Lavar o pé do santo para chover: crendice ou fé?

Antigamente, acreditava-se que se lavasse os pés do santo, Deus enviaria chuva àquela região onde se fazia o pedido

Em tempos de seca, era muito comum ouvir minha avó dizer: “ – Vou lavar o pé do santo pra ver se chove”, sempre rindo e referindo-se aos seus bons tempos vividos na colônia da Usina Esther, quando essa crendice era comum entre os colonos.
Ela contava as histórias da sua infância, das secas e como eram prejudiciais às hortas e plantas e aos poços que baixavam o nível.
Antigamente, acreditava-se que se lavasse os pés do santo, Deus enviaria chuva àquela região onde se fazia o pedido. As famílias se reuniam em procissão e cada família levava um santo da sua casa. A maioria eram mulheres e crianças. Muitas vezes, a procissão saía após a chegada das mulheres que trabalhavam no corte de cana para levar a imagem até o rio. Para lavar o “pé do santo”, as procissões iam até rio Jaguari ou em bicas, sempre onde tinha água corrente.

Juliana Schionato,
Comerciante

No caminho, entre rezas e clamor pela chuva, as crianças se divertiam. Muitas delas também levavam santos, e às vezes no caminho, entre as brincadeiras, acontecia de quebrar alguma imagem.
Por fim, coincidência ou providência, as chuvas chegavam, aumentando a credibilidade da crença.
A tradicional procissão foi perdendo força quando as famílias mudaram-se para a cidade. Nos dias atuais, tornaram-se apenas lembranças que os mais antigos, com muito orgulho, compartilham com os mais jovens esses momentos inesquecíveis, e os jovens surpresos com as histórias tão diferentes da realidade dos dias atuais.
Embora minha avó falava que era certeza de chuva se fizesse a procissão, eu nunca acreditei. Fui tirar uma foto lavando o “pé do santo” para colocar aqui no jornal, e fiquei alguns minutos banhando a imagem logo pela manhã. Não chovia há dias