“Após o meu casamento e vir morar na cidade, eu tive que comprar um fogão a gás, mas, mesmo assim, eu trouxe comigo a minha paixão pelo fogão a lenha, e tive que mandar construir um em casa”
Como todos sabem, o fogão e/ou forno a lenha é artefato muito útil e utilizado desde os tempos mais remotos para cozimento dos alimentos após o domínio do fogo pelo homem. Antigamente, todas as donas de casa faziam suas comidas nele, que tem diferencial especial no sabor. Depois da chegada dos fogões a gás, ele passou a ser decorativo em diversas casas, mas, ainda há aquelas pessoas que não abrem mão de manter a tradição antiga acesa.
Durante a greve dos caminhoneiros no mês de maio, donas de casa acabaram optando pelo uso dele novamente. E donos de restaurantes que já utilizavam o fogão e forno a lenha afirmam que, nessa parte da falta de gás, não foram atingidos graças à tradição.
Clarice Tieghi, de 79 anos
Aposentada, dona de casa
A dona de casa, aposentada, Clarice Tieghi, conta que, desde quando nasceu, é acostumada a comer e fazer as comidas no fogão e forno a lenha. Quando se mudou do sítio para a cidade, fez de tudo para ter em sua casa um fogão a lenha.
“Antigamente, trabalhávamos bastante, era divertido e tudo mais. E, quando chegávamos em casa, éramos doidos pela comida de minha mãe. Morávamos no sítio e lá tinha um fogão e um forno a lenha, o sabor da comida era maravilhoso. E até hoje, se formos diferenciar o sabor das comidas feitas, uma no fogão a gás e outra no fogão a lenha, é completamente diferente. Tudo era no fogão a lenha, até para fazer café. Ou seja, fui acostumada desde pequena com ele. Mesmo tendo que começar o preparo da comida horas antes, o resultado era de dar água na boca”, afirma Clarice.
Clarice ainda acrescenta que “após o meu casamento, eu vim morar na cidade e tive que comprar um fogão a gás, mas, mesmo assim, eu trouxe comigo a minha paixão pelo fogão a lenha e tive que mandar construir um em casa. E até ficar pronto, cozinhávamos pouco no a gás, pois, foi muito difícil me acostumar. No começo, eu não conseguia nem comer. Mas, com um esforço, tive que me acostumar, porque, querendo ou não, é trabalhoso fazer todas as comidas no fogão a lenha”, comenta.
Sobre as lenhas, Dona Clarice conta que, hoje, consegue manter o fogo com madeiras. Mas, antes, ela e seus irmãos tinham que ir buscar em lugares específicos que tinham a lenha. “Hoje, eu uso bem pouco o fogão a lenha, uso mais o a gás. Mas, sempre que faço os almoços de domingo com minha família, faço questão de acordar bem cedo e começar a fazer a comida para eles, com todo amor e carinho”.
Na casa de Clarice, há uma horta, onde ela planta todos os seus temperos que são utilizados por ela e sua família. “Antigamente, nós mesmos que plantávamos e colhíamos as nossas comidas. Meu pai plantava de tudo, só tínhamos que comprar o açúcar. Arroz, feijão, saladas, tudo nós tínhamos plantados. Quando vim para cá, tive que fazer a minha hortinha também! Infelizmente, não consegui plantar de tudo, mas planto e colho o necessário para mim e para minha família. Gosto tanto da minha hortinha que, quando eu não tenho tempo de cuidar dela, me sinto mal porque não me vejo sem ir lá, sem ter meu tempinho para ela”, completa.
Horta de Dona Clarice Tieghi
Sobre a greve e a falta de botijões de gás, Clarice diz que não se sentiu atingida. “Falei até para meus filhos: ‘se precisarem podem vir aqui, faço a comida para vocês no fogão a lenha e vocês levam para casa’”, finaliza.
Restaurantes
Antônio Carlos Risonho, atual proprietário do ‘Restaurante Dona Maria’, conta que faz mais de 40 anos que trabalha com fogão e forno a lenha. Desde quando foi fundado o restaurante, sua mãe, Dona Maria, já trabalhava com isso. “Quando morávamos na Usina Ester, tínhamos em casa também. Então, assim que minha mãe abriu o restaurante, ela trouxe para cá também. E vejo que esse é o diferencial do nosso restaurante”, completa.
Antônio Carlos Risonho, de 64 anos
Dono do Restaurante Dona Maria
Aposentado
Antonio concorda que o sabor das comidas feitas no fogão a gás é muito diferente das comidas feitas no fogão a lenha. “Preferimos sempre fazer nossas comidas no fogão e no forno a lenha, pelo diferencial do sabor e qualidade.
Sobre a greve e a falta de botijões de gás, conseguimos nos virar tranquilamente com o nosso fogão a lenha, mesmo com o tempo demorado da finalização no preparo das comidas”, finaliza.
