Zé Furlan conta a história e o amor pela coleção de carros antigos

A história com carros começou na adolescência, quando José Furlan ajudava seu pai nas negociações de automóveis. Nessa época, José, popularmente conhecido como Zé, dirigiu diversos veículos que hoje são considerados clássicos no mercado automobilístico. Foi nesse tempo que o amor começou. Entretanto, o primeiro carro antigo demorou para chegar.
Ele lembra que demorou para entrar no segmento, mas, sempre foi seu desejo. Já participando de diversos eventos e encontros de carros antigos, Zé decidiu comprar um Dodge Magnum 1975, mas, isso ocorreu somente por volta dos anos 2000. Desde então, o amor não parou. “Quando você faz um [carro], já está pensando em fazer outro e por aí vai”.
Vieram diversos carros, um Ford Landau; em seguida, um Chevrolet Opala E, que hoje pertence ao Lebrinha e foi trocado por um Corcel. Só então veio o famoso e respeitado Chevrolet Impala 1963. Mas, Zé não parou por aí, hoje, já conta com seis carros antigos.
Dentre eles, o Impala 63 se destacou por conta de sua raridade. O carro só teve dois donos, Antônio Batistela, que ficou 30 anos com ele, e Zé Furlan, atual proprietário – ele nunca foi restaurado ou modificado. Zé diz que já gostava do carro muito antes de se tornar proprietário. “Como eu já estava nesse segmento, conhecia o carro dele e tinha uma certa paixão, sempre soube um pouco da história dele”.
Ele lembra que esse carro foi muito desejado por diversos amantes de automóveis em Cosmópolis. “Muita gente queria comprar esse carro, mas, ninguém achava que ele venderia. Tinha até uma fila de espera, e eu acho que talvez ele não vendesse mesmo”.
Determinado, Zé decidiu ir conversar sobre o carro com o proprietário e foi então que conseguiu fechar o negócio. O colecionador recorda que o primeiro dono do carro afirmou que só venderia o Impala com a condição que Zé mantivesse o veículo preservado e na cidade. “Acredito que ele me vendeu o carro porque sabia que eu iria participar dos encontros e preservaria o carro”.
A negociação se deu por volta das 18h numa sexta-feira. Zé lembra que, chegando em casa, contou para sua mulher, Osmarilda Furlan, também apaixonada pelo Impala, que foi acender uma vela por conta da compra.
Dois dias depois, no domingo, foi a primeira vez que o novo proprietário dirigia o carro. “Lavei, fui à padaria e lá já me questionaram sobre o carro”.
Logo após a compra, Batistela fazia visitas frequentes à fábrica de refrigerantes, onde Zé guardava o carro, para verificar as condições e aí a amizade entre os dois se fortaleceu.
Após a compra, o filho de Zé reuniu fotos do carro e da família do primeiro dono. Essas fotos viraram um banner que contou boa parte da história do carro, inclusive, de quando o padre da cidade benzeu o carro.
Esse banner se tornou outro elemento diferencial que ajudou o carro contar sua história nos eventos que ele participou ao longo dos anos.

Estante de Prêmios
Zé conta que, para participar da primeira competição de carros antigos, foi preciso somente limpar o carro e colocar pneus de faixa branca.
O primeiro evento que o carro ganhou troféu, inclusive, o primeiro troféu de Zé, foi em Águas de São Pedro.
Nesse dia, Bernadete, filha do Batistela, também estava presente no evento e, ao ver o carro que pertencia ao seu pai receber uma premiação, chorou de alegria. “Eu não a tinha visto no primeiro momento, mas, depois de receber o troféu, fui comer em uma lanchonete e, do meu lado, tinha um casal comentando sobre uma mulher que chorava ao ver o Impala receber o troféu. Neste momento, a Bernadete entrou no mesmo restaurante. Depois disso, a levei para passear no carro”.
Desde então, o carro foi colecionando uma estante de prémios, em feiras nas cidades de Águas de São Pedro, Serra Negra, Campos do Jordão, Barretos e na mais importante feira de Águas de Lindóia, uma das mais consagradas feiras de antigomobilismo do Brasil.
O último prêmio conquistado pelo Impala foi em Vinhedo neste ano. Inclusive, o colecionador foi chamado para se tornar avaliador.
Zé conta que, além dele e da esposa, quem tem mais se entusiasmado com os prêmios é sua neta, de sete anos.
O diferencial do carro é que ele nunca foi restaurado e permanece inteiramente original, inclusive, os para-choques que têm o brilho de fábrica.
Um dos elementos de originalidade do carro são lembranças de uma viagem que o primeiro dono fez para o Rio de Janeiro em 1967. Um chaveiro do Rio de Janeiro e uma réplica em imã do Cristo Redentor que ainda se encontram no painel do carro.

A nova competidora
Atualmente, Zé tem levado em competições uma caminhonete Ford F100, que para ele é a aposta para novos prêmios. “No primeiro encontro que eu levei, ela já voltou com prêmio para casa”. O colecionador é o terceiro dono da caminhonete.
Ela já ganhou em Campos do Jordão, Águas de São Pedro e, agora, está em busca de conquistar o prêmio de Águas de Lindóia. “Tem que participar todo ano, um dia ela ganha”.

A preservação
O colecionador conta que, quando comprou o carro, não rodava tão macio quanto hoje. Ele explica que isso se dá porque o carro ficava muito tempo parado e isso não é recomendado.
Além disso, Zé afirmou que colocou uma direção hidráulica, mas, isso não foi fácil. Para manter a originalidade, ele teve que importar uma direção original. “Na época, era cara. Gastei R$ 3.5 mil”.
Todo cuidado é importante, como limpeza, exposição ao sol, calibragem dos pneus e mecânica. “Eu não deixo os carros dormirem em qualquer lugar, eles têm que ficar na garagem e com capa”.
Com relação à mecânica, o colecionador recomenda que se deve sempre manter o carro rodando, principalmente, para que o proprietário consiga sentir os defeitos e mandar arrumá-los. “Chega uma hora que você já corrigiu todos os defeitos que o carro poderia ter; depois disso, é importante manter a rotina e arrumar todos os problemas”.

O futuro
“Eu desejo que todos os meus automóveis continuem sendo preservados, são todos minhas paixões. Se um dia passar para os meus filhos, desejo que eles conservem também, mas, não adianta guardar e deixar lá, tem que cuidar e andar”. É dessa forma que o colecionador deseja que seja o futuro de suas máquinas.
“Não me arrependo de ter entrado, foi e é minha paixão. Fico orgulhoso das amizades que eu fiz e acredito que me fez muito bem toda essa história que vivi e ainda vivo”, finaliza Zé.
Segundo ele, pode até ser que os outros carros sejam vendidos, mas, o Impala, sua mulher jamais deixará sair de casa.