Uma personalidade do município de mente criativa e romântica, que improvisava poemas somente de olhar para as pessoas
“Vou fazer da minha saudade uma ponte bem comprida para chegar na eternidade e rever minha querida”
José Orlando Serafim, mais conhecido na cidade como Zé Lando, faleceu aos 75 anos de idade. Ele era aposentado, mas, continuava ativo, entregando diversas mensagens diariamente em Cosmópolis e também em Artur Nogueira. Uma personalidade do município de mente criativa e romântica, que improvisava poemas somente de olhar para as pessoas. Ele era uma pessoa muito conhecida, com muitos amigos e personalidade ímpar. A morte do poeta impactou a cidade de Cosmópolis na manhã desta quarta-feira, 20, com sua partida, vítima de uma hepatite.
Zé Lando foi parceiro do Jornal Gazeta de Cosmópolis por muitos anos e toda a equipe se solidariza com a família neste momento de dor, com saudade e gratidão.
Começou escrevendo o quadro ‘Recordar é Viver’, trazendo de volta lembranças e memórias de muitas pessoas da cidade. Também foi colunista do ‘Caderno de Jesus’ e, atualmente, contribuía com os quadros ‘Piada’, ‘Coisas da Vida’ e ‘Palavras & Poemas’.
Relembre uma reportagem, publicada um ano atrás, com parte da história desta grande personalidade, que deixa muita saudade…
O início
“Comecei a distribuir as mensagens colocando folhetos de igreja nas
caixas de correio. Levava as mensagens comigo e entregava para as
pessoas que estavam andando na rua. Agora, levo direto a mensagem. Gosto
de fazer isso nos lugares que tem bastante gente”, conta Zé Lando. Ele
ainda fala que já entregou mensagens por toda Cosmópolis e, agora, está
explorando Artur Nogueira. “Em Artur Nogueira, eu desci do ônibus,
peguei uma rua, entrei numa ciclovia e resolvi entregar os bilhetes ali
mesmo.
Às vezes, algumas pessoas passavam de bicicleta e levavam o bilhete. É
algo que está dando certo”, afirma.
Amizades
“Faço muitas amizades, têm pessoas que eu não conhecia e estou
conhecendo agora e até mesmo pessoas antigas que não via há tempos e
estou revendo agora”, fala.
“O facebook dele bomba de seguidores de Artur Nogueira, já que ele vai para
lá todos os dias”, brinca a filha de Zé Lando, Eva Serafim. “Cada lugar
que ele vai, as pessoas tiram foto com ele, postam e o marcam. Ele fica
todo feliz com isso”, completa.
“As professoras o chamam na escola para ele falar com os alunos nas
salas de aula. O facebook dele é o vínculo com ele e, então, as
professoras mandam mensagem para ele ir lá para falar com as crianças,
ler poesia. Ele interage com as crianças, que fazem festinhas, tiram
fotos”, conclui Eva.
“Fiquei conhecido, também, porque trabalhei doze anos na Prefeitura.
Então, ia nas escolas fazer serviços e fiz amizade com todo mundo. Isso
é bom, amizade sempre é muito bom”, completa.
Fé
Zé Lando também cursou Teologia. “Por isso, já tenho uma noção do que e
com quem vou falar”, explica. “É importante a distribuição das mensagens
porque é a palavra de Deus, que precisa ser levada. Quando chego à
pessoa, eu falo: ‘leia, mas, se você não quiser, pode me devolver’. A
pessoa lê e, até hoje, ninguém devolveu (risos); até hoje, foi tudo bem
aceito. Às vezes, vou andando pela rua e falo: ‘uma mensagem para a
senhora, você quer?’. A pessoa fala que quer e eu brinco: ‘você nem sabe
o que é’ (risos)”, comenta.
Saudades
Zé Lando já perdeu a esposa. Hoje, ela teria 73 anos, mas ele nunca
deixou de amá-la. Todo aniversário, ele vai ao túmulo dela para deixar uma
mensagem. Ele até lembra da última que deixou: “Vou fazer da minha
saudade uma ponte bem comprida para chegar na eternidade e rever minha
querida”.
“Quando a minha esposa faleceu, se eu não levasse para o papel o que eu
estava sentindo… Já cheguei a brigar com a morte, falava ‘o que você
vai querer? Você vai levar o que, se já estou morto?’, escrevia tudo”,
relata. Ele começou a entrega das mensagens levando uma todos os dias ao
túmulo dela.
Zé Lando, hoje, é um senhor cheio de alegria e simpatia que pretende
continuar escrevendo e entregando suas mensagens ainda por muito tempo….”