Taxado como uma doença pela OMS, alcoolismo ainda lida com preconceitos

O ‘Alcoólicos Anônimos’ (AA) é uma irmandade de homens e mulheres que juntos lutam contra o alcoolismo.
Marco, membro do AA há 3 anos, conta que o grupo possui 70 anos de existência no Brasil e é baseado no programa dos doze passos. “Esses princípios são de grande importância, já que incentivam os membros a realizarem atos que os tiram de suas zonas de conforto. Dentro desses passos, há metas e desafios a serem cumpridos. Além disso, há o incentivo da busca por um Poder Superior para auxiliar o alcoólico a voltar à sanidade. O legal disso é que nunca rotulamos esse poder como Divino, cada um o busca ajuda naquilo que acredita”, explica Marco.
O membro da irmandade ainda ressalta que, dentro do grupo de apoio, não há rótulos e nem exposições. “Quando recebemos um novo membro no AA, ele nunca é taxado como alcoólico. O indivíduo é que irá se auto identificar como um dependente ou não. É necessário ter aceitação de quem se é e, sobretudo, por conta própria”, comenta.

Dificuldades e preconceitos
O alcoolismo é considerado uma doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por isso, o grupo de Alcoólicos Anônimos trata o problema da mesma maneira. “É uma doença progressiva e que não possui cura. Podemos controlar, mas nunca nos livramos dela”, afirma Marco.
O membro ainda afirma que um alcoólico não possui controle de seu consumo, por isso, esbarra com dificuldades em levar uma vida tranquila. “Há pessoas que nos procuram com suas vidas pessoais completamente desestruturadas. Alguns perdem o emprego, a família e passam a viver pelas ruas”, explica. “No fim das contas, a pessoa acaba sendo vítima de preconceito, pois, é vista como uma qualquer, como uma pessoa sem controle de si própria. Infelizmente, o que poucos sabem é que o consumo desenfreado da bebida se trata de uma doença que merece atenção como qualquer outra”, continua.
Problemas de aceitação também são vistos com frequência em grupos como esses. “Sempre visamos a afirmação por conta própria. Muitos possuem o receio de nos procurar, pois, lá dentro, incentivamos o não consumo da bebida, e, por se tratar de uma ‘droga lícita’, não querem deixá-la. Por isso, a busca pelo AA deve ser uma decisão consciente do indivíduo. Há quem não queira parar de beber, e se uma pessoa não quer ser ajudada, não há quem possa fazer isso por ela”, pondera.
“Quando uma pessoa que sofre com o alcoolismo passa a entender isso e a aceitar que não pode ter contato com o álcool, ela passa a ter uma vida normal”, afirma.
Além disso, é importante manter atenção sobre recaídas. “Como já fora dito anteriormente, o consumo desenfreado de álcool se trata de uma doença, tal como a diabetes. Se nesta não se pode ingerir açúcar, no alcoolismo não se pode ingerir o álcool, simples assim. O que muitos acabam pensando é que, por se verem livres da bebida por um longo período de tempo, se voltar a consumi-la em pequenas quantidades, não a terá como um problema novamente, o que não é verdade. Em curto prazo, esta pessoa não sentirá grandes efeitos, mas, as grandes recaídas virão como um gatilho para a vida que ela deixou para trás”.
Para Marco, trata-se de um processo difícil e que demanda muita perseverança. “A vontade virá, mas ouvir e compartilhar experiências são uma grande motivação para a recuperação. Conheço pessoas que tiveram suas vidas transformadas pelo programa ao se verem livres do álcool”, finaliza.

As reuniões acontecem toda sexta-feira, às 19h30min, no Salão Paroquial da Igreja Matriz Santa Gertrudes. Não há cobrança de nenhuma taxa, sendo o grupo inteiramente voluntário.