Um legado: Professora Maria Helena fala sobre sua vasta carreira na área da Educação

“Se eu tive mil, dois mil, ou três mil alunos, cada um deles foi diferente um do outro. É essa a diferença entre cada criatura que você tem que prestar atenção e valorizar...”

Maria Helena Cardia Morelli nasceu em Laranjal Paulista há 85 anos. Ao longo de sua vida, morou em diversos lugares, em Tietê, Piracicaba… Sempre se mudando por causa de sua profissão.
Foi educada em um colégio de freiras, em Laranjal, e se formou como professora em Tietê. Em Piracicaba, fez uma especialização em ensino pré-primário, época que diz ter sido muito difícil. Após mudar de cidade em cidade no começo da profissão, ela finalmente chegou a Cosmópolis em 1960, a princípio, hospedada na casa de seu tio, Célio Rodrigues Alves, que teve seu nome eternizado na escola localizada na Rua dos Sorocabanos, no Jardim das Andorinhas. Na cidade, conheceu Ruy Morelli, seu marido até hoje, namorou, noivou, se casou depois de dois anos, e teve dois filhos, Patrícia e Ruy Fernando. Hoje, possui 4 netos e mais 2 bisnetos.
Carreira na cidade
“Eu vesti a camisa de Cosmópolis, isso eu tenho certeza absoluta que fiz”. Essa é a primeira frase dita sobre a vida como professora na cidade. Desde 1960, ela já lecionou em incontáveis instituições, não só na zona urbana, mas também na rural, de início, como ‘substituta efetiva’. Em 1968, ingressou no Estado, após prestar um curso. Devido à sua posição na classificação geral, optou ir para São Luiz do Paraitinga, onde ficou por um ano. Maria Helena diz que o período passado na cidade foi uma verdadeira lição de vida, e que além de lecionar, aprendeu muitas coisas com o povo da histórica cidade.
Ao voltar para Cosmópolis, veio direto para a escola Rodrigo Octávio Langaard Menezes, na época recém inaugurada, onde pode aplicar os conhecimentos ganhos em sua especialização em pré-primário. Na instituição, lecionou por cerca de 18 anos. Foi lá onde seu trabalho foi muito reconhecido, foi por meio dele que saiu a ideia de usar seu nome em uma das escolas da cidade. “Foi uma compensação muito gratificante e importante na minha vida”.
Aposentou por um tempo, mas logo já quis voltar ao trabalho. No mandato do Prefeito Oswaldo Nallin, trabalhou por 5 anos como coordenadora dos parques infantis, quando colaborou com a remodelação dos parques, que viraram salas de pré-primário. “Os conhecimentos que a gente tem, que vai adicionando conforme a vida vai passando, você vai dividindo com os professores, porque os professores também sabem muito, então a gente ensina e aprende; a vida inteira é assim”, diz a Professora.
Passado o período de mandato do prefeito, ela ficou por 7 anos sem trabalhar. Até que voltou, e se juntou ao PROLAR, onde diz ter tido sua maior lição de vida. E por que? Ela responde: “Eu adoro trabalhar com as pessoas humildes, e lá, só tem quase isso. As crianças são muito dependentes da gente, elas são maravilhosas e eu digo que lá era como se fosse um santuário pra mim. Eu vi lá dentro que eu sabia muito pouco, e tinha muito o que aprender, porque não era um ensino como esse que temos as cadeiras enfileiradas, lá é um ensino adverso, de recreação, esporte, cultura, música, muita coisa diferente. E tive que aprender tudo de novo”. Ela ficou no PROLAR por 4 anos, durante o mandato do Prefeito Mauro Pereira. “Eu tenho uma gratidão imensa por ele ter me incumbido desta obrigação”.
Após pensar que não trabalharia mais na vida, foi convidada a participar do Projeto Despertar, iniciativa da Petrobras, serviço semelhante ao que era implantado no PROLAR. No novo projeto, havia a possibilidade de escolher e ajustar a afinidade de cada professor a cada tipo de área, o que ela diz ter facilitado muito o serviço.
Foram 12 anos no projeto, com renovações de contrato anuais, que parou quando houve uma remodelação vinda de dentro da Petrobras. Por causa do projeto, ela ganhou um prêmio nunca citado antes por ela, pelo qual orgulha muito e diz ser o maior de sua vida. No aniversário da empresa, estavam sendo selecionadas pessoas que “inspiraram a Petrobras”. E então, ela foi selecionada. Para sua surpresa, em visita à refinaria, havia um painel enorme com uma foto sua com mais 5 crianças, “com dizeres maravilhosos como nunca vi em minha vida”.
Dentre todos os homenageados, ela é a única professora, o que, com certeza, é motivo de muito orgulho, e a traz o sentimento de recompensa por todo o trabalho feito durante os anos vividos na profissão. “Foi uma choradeira só, foi lindo”. E por fim, aos 79 anos, ela parou de vez de trabalhar. “Depois de toda essa correria, essa luta, na Prefeitura, no Rodrigo, nos projetos…”
“Se eu tive mil, dois mil, ou três mil alunos, cada um deles foi diferente um do outro. É essa a diferença entre cada criatura que você tem que prestar atenção e valorizar”. Ela diz que sempre procurou olhar o lado em que o aluno precisa do professor, e buscar sempre atender a cada um deles da melhor maneira possível. “Está na sua mão. Este é o valor do professor pra mim. Eu acho o professor, a carreira mais linda que existe no mundo. Adoro o ensino público e o privado também, todos têm seu valor”. Ela sempre disse a seu filho, hoje na profissão: “Não seja um professor, seja o professor”.
A Professora fala que, em sua época, a área era muito mais valorizada, tanto pelo estado, quanto pela sociedade, e que com o tempo, a desvalorização da profissão infelizmente aconteceu.
Hoje, ela aproveita seu hobby favorito, a leitura, juntamente com a companhia da família, pela qual é apaixonada. “Procuro manter pelo menos duas coisas das quais faço questão de ter: Equilíbrio e a minha Fé, vou com ela até o fim”. Ela finaliza dizendo: “Hoje vivo rodeada de meus netos, que amo de paixão. Defeitos? Todo mundo tem, mas têm tantas qualidades…”.
Quando o assunto é educação, o brilho nos olhos de Maria Helena ilustra perfeitamente e faz desnecessário o uso de palavras para se falar do tema, e sua humildade é uma lição a todos os que já viveram à sua volta por algum momento. Professores realmente mudam vidas, e ela, com certeza, mudou a de muitos.

Uma professora mais do que especial
“Não tem como pensar na pré-escola e não lembrar da ‘Dona Maria Helena’. Atenciosa, com paciência e muita sabedoria, foi com ela que aprendi a segurar o lápis e fazer meus primeiros traços, dando início ao processo de alfabetização – um privilégio do qual tenho orgulho, de quando passei pela inesquecível Escola ‘Rodrigo’… Seus desenhos na lousa, até hoje, quando fecho os olhos, ainda são perfeitos em minha imaginação.
De geração em geração, ela fez sua história na cidade. Hoje, me sinto emocionada e muito feliz em poder divulgar um pouco de sua trajetória para deixar registrado o quanto seu trabalho teve, e ainda tem, muita importância para a educação – um legado de grande valor” – Luciana Cazella D’Aolio, Editora-chefe da Gazeta de Cosmópolis.