Pedro sempre foi um bom rapaz. No colégio, nunca deu problemas. No segundo ano da faculdade, ele estava feliz e ansioso por “descobrir o mundo”. Sempre se considerou um jovem mediano. Nem muito bonito, nem muito feio. Nem rico, nem pobre. Suas notas eram pouco acima da média; porém, ele se esforçava muito para obter esses resultados. Talvez, por nunca ter sido um expoente, Pedro chegou a pensar que precisava avançar mais no autoconhecimento e entender melhor o propósito de sua vida. “Por que essa insatisfação se aparentemente tudo está bem?”, pensava ele. Alguma coisa estava errada, mas ele não sabia exatamente o que era. Como alguém pode sentir falta de algo que não sabe o que é? Como identificar o que falta? Ele tinha terminado fazia pouco tempo um namoro que havia durado seis meses. Entretanto, aos quatro meses de relacionamento, Pedro havia percebido que não daria certo. Estava sozinho, mas convicto de sua decisão. Na faculdade, estava feliz com o curso de Publicidade. Seu pai havia conseguido se aposentar. Tudo estava bem.
Mesmo assim, algo parecia fora de seu controle. Um vazio sem sentido insistia em agulhar seus pensamentos. Um dia, enquanto voltava para casa, o ônibus parou no sinal vermelho, no mesmo semáforo onde ele sempre parava em seu trajeto costumeiro. No entanto, algo lhe chamou a atenção naquele dia. Um muro pichado continha uma frase escrita com uma caligrafia horrível: “Todo homem carrega em si um vazio do tamanho de Deus”. Pedro leu a frase umas cinco vezes até que o ônibus finalmente seguiu em frente. Ali mesmo, pesquisou na internet e descobriu que essa frase era creditada a Fiódor Dostoiévski, um romancista russo, considerado um dos melhores do mundo. Ele tinha ouvido falar desse escritor, mas não se lembrava de ter lido alguma coisa de sua autoria.
Pedro deixou o escritor de lado e se concentrou na frase: “Todo homem carrega em si um vazio do tamanho de Deus.” Naquele momento, o rapaz começou a se perguntar se era disso que ele sempre sentia falta. O que lhe faltava seria Deus? Pedro nunca tinha sentido falta de Deus; ele sequer tinha religião. De repente, as coisas começavam a fazer sentido. Naquele momento, seus olhos se abriram para um aspecto da vida que ele nunca dera importância: a religiosidade (ou espiritualidade). Quando chegou a sua casa, foi procurar uma Bíblia. Começou a ler o livro de Gênesis e, só depois de dez minutos, lembrou que ainda estava com a mochila nas costas. Tirou a mochila, trocou a roupa e não percebeu que a hora do almoço já havia passado. A Bíblia rapidamente se apresentou como um livro rico em mistérios, cheio de conceitos que ele não compreendia. Passou a ler a Bíblia uma hora por dia e, em duas semanas, estava convencido de que precisaria de ajuda para satisfazer sua sede de Deus e de espiritualidade.
Talvez fosse o momento de procurar ajuda. Ele considerou seriamente a possibilidade de ir a uma igreja. Lembrou-se de um grande e animado templo perto de sua casa. Ali havia cultos todos os dias e estavam sempre cheios. Pedro se preparou como pôde, pois não tinha ideia do que encontraria naquele dia. Chegou tímido como naturalmente era e pensou em sentar-se na última fileira para dali observar tudo. Logo que entrou, foi surpreendido pelas músicas em alto volume. As pessoas em pé, com os olhos fechados e as mãos erguidas se balançavam de um lado para o outro, cantando a letra da música que repetia a mesma frase várias vezes.
Como não sabia o que fazer, ele não fez nada. Encostou-se em uma quina ao fundo do templo e viu que muitas pessoas choravam enquanto cantavam. Ele percebeu uma ênfase nas emoções. A música alta, as repetições das frases cantadas, o embalar do corpo, tudo exercia um forte impacto. Qualquer um poderia ser facilmente envolvido pelo ambiente. Pedro resolveu permanecer um pouco mais e ver o que aconteceria. Ele tinha ido à igreja para receber esclarecimentos sobre a Bíblia, não para participar de um evento tão emocionante.
Enquanto ele esperava, as coisas só se tornavam mais envolventes. A música progredia com fortes apelos. Então, ele ouviu as pessoas falarem coisas que não podia entender. Algumas giravam em torno de si mesmas e caíam ao chão. Outras choravam e pareciam experimentar algo muito envolvente. Pedro se arrepiou dos pés à cabeça e ficou feliz por ninguém perceber sua presença ali.
Assim que pôde, saiu e voltou para casa bem confuso. Ele fazia inúmeras perguntas a si mesmo: Em que momento eles estudavam a Bíblia? Seria tudo aquilo a manifestação de Deus, de quem ele sentia falta? Será que ele estava cheio de preconceitos filosóficos e, por isso, não reconhecia a atuação do Espírito Santo?
Extraído da Revista Esperança Viva
Uma Escolha Inteligente
Igreja Adventista do 7º Dia