De volta ao passado

Há 114 anos, em 12 de abril de 1908, era oficialmente inaugurado o “Mercadão de Campinas”. É quase impossível, para um cosmopolense, não ter este prédio como referência na sua história de vida. Símbolo do progresso regional, marco histórico e direcional, ponto de encontro, local com infindas memórias de gerações.
A data simboliza a incorporação oficial do prédio ao patrimônio público campineiro, doado pela família Nogueira Ferraz. O prédio homenageia Luiz Nogueira Ferraz, enaltecido na entrada principal do Mercadão, pai de José Paulino e Major Arthur Nogueira Ferraz, proprietários da Usina Ester e fundadores de Cosmópolis.
A edificação, construída como armazém central da “Carril Agrícola Funilense”, foi projetada pelo “Escritório de Arquitetura e Engenharia Ramos de Azevedo”, atendendo aos pedidos dos irmãos Nogueira Ferraz e do Barão Geraldo de Rezende, principais acionistas da companhia agrícola de trens.

Simultaneamente em Cosmópolis, o escritório Ramos de Azevedo construía o complexo industrial da Usina Ester, Palacete Irmão Nogueira (Sobrado), e a Igreja Matriz de Santa Gertrudes. As obras cosmopolenses seguiam supervisionadas por Henrique Dumont Villares, sobrinho do inventor Santos Dumont, e cunhado de João Manuel de Almeida Barboza, antigo proprietário da Fazenda Funil.
Os núcleos coloniais da fazenda Usina Ester, marcantes pelo vermelho da terra cosmopolense nos tijolos à vista, são projetos do escritório, assim como as estações férreas da Funilense, embora não possuam oficialmente a assinatura de Ramos de Azevedo, as linhas seguem o padrão da empresa de arquitetura e engenharia.
Com a “falência” da Carril Funilense, e incorporação da companhia à Sorocabana, o Mercadão foi oficialmente doado para a Prefeitura de Campinas, sendo reescrita uma nova história ao prédio e região. As dependências de armazenamento agrícolas da Funilense, destinadas para o escoamento das produções, ressurgiram como espaços comerciais, divididos em lojas e setores.
Neste período, nascia o lendário “Bar e Restaurante do Pachola”, um dos principais pontos de encontros dos cosmopolenses. No atual setor de peixes, ficava localizada a estação e linha Carlos Botelho, parada e saída de trens, com destinos para as “Villas” de Cosmópolis, José Paulino (Paulínia), Barão Geraldo, Arthur Nogueira, seguindo até o último ramal, em Pádua Salles (Conchal).

Senador, Secretário da Agricultura, Comércio, Obras Públicas, Viação, Navegação e Iluminação, capitalista, e conceituado médico, dentre os mais respeitados do mundo, Carlos José de Arruda Botelho era filho do Conde do Pinhal, precursor da Cia Paulista de trens, e familiar dos Nogueira Ferraz. A estação agrícola também funcionou como plataforma de embarque e desembarque dos acionistas da Funilense, como o capitalista Guatemozin Nogueira, que possuía vagões especiais para o transporte exclusivo da família.
Com a desativação da estação Carlos Botelho, mudando as “paradas e baldeações” para a região da atual Avenida Brasil, o espaço era utilizado como ponto de cocheiros, carroceiros e as icônicas jardineiras, em proeminência os veículos da Auto Viação Cosmópolis.

No registro fotográfico de 1908, em destaque um trem da Funilense vindo de Cosmópolis, desembarcando na Estação Carlos Botelho, localizada no atual setor das peixarias.

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @Acervocosmopolense) – Foto Acervo Ester