Um consagrado pianista realizava sua turnê pela Europa. Enquanto se apresentava no teatro de Roma, na plateia, uma idosa italiana, amante incodicional do musicista, se deliciava com a leveza das peças musicais e se emocionava com a destreza e precisão que aquele pianista tangia o seu instrumento. Ao término do espetáculo, a mulher se dirigiu para perto do palco, onde o músico distribuia autógrafos e tirava fotos com os fãs, e emocionada lhe disse: “Mas que belíssima apresentação, eu daria a minha vida para tocar piano assim”. O pianista lhe respondeu: “Eu dei a minha”.
A vida não nos apresenta como um passe de mágica onde tiramos da cartola nossos sonhos mirabolantes, ou como o Gênio da Lâmpada pronto a realizar nossos audaciosos desejos. Antes, exige de nós esforço, disciplina, dedicação e comprometimento. Afinal de contas, nada cai do céu, além da chuva, e um piano não faz um pianista, a menos que haja total esforço e dedicação no aprendizado e aperfeiçomanto.
A plateia vislumbrada com a apresentação, tal como a senhora diante do pianista, mal sabe o que existe por trás das cortinas ou por trás de cada tecla do piano: alguém que começou a dedilhar as primeiras escalas musicais, que foi desafiado a desistir diante da complexidade das divisões e partituras, diante de alguém que rompeu longas horas de estudo, alguém que literalmente se doou.
Enquanto a mulher viajava, desfrutava dos bons momentos que a vida lhe proporcionava, descansava e sonhava, o pianista estudava, rompia madrugadas a fio, executava partituras complexas, para que pudesse olhar para o passado e encaixar o seu verbo no pretérito perfeito: “Eu dei”.
Um piano não faz um pianista
21 de agosto de 2020 Variedades
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