Você imaginaria uma cidade constituída por Paulínia, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho e Holambra, formando, desta junção, o município de Cosmópolis. Com certeza, seria um dos maiores produtores agrícolas e industriais do Brasil, uma verdadeira metrópole do progresso.
Nos anos de 1930, era a pretensão da comissão emancipalista de Cosmópolis, formada por membros dos então distritos de Campinas e Mogi Mirim. Um ambicioso projeto político, unindo os mais progressistas distritos da região oeste paulista, idealizado por visionários como Moacir do Amaral e Orlando José Kalil Aun.
Um sonho que somente não foi concretizado devido às intensas conspirações políticas, contrárias à anexação dos distritos e fundação do futuro município de Cosmópolis. Conspirações financiadas por interventores políticos de Mogi Mirim e Campinas, cidades detentoras das terras e dos lucros obtidos nos territórios.
A possível união dos distritos surgia depois da Revolução Constitucionalista de 1932, gerada pelas retaliações do ditador Getúlio Vargas, às cidades participantes do movimento. Campinas, ao lado de São Paulo, eram as cidades comando do movimento, responsáveis pelas principais ações da revolução.
No período da revolução, as cidades foram inúmeras vezes bombardeadas por tropas federais, resultando em vários mortos e feridos.
Com as diminuições nos repasses federais, ordenados por Getúlio, Campinas reduzia os investimentos fora da cidade, deixando seus distritos, como Cosmópolis, em situação precária.
Assim surgia o movimento pró-emancipação de Cosmópolis, que, na união com os outros distritos, seria autossustentável financeiramente, estando apto em exigir sua emancipação política e administrativa.
Até 1944, ano que marcaria o processo final de emancipação de Cosmópolis, as posições políticas contrárias à união dos distritos ficavam mais intensas. Entre os principais líderes do movimento contrário, estava Raul Grosso, então escrivão de paz e tabelião de Artur Nogueira.
Ferrenho opositor da união das terras do distrito de Artur Nogueira, formada pelas atuais cidades de Engenheiro Coelho e Holambra, criou um movimento contrário à emancipação cosmopolense.
Raul passou a reunir assinaturas contrárias à emancipação e união das terras, buscando enfraquecer o grupo emancipalista junto ao governo Estadual e Federal. Suas constantes intervenções políticas tornavam-se ainda mais exaltadas em textos publicados em nome da população nogueirense.
Raul não escondia nas suas publicações, indiretas aos membros do grupo emancipalista cosmopolense, intitulando os participantes de aventureiros, oportunistas e bairristas.
O ano de 1938 marcaria o auge deste movimento contrário à emancipação cosmopolense, registrado em exaltados textos nos jornais “Diário do Povo”, de Campinas, e “A Comarca”, de Mogi Mirim. Extensos e pragmáticos textos, direcionados às comissões estaduais que estudavam o processo de emancipação, assinados por Raul Grosso e Ataliba da Silveira Franco, então prefeito de Mogi Mirim.
Reunindo apoiadores em outras cidades, com ajuda de políticos de Campinas e Mogi Mirim, desvencilhavam do grupo cosmopolense, os membros de Paulínia. Na época, constituído na sua maioria por famílias nogueirenses, residentes em Paulínia. Outro motivo da saída paulinense foi a ambição em proclamar sua própria emancipação de Campinas. Com a instalação da Rhodia, em 1942, Paulínia superava os rendimentos de Cosmópolis, tornando-se autossustentável para exigir sua total emancipação. Fato que somente aconteceu nos anos 1960.
“Convém notar que nem toda população de Cosmópolis é favorável à criação do município”. Esse “precioso trabalho” é feito por três ou quatro pessoas que já têm os melhores cargos do “sonhado” município.
Será que essa gente não percebeu que Cosmópolis será fulminada quando a Usina fechar as porteiras? Cosmópolis não tem vida própria e quem mantém o comércio daquela vila é a Usina. Bela renda para um município! Já dá para fazer cantar um cego. Artur Nogueira está sendo envolvida nesse “município sonhado” por alguns de seus moradores” (…). Trechos de um extenso texto escrito por Raul Grosso, no Diário do Povo, edição de 24/10/1938.
Por trás das conspirações e levantes de Raul, estavam, na verdade, outras razões pessoais, como a perda da autonomia dos serviços de juiz de paz e cartório de Artur Nogueira. Com a emancipação e união das terras, os serviços seriam realizados totalmente em Cosmópolis, encerrando seus trabalhos como representante de Mogi Mirim.
Em resposta às várias publicações contrárias à emancipação, Dr. Orlando Kalil, principal interlocutor cosmopolense, escrevia direcionando ao movimento liderado por Raul Grosso.
“Cosmópolis já se acha nas condições de pleitear a sua independência administrativa. Não se trata absolutamente de interesse de meia dúzia de pessoas, como alguns querem interpretar e interpretam erroneamente, mas palpitante questão de interesse de toda população de Cosmópolis.
Estudam-se os municípios paulistas e verifica-se que muitos estão nas condições de renda e população de Cosmópolis. Cosmópolis é uma das maiores, senão a maior, das sedes dos distritos de paz do Estado. Tem, atualmente, mais de três mil habitantes na sede e mais de 12 mil no distrito (…).
Atingiu nosso distrito um grau de desenvolvimento tal que pode preencher todos os requisitos exigidos por lei para a sua elevação de município. Estamos prontos ‘’ (…). Trechos do texto, publicado na edição do dia 28 de setembro de 1938, do jornal Diário do Povo.
Dr. Kalil ressaltava nesta publicação que Cosmópolis possuía outras rendas agrícolas, não somente as produzidas pela indústria canavieira, destacando as produções de cereais, frutas, e o cultivo de algodão, base das tecelagens locais.
“Com, ou sem, Artur Nogueira, seremos a cidade de Cosmópolis”, seguia como lema o novo movimento pró-emancipação de Cosmópolis.
Depois de muitas lutas e intensas conspirações contrárias, a comunidade cosmopolense alcançava seu objetivo, a emancipação política e administrativa de Campinas. Em visita ao distrito federal, então sediado no Rio de Janeiro, Dr. Kalil conseguia o apoio de Getúlio Vargas, governador Fernando Costa, juristas como Rodrigo Langaard de Menezes e o deputado Professor Campos Vergal, entre outros importantes nomes públicos.
Em 30 de novembro de 1944, o decreto de lei estadual nº 14.334, assinado pelo governador Fernando de Sousa Costa, criava o município de Cosmópolis. Nascia a cidade de Cosmópolis, sendo acrescida de partes dos territórios de Artur Nogueira e Limeira. Estando no regime ditatorial de Getúlio Vargas, não havia eleições diretas para prefeito, não existindo até mesmo Câmara de Vereadores.
Por indicação da população cosmopolense, em 05 de dezembro de 1944, eram nomeados os chefes do executivo municipal. O Estado nomeava como primeiros prefeitos de Cosmópolis, Dr. Moacir do Amaral e Caetano Aquiles Avancini, empossados oficialmente no dia 01 de janeiro de 1945.
Texto: Adriano da Rocha
Historiador, responsável pela página e blog Acervo Cosmopolense