mãos? Não! Pois, quem os dá é Deus. Você pode querer e não tê-los, não querer e tê-los. Presentificar é viver a vida com tudo que ela é. Assumindo as consequências da própria realidade.
Quais são as realidades que você tem “domínio”? Essas podem ser presentificadas. Há outras, como o exemplo acima, que lançamos na aventurosa imprevisibilidade da própria vida.
Ao presentificar a vida, podemos olhar para os sonhos e responder: adiar ou “repaginar”? Nem todo sonho precisa ser adiado. Muitas pessoas que estavam com data marcada para o casamento me perguntaram se deveriam adiar ou fazê-lo com poucas pessoas. Eu disse a algumas que, para mim, o importante era o sacramento, e não a festa. Algumas fizeram o casamento somente com o padre e mais duas testemunhas, o sonho foi repaginado. Há sonhos que precisarão ser adiados e planejados no tempo, e há outros que podem se tornar realidade só mudando alguns detalhes.
Esta pandemia nos mostrou que tudo perece, nada na realidade tem infinitude nesta terra, somente na eternidade. Por isso, nossos sonhos precisam ser questionados se são somente para um prazer neste plano ou ecoarão na eternidade e na posteridade. O que sonho, tem fim último na contemplação da verdade e na bondade? Ou é somente fruto de meu narcisismo? Aproveite este texto para pensar se seus sonhos precisam ser adiados ou “repaginados”, ou até cancelados, pois sonhos que não tem eco na eternidade não subsistirão!
*Adriano Gonçalves é missionário, formado em filosofia e psicologia. É autor de três livros pela Editora Canção Nova: “Santos de Calça Jeans”, “Nasci pra dar certo!” e “Quero um amor maior”.
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