Hospital noticia o fechamento, porém, com adiantamento de verba, atividades continuam

No fim da tarde da última quinta-feira (29), um protocolo do Hospital Beneficente Santa Gertrudes informando o encerramento das atividades do Hospital foi apresentado na Câmara Municipal. O presidente Tidinho Lange convocou uma reunião extraordinária com os vereadores.

Paralelamente nesta data, houve uma reunião da administração do hospital com o prefeito da cidade, Dr. Antonio Fernandes Neto.
Momentos após, a notícia passou a ser veiculada nas redes sociais, gerando repúdio e indignação da população. Inclusive, cosmopolenses já estavam agendando passeata na segunda-feira (02), às 5h30 da manhã.

A nota, em forma de Comunicado Urgente, tinha os seguintes dizeres:

“É com grande pesar que, após muitos anos servindo a população de Cosmópolis e também pessoas não residentes em Cosmópolis, somos obrigados a interromper temporariamente nossas atividades do pronto socorro. A exemplo de entidades similares a nossa, não dispomos mais de recursos para o atendimento mínimo satisfatório.

Estaremos funcionando até o dia 02 de novembro de 2015 às 7:00 da manhã. Informamos ainda que pretendemos reabrir o pronto socorro assim que conseguirmos recursos financeiros para tanto”.

No outro dia, já pela manhã da sexta-feira (30), o jornal GAZETA de COSMÓPOLIS procurou pela administração do hospital local e a Diretora Administrativa Maura Cristina Stahl explicou que o encerramento das atividades foi suspenso. Segundo ela, uma verba de valor significativo que vinha sendo repassada pelo governo estadual foi cortada.

Explicou ainda que, após uma reunião com a Prefeitura Municipal de Cosmópolis, a administração do Hospital suspendeu o fechamento da entidade por receber um novo apoio do município.

“Após uma reunião, nós realmente suspendemos o fechamento do hospital e gostaria de deixar bem claro que não é por conta de repasse da Prefeitura e nem de verba federal, o problema é um repasse Estadual que foi suspenso. Continuamos em uma situação difícil financeiramente, não temos verba suficiente ou satisfatória, mas, acredito que, depois dessa conversação, entraremos em um acordo.”

Comentários negativos em Redes Sociais
O comentário generalizado trouxe transtornos em todo sentido, muitas pessoas já pensando em ir a hospitais de outras cidades para serem atendidas.

Vereadores ficaram inconformados em não participar de reunião com Prefeito

Na terça-feira, 03 de novembro, durante a Sessão da Câmara, vereadores questionaram o motivo de não terem sido convidados para participarem da reunião entre a Administração do Hospital e o Prefeito Municipal.
Eles receberam um ofício sobre o comunicado do encerramento da atividade do Pronto Socorro, fizeram uma reunião extraordinária, mas não puderam atuar ou ajudar na resolução deste grave problema.

Gazeta entrevista  novamente a  Administradora Maura Stahl

Gazeta: Vereadores questionaram a prestação de contas do hospital junto ao convênio Estadual e estão levantando isso como um possível motivo para o corte da verba.

Maura: “Sobre esse convênio, eu presto conta dele toda vez que ele é terminado, ou são seis meses ou um ano. A menina [funcionária] que senta de frente aqui, só faz isso, trabalha para isso. Eu não tenho que prestar conta com a Prefeitura ou com vereador, eu preciso prestar contas para o Estado! Prestar conta nada mais é que tirar extrato da conta do hospital, com o valor total que veio e com tudo que nós pagamos junto da nota fiscal, xerox adicionado. Eu presto conta a cada término de contrato”.

Gazeta: Talvez essa tenha sido a dúvida, o que pode ter levantado essa suspeita de “o hospital não prestou contas e cortaram o convênio”. Talvez os vereadores se equivocaram que a prestação de contas é feita no término e não durante o contrato.
Maura: “Tudo é guardado, os diretores assinam e no jornal é publicado o balanço do hospital, mas ninguém vê… Acredito que ninguém nem entende de balanço lá… Nunca ninguém vê o balanço, mas agora questiona.”

Gazeta: E sobre o real motivo?
Maura: “Ninguém sabe o real motivo dessa verba estadual que foi cortada, ninguém sabe o por quê. Essa verba estadual que foi cortada pelo Estado, ninguém sabe o por quê, falaram que era corte de verba, por motivo que ninguém sabe (foram três meses só e depois foi cortado).
Agora, quanto a subvenção que vem da Prefeitura para o Hospital, nós prestamos contas mensalmente para a Prefeitura. São R$ 223 mil. Nós prestamos conta sim, tem auditoria que vistoria esta prestação de contas, nunca ninguém reclamou, nunca ninguém veio nos questionar.

