De volta ao passado

Setembro de 1962 – há exatos 60 anos – Consideradas as eleições que mudaram a história política e democrática do Brasil, os dias que antecediam o pleito de 07 de outubro de 1962, eram acirrados em todo o país, principalmente em Cosmópolis. Eram eleições diretas para governador, senador, deputados estaduais e federais, o último pleito democrático e direto realizado no Estado, antes da decretação do Regime Militar de 1964.
A cidade ficava “desconjuntada” em extremos políticos, com os grupos de “Adhemaristas” e “ Jânistas”, ferrenhos apoiadores dos candidatos Adhemar de Barros (PSP- Partido Social Progressista) e Jânio Quadros (PTN- Partido Trabalhista Nacional), e os renovadores da política paulista, sustentando os ideais de José Bonifácio Coutinho Nogueira (UDN), o conhecido J.B, filho de conceituada família de políticos e capitalistas, um dos proprietários e diretores da Usina Ester, figura marcante na história cosmopolense e paulista.
José Bonifácio é familiar de importantes nomes da política nacional, imperial e republicana, como José Paulino (bisneto), o Mauá paulista, Paulo Nogueira Filho (filho), presidente Campos Salles (bisneto), ao patriarca da independência, José Bonifácio de Andrada e Silva.

A cidade dividia-se eleitoralmente, entre os conservadores da velha república, apoiando Adhemar de Barros, então apelidado pelos adversários de “galo velho”, alusão pelas importantes nomeações militares aos cargos de governador, prefeito e demais cargos administrativos paulistas, sendo homem de confiança do Ditador Getúlio Vargas; os correligionários e propagandistas de Jânio Quadros, sempre caricato e polêmico, com discursos pelo fim da corrupção e bandalheira, “varrendo tudo da política”, e a instituição da nova república através de São Paulo, marcado em 1961, após 265 dias da posse oficial, pela misteriosa renunciou ao cargo de presidente da República; e as visionárias concepções do jovem J.B, apadrinhado pelo professor Carvalho Pinto, então governador de São Paulo, com projetos pela soberania nacional em todos os setores, preservação dos direitos trabalhistas constituídos, seguindo como lema de campanha “menos política, mais técnicos”, exigindo o fim das nomeações sem qualificações acadêmicas e técnicas específicas, aos cargos de secretários, diretores e chefias.

Ao lado de J.B, inúmeros reitores, professores e acadêmicos das principais faculdades paulistas e nacionais, nomes da vanguarda cultural como Inezita Barroso, Luiz Gonzaga (o qual gravou suas músicas de campanha), Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, entre outras célebres figuras, sendo o vice-governador no pleito, o renomado e controverso político Hugo Borghi. Sua campanha estadual, intitulada “Frente Popular”, tinha o apoio nacional do presidente em exercício João Goulart (Jango), e de Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas, figura de destaque na política e chefe nacional do PTB, antigos “amigos políticos” dos seus adversários.
Tempos da “política sem limites”, com mínimos regimentos de controle de propagandas partidárias, com normas legais vigentes somente para os locais de votação, com ínfimo controle dos tribunais eleitorais e autoridades legais, das ações partidárias pelas ruas. Não existiam controles de gastos nas campanhas e delimitações de propagandas, quanto maior as condições financeiras do candidato e seu grupo, mais surreais seriam suas campanhas.

José Bonifácio perdeu as eleições para Adhemar de Barros, o qual foi deposto e exilado do país pelo Regime Militar, em 1966. Segundo historiadores políticos, a escolha de Borghi como vice de J.B, foi um dos principais motivos da derrota nas urnas. Enquanto J.B não possuía acusações dos adversários, realmente ilibado em todos os setores da vida, o velho político Borghi era massacrado politicamente, sobretudo pelo passado controverso com Vargas.

Olhar na foto

Neste registro fotográfico, um dos seus últimos comícios em Cosmópolis, realizado no Coreto da Praça Major Artur Nogueira, popular “Jardins”. No Coreto, discursando para a multidão, reunida nos jardins e plataformas da Estação Sorocabana, o vice Ugo Borghi, rodeado de candidatos e apoiadores políticos. Em destaque, segurando a bandeira, o prefeito Benedito de Moraes Machado, próximo estão os vereadores Saulo Tognoni, João Guilherme da Paz Herrmann (ex-prefeito), Dr. Orlando Kalil Aun, Célio Rodrigues Alves, José Zacharias, entre outros. Ao lado, os disputados “pins” da campanha J.B.

Texto: Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) – Foto: Acervo Público Cosmopolense