Um piano não faz um pianista

Rodrigo Bueno (Cebola), saxofonista e evangélico da Igreja Assembleia de Deus Madureira (Cosmópolis)

Um consagrado pianista realizava sua turnê pela Europa. Enquanto se apresentava no teatro de Roma, na plateia, uma idosa italiana, amante incodicional do musicista, se deliciava com a leveza das peças musicais e se emocionava com a destreza e precisão que aquele pianista tangia o seu instrumento. Ao término do espetáculo, a mulher se dirigiu para perto do palco, onde o músico distribuia autógrafos e tirava fotos com os fãs, e emocionada lhe disse: “Mas que belíssima apresentação, eu daria a minha vida para tocar piano assim”. O pianista lhe respondeu: “Eu dei a minha”.
A vida não nos apresenta como um passe de mágica onde tiramos da cartola nossos sonhos mirabolantes, ou como o Gênio da Lâmpada pronto a realizar nossos audaciosos desejos. Antes, exige de nós esforço, disciplina, dedicação e comprometimento. Afinal de contas, nada cai do céu, além da chuva, e um piano não faz um pianista, a menos que haja total esforço e dedicação no aprendizado e aperfeiçomanto.
A plateia vislumbrada com a apresentação, tal como a senhora diante do pianista, mal sabe o que existe por trás das cortinas ou por trás de cada tecla do piano: alguém que começou a dedilhar as primeiras escalas musicais, que foi desafiado a desistir diante da complexidade das divisões e partituras, diante de alguém que rompeu longas horas de estudo, alguém que literalmente se doou.
Enquanto a mulher viajava, desfrutava dos bons momentos que a vida lhe proporcionava, descansava e sonhava, o pianista estudava, rompia madrugadas a fio, executava partituras complexas, para que pudesse olhar para o passado e encaixar o seu verbo no pretérito perfeito: “Eu dei”.