Profissional fala sobre sua experiência envolvendo o processo
Há anos, a prática da tatuagem pós-mastectomia é comum entre mulheres que são acometidas pelo câncer de mama. Jad Pozetti, tatuadora há 15 anos e micropigmentadora há 17, responde algumas das principais perguntas sobre o assunto.
Acompanhe:
Há quanto tempo trabalha como tatuadora e micropigmentadora?
Como tatuadora, eu já atuo há 15 anos, passando por todas as melhores e piores fases da profissão:
Trabalho com micropigmentaçao já há 17 anos. Hoje, as clientes são muito mais concientes de que quanto mais natural a aparência da micropigmentaçao, melhor, mas olha, 17 anos atrás, era bem diferente… (risos).
Qual a diferença entre tatuagem e micropigmentação?
Acho que a principal diferença não é nem a técnica,que sim é totalmente diferente apesar de parecida (doido né?!), mas, a diferença real para mim é a intençao por trás desses procedimentos, o que as clientes realmente querem ao fazerem uma tattoo geralmente é exteriorizar uma parte da sua personalidade. Já com a micropigmentaçao, as clientes procuram corrigir ou delinear algo que não está ok na sua aparência.
Conte como tudo começou.
Tudo começou quando, durante o meu primeiro curso para micropigmentação, eu tive o privilégio de ter uma modelo fantástica, uma pessoa maravilhosa que havia perdido as sobrancelhas no processo de quimioterapia… Naquele dia, ouvindo a história dessa moça, dei o melhor de mim para recuperar um pedacinho da felicidade dela… e quando terminei, ao se olhar no espelho, ela chorou de emoção ao se reconhecer como a garota linda que era antes da doença… Meu coraçao ficou tão cheio de amor que daí para frente nunca mais parei de dar essa alegria a quem precisa.
Fui me especializando mais e mais, aprendi a fazer sobrancelhas e aréolas hiper realistas e confesso que sou viciada nessa sensação de fazer o bem!
Ver uma mulher chegar ao studio dentro de uma concha, toda envergonhada e machucada por muitas vezes ter passado por mais de um procedimento doloroso e caótico de mastectomia e sair algumas horas depois toda iluminada com sua essência feminina restaurada não tem preço! Aliás, não tem mesmo, tah, eu faço esse trabalho gratuitamente… sem ressalvas.
Ultimamente, tenho feito muitas tattoos para cobrir as cicatrizes das cirurgias. Algumas mulheres encaram essa nova fase como um recomeço e preferem tattoos florais que ornamentem o local das mamas ao invés de refazer as aréolas tradicionalmente. Eu adoro!
Quais são os desenhos mais pedidos?
Sem dúvidas, eu tatuo mais motivos florais e ornamentais nas minhas clientes de “cancerfree”.
Depois de quanto tempo do tratamento a mulher pode fazer a tatuagem ou micropigmentação?
O ideal é que o médico libere a paciente, o que geralmente acontece por volta de 6 meses após o término de toda parte mais agressiva do tratamento.
Comente sobre a sensação de ver seu trabalho pronto aliado à satisfação e elevação de autoestima da cliente.
Acho que é indescritível. Eu choro junto, viramos amigas! E elas me ajudam muito mais do que eu as ajudo. Com certeza, sou uma pessoa melhor graças às nossas conversas e ao compartilhamento de experiências.Aprendo a valorizar cada vez mais um simples respirar.
Você tem uma média de quantas tatuagens para cobrir cicatrizes e reconstruções de aréolas já fez?
Nossa, sei sim, não uma média, mas o número exato porque levo cada uma delas bem no meu coração. Posso dizer que já somos mais de 100 mulheres.
Depoimento de uma amiga e cliente falando sobre a importância de fazer este trabalho para elevar a autoestima e ‘apagar’ a marca de um período de dificuldade e sofrimento, ressignificando a vida.
“Durante anos, eu vivi à sombra dessa doença, que mesmo depois de me deixar, ainda existia nas marcas deixadas em meu corpo. Fui deixada pelo marido, me exclui da vida social e viagens. Durante 10 anos, apenas sobrevivi, trabalhando e tomando antidepressivos. Minhas cicatrizes me faziam ter vergonha até de tomar banho sem sutiã, eu não queria ver.
Um dia, fiquei sabendo desse trabalho da Jad por uma moça que trabalhava comigo. Entrei em contato e não acreditei que alguém pudesse me ajudar e compreender tão profundamente. Ela fez minha aréola que faltava e cobriu minhas cicatrizes com flores de cerejeira e simplesmente não cobrou nada além de uma conversa longa e sincera. Hoje, tenho um companheiro e me permito fazer tudo que quiser, biquíni, praia, decotes, voltei a viver! Sou imensamente grata!”
Maria do Carmo
Enfermeira pediátrica