Usada como símbolo, a tatuagem ganha força entre as cosmopolenses

Com provas arqueológicas de sua existência desde os anos 4.000 e 2.000 a.C. no Egito, a tatuagem ganha, a cada ano, mais força entre a população brasileira. Naquela época, ela servia para representar a personalidade das pessoas e/ou indicar de quais comunidades eram os indivíduos tatuados. No início da era moderna, o preconceito tomou conta da situação e a tatuagem passou a ser vista como marginalidade.

Décadas depois, essa história mudou e a tatuagem passou a ser vista como arte para uns e liberdade de expressão para outros. O tatuador Luíz Leite de Melo (51) começou a trabalhar no ramo no ano de 1988 após descobrir-se ser um apaixonado por artes. Para melhorar seu desempenho com os desenhos, “Tilo”, como é conhecido em Cosmópolis, fez curso superior de graduação em Educação Artística e custeou todas as mensalidades do seu curso com os ganhos através das tatuagens. Após a formatura, “Tilo” passou a trabalhar apenas com “tatoos” e piercings.

Laís Bromel, professora

Laís Bromel, professora

Em Cosmópolis, “Tilo” tatua no seu próprio estúdio há 12 anos. Ele lembra que, no começo, “havia, sim, preconceito em relação às pessoas com tatuagens”. Com o aumento no número de tatuados e tatuadores, esse quadro mudou. Hoje em dia, em seu estúdio, cerca de 60 pessoas fazem algum tipo de tatuagem por mês. Destas, a maior parte são mulheres.

Para dar conta da demanda, “Tilo” conta com a ajuda do tatuador Danilo Vilhena Ramos (18) que, apesar da pouca idade, já é bem conhecido pelo seu talento com as agulhas. Tatuador há pouco mais de um ano e meio, Danilo já tem certeza de que é nessa área que deseja seguir. Em parceria com “Tilo”, Danilo tatua cerca de 30 pessoas no mês e sente-se feliz com o resultado e a satisfação das pessoas.

A procura pelas ‘tatoos’ vem de pessoas de qualquer idade. “Tilo” conta que já tatuou uma senhora de 75 anos e foi super tranquilo. Por se tratar de uma lesão superficial, a tatuagem não possui restrições de peles. A única restrição é a da lei estadual 9.828/97 de autoria do deputado Campos Machado, onde diz que “os estabelecimentos comerciais, profissionais liberais, ou qualquer pessoa que aplique tatuagens permanentes em outrem, ou a colocação de adornos, tais como brincos, argolas, alfinetes, que perfurem a pele ou ombro do corpo humano, ainda que a título não oneroso, ficam proibidos de realizarem tal procedimento em menores de idade, assim considerados nos termos da legislação em vigor. Excetua-se do disposto neste artigo a colocação de brincos nos lóbulos das orelhas”. Desta forma, além de ser proibida por lei, a aplicação de tatuagens em menores de idade não é aconselhável pelo fato de que, nesta fase, o corpo do adolescente ainda está em formação.

Como diz o ditado popular, “Quem faz a primeira sempre quer mais”, boa parte das pessoas que fazem a primeira tatuagem no estúdio de “Tilo” retorna para fazer outras. Com o público feminino em maior concentração, em seu estúdio, grande parte das tatuagens produzidas pelos tatuadores (Luíz e Danilo) são nomes de pessoas, frases e símbolos, do infinito por exemplo.

 “Tilo” tatua há mais de vinte anos e ama o que faz Danilo deseja seguir carreira profissional como tatuador

“Tilo” tatua há mais de vinte anos e ama o que faz

Casos bastante comuns entre as mulheres são a escrita do nome do parceiro no corpo e, em alguns casos, com o término do relacionamento, essas pessoas voltam ao estúdio para uma nova tatuagem sobre aquela que passou a ser indesejável. Quando os nomes são escritos emtamanhos razoáveis, há sim a possibilidade de uma tatuagem como forma de cobertura, mas, quando o nome é feito num tamanho elevado, o melhor a ser feito é a remoção da mesma a laser.

A professora Laís Giovanoni Bromel (24) é adepta das tatuagens. Com pelo menos sete desenhos artísticos pelo corpo, Laís conta que, para ela, a tatuagem é uma forma de expressar algum sentimento. Cada uma de suas tatuagens possui um significado. Dentre elas, tem uma que Laís adora em especial. É a de seu braço direito, que são quatro gatos. Segundo a professora, no Egito, os gatos são vistos como sagrados e, como possui quatro felinos, a consagração é nos quatro cantos do mundo (norte, sul, leste e oeste).

Laís não parou por aí. Além das sete tatuagens (todas muito coloridas) que possui em seu corpo, ela não esconde o desejo por fazer outros desenhos. “Estou entrando em abstinência porque quero fazer outra tatuagem há uns dois meses e meu tatuador está com a agenda tão cheia que ainda não consegui fazer”, revela a professora.

Sua primeira tatuagem foi aos 21 anos e seu maior receio era a sua mãe que, na época, não aceitava os desejos da filha. Talvez por sua religião ou talvez pelo preconceito com os desenhos no corpo. Aliás, o preconceito com relação às tatuagens é o que a jovem ainda enfrenta. Devido à sua profissão, Laís conta que já perdeu emprego e sofreu algumas repreensões por parte de algumas pessoas. Mas, para ela, o mais importante é a sua satisfação pessoal e a satisfação das pessoas que, assim como Laís, adoram esse tipo de arte visual.

Cuidados com a pele
Sejam desenhos, frases, símbolos… Enfim, qual quer que seja a arte com as agulhas, é necessário atentar-se aos cuidados pós-tatuagem. Por serem apenas perfurações superficiais, “Tilo” explica que não é necessária a ingestão de medicamentos. Entretanto, quem fizer uma tatuagem deve evitar o sol, água de mar ou piscina e sauna por 15 dias. Após esse período, vida normal.