Vacina contra HPV e câncer de colo uterino

A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo papilomavírus humano (HPV)

O câncer de colo de útero se caracteriza como uma doença crônica, de evolução lenta, silenciosa e progressiva, na imensa maioria das vezes, sequencial. Isso significa que algumas alterações, lesões no epitélio do colo do útero, que podem ser detectadas no exame de citologia (Papanicolau) são anteriores ao desenvolvimento do câncer. Essas lesões são classificadas progressivamente conforme a extensão do colo uterino atingida, em grau de lesões. Existem três categorias, ou grau de lesão, que são chamadas de NICs (Neoplasia Intra-epitelial Cervical ) sendo NIC 1 a mais leve, inicial, que regride espontaneamente na maioria dos casos, mas requer segmento periódico; NIC 2; e NIC 3, que são lesões de maior risco e vão necessitar de tratamento, em sua maioria, para eliminar a lesão.
A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo papilomavírus humano (HPV). A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente através de lesões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha) durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer através do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal.
A principal forma de prevenção, entretanto, é a vacina contra o HPV. Existem duas vacinas profiláticas contra HPV aprovadas e registradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que estão comercialmente disponíveis: a vacina quadrivalente, da empresa Merck Sharp & Dohme (nome comercial Gardasil), que confere proteção contra HPV 6, 11, 16 e 18; e a vacina bivalente, da empresa GlaxoSmithKline (nome comercial Cervarix), que confere proteção contra HPV 16 e 18. O Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal, em 2014, a vacina tetravalente contra o HPV para meninas e, em 2017, para meninos. Esta vacina protege contra os subtipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.
O grupo etário alvo da vacina são as meninas com idade entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos, pois esta vacina é mais eficaz se usada antes do início da vida sexual. Devem ser tomadas duas doses, com intervalo de seis meses. Grupos especiais, como pessoas com imunodeficiência causada pelo HIV, devem seguir orientações específicas. Para mulheres com imunossupressão, vivendo com HIV/Aids, transplantadas e portadoras de cânceres, a vacina é indicada até 45 anos de idade.
A meta é vacinar pelo menos 80% da população alvo para alcançar o objetivo de reduzir a incidência deste câncer nas próximas décadas no país. A vacinação, em conjunto com o exame preventivo (Papanicolaou) se complementam como ações de prevenção deste câncer. Mesmo as mulheres vacinadas, quando alcançarem a idade preconizada, deverão realizar o exame preventivo, pois a vacina não protege contra todos os subtipos oncogênicos do HPV.
Os países que já fazem a vacinação há mais tempo, como Austrália, já observam uma redução significativa nos casos de lesões precursoras, os chamados NICs, nessa população , efeito esse que deve aumentar conforme a vacinação se mantém efetiva .
O recado que fica é: mantenha seu exame ginecológico em dia, vacinem seus filhos contra o HPV (meninas e meninos) , pois a vacina está disponível pelo SUS , na rede pública , pois assim estará reduzindo muito o risco de que venham a ter câncer de colo uterino no futuro.

Cláudio Márcio Dantas
Ginecologista
CRM 72958
Clínica Materclin
F. 3872-2732