Gazeta: Quantos pacientes passam pelo Pronto Socorro diariamente?
Maura: “Em média, o atendimento do pronto do socorro é de 300 a 400 pessoas por dia.

Gazeta: E o corpo clínico de médicos?
Maura: “No pronto socorro, são dois de dia e dois à noite, são 4 médicos, por 24 horas. Aqui dentro, temos outros médicos 24 horas, tem obstetra, anestesista, pediatra, cirurgião, o clínico que visita os internados e tem as especialidades, ortopedia, oftalmo…”

Gazeta: Como está a situação financeira do hospital atualmente? Ainda corre o risco de fechar?
Maura: “Por enquanto, paramos com essa ‘conversa’. Hoje mesmo [quarta-feira, 04/11], temos uma reunião com o prefeito da cidade de Cosmópolis às 16 horas para ter mais conversa, mais uma tentativa de resolução. E agora, por que recorremos à Prefeitura? Eles estão defendendo assim: ‘A gente repassa a verba certinho’… Eu não falei que não repassavam, para ninguém eu falei isso. Eles repassam sim, mensalmente, porém, é insuficiente. Concorda comigo que R$ 223 mil para tocar um Pronto Socorro inteiro é irrisório? Façam as contas, é muita gente vindo aqui tomar toda a medicação, sutura, acidentes, tudo mais.
Tem uma verba Federal que é para pagar os médicos, os funcionários, a manutenção e toda internação, é um valor que está insuficiente. Tudo sobe, só esse mês foram três aumentos nos medicamentos, porém, a verba, é sempre a mesma.”

Gazeta: Ainda sobre a situação do hospital… Esse mês tudo bem, a Prefeitura fará um adiantamento de um repasse, mas, no mês que vem, isso provavelmente pode virar uma bola de neve, tapando buracos, e uma hora poderá virar um problema de novo. É realmente isso que está acontecendo?
Maura: “Acredito que é mais ou menos isso. A medida correta é aumentar esse repasse, é isso que estamos pleiteando junto à Prefeitura, porém, ela alega também não ter dinheiro. É a manutenção do hospital, não é a parte de funcionários, de médicos, eles estão aguentando firme com a gente, mas, a parte da manutenção do hospital, que é muito cara e essa verba vinha para isso para comprar medicamentos, material e toda a manutenção. Só de manutenção de equipamentos, gastamos, em média, de R$ 12 à 15 mil por mês”.

Gazeta: E sobre os vereadores não poderem participar da reunião?
Maura: “Ninguém chamou eles até porque estavam em outra reunião na Câmara. Ninguém veio aqui, na sexta-feira, quando estava todo aquele alvoroço. A única pessoa que veio aqui tentar entender para passar para a população foi o padre Ricardo Araujo, a única pessoa que veio ao hospital tentar entender as coisas para amenizar e acalmar a população”.

Gazeta: E sobre a possibilidade de uma instituição assumir o hospital. Você tem conhecimento disso?
Maura: “É uma instituição de São Paulo. Vieram aqui há uns dois meses, fizeram um levantamento de tudo que é necessário para se tocar o hospital ideal, mas eles apresentaram um valor de R$ 980 mil para tocar o pronto socorro e R$ 380 mil para tocar a UTI e olha quanto recebemos, respectivamente R$ 223 e R$ 381. Quem vai pagar esse valor para essa instituição que veio aqui? É o prefeito? Quem vai pagar? Foram os vereadores que fizeram esse levantamento. São necessários mais de 1 milhão aqui, e nós recebemos R$ 700 mil, R$ 800 mil ao todo.

Gazeta: E a decisão do encerramento temporário?
Maura: Quanto ao encerramento, isso foi a direção que decidiu em reunião aqui, não fui eu, Maura Sthal que tomei essa decisão… Eu sou apenas administradora, recebo ordens e faço o que eles me pedem.
Estamos com a esperança que se resolva da melhor forma possível, acredito que a ajuda precisa vir da Prefeitura mesmo, porque a população precisa disso, é o único hospital da cidade… Acredito que as autoridades precisam de providências e tentar ajudar.
A situação financeira ainda é precária. Assim estamos, conseguimos levar, mas ainda terão muitas reuniões para esse caso.
Do SUS e do Ministério recebemos R$ 25 mil, é um valor irrisório para um Pronto Socorro que está sempre lotado, sempre tomando medicação. Podem-se ver muitas reclamações dos funcionários, reclamações porque tem muita gente mal atendida, realmente é muita gente… precisamos colocar funcionários para trabalharem lá, funcionários qualificados…
E irão cortar mais verbas ainda, é o País e não só o Hospital Santa Gertrudes.”