Devemos, enquanto sociedade plural, ajustar o foco e trabalhar para criar um mundo onde todos sejam aceitos e amados por quem realmente são
Nos últimos anos, a chamada “cura gay” tem sido alvo de intensos debates e controvérsias. Este conceito, que promete transformar a orientação sexual de uma pessoa, é amplamente refutado pela comunidade científica e repudiado pelos danos profundos às vidas submetidas às tais práticas criminosas. É mentira: uma farsa assassina.
A orientação sexual é uma característica intrínseca do ser humano, ou seja, não há possibilidade de ser uma doença ou desordem que necessite de cura. Todas as principais organizações de saúde e psicologia, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Americana de Psicologia (APA), afirmam que a homossexualidade é uma variação completamente natural do espectro da sexualidade humana. A tentativa de “curar” uma pessoa homossexual é, portanto, baseada em premissas não científicas e extremamente preconceituosas.
Pesquisas científicas robustas demonstram que as chamadas terapias de conversão são inúteis e não conseguem alterar a orientação sexual de uma pessoa. Em vez disso, essas práticas frequentemente resultam em graves consequências psicológicas, como depressão, ansiedade e até pensamentos e práticas suicidas. Ao tentar forçar uma mudança que não é possível, esses ditos tratamentos reforçam estigmas sociais, que são reflexos de uma sociedade completamente problemática, preconceituosa e, essa, sim, doente.
Em diversos países, a “cura gay” é ilegal. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu em 1999 que psicólogos oferecessem tratamentos para modificar a orientação sexual, reforçando que a prática viola os direitos humanos. Em 2018, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou esta posição, protegendo os direitos da população LGBTQIAPN+ contra tais falsos e abusivos tratamentos, que, infelizmente, seguem acontecendo na ilegalidade.
A criminalização da “cura gay” é uma medida necessária para proteger indivíduos vulneráveis de práticas fraudulentas e perigosas. Ela assegura que profissionais da saúde mental mantenham padrões éticos e baseiem seus tratamentos em evidências científicas, não em preconceitos sociais, visto que os resultados da tentativa de modificar a orientação sexual são devastadores. A pressão para se conformar as expectativas heteronormativas causa sofrimento psicológico profundo. Muitos indivíduos que passam por essas “terapias” relatam sentir-se envergonhados e isolados, pois a constante mensagem de que sua orientação sexual e identidade são erradas ou indignas de aceitação pode levar a uma autoimagem distorcida e ao auto-ódio.
Além dos vários danos psicológicos, há impactos sociais significativos. A discriminação perpetuada por essas práticas contribui para a marginalização da comunidade LGBTQIAPN+, dificultando o acesso a direitos básicos e a aceitação social. O isolamento, a rejeição familiar e dos círculos sociais em torno do indivíduo, muitas vezes associados a essas “terapias”, exacerbam ainda mais todos os riscos de problemas de saúde mental e social, desencadeando um efeito dominó com consequências, muitas vezes, catastróficas e fatais.
A verdadeira cura não está na tentativa inútil de mudar quem alguém é, mas em promover a aceitação e o respeito pelas diversas formas de amar e ser. Políticas públicas inclusivas, educação sobre diversidade e apoio psicológico baseado no acolhimento são alguns pilares fundamentais para o bem-estar da comunidade LGBTQIAPN+.
A “cura gay” é uma falácia perigosa, desprovida de base científica e carregada de preconceito. Em vez de tentar mudar quem as pessoas são, devemos, enquanto sociedade plural, ajustar o foco e trabalhar para criar um mundo onde todos sejam aceitos e amados por quem realmente são.
Para assistir: Boy Erased: Uma Verdade Anulada (Netflix, classificação: 14 anos).
Para assistir: Sobrevivente da “Cura Gay”: Gregory e Grag Queen (Youtube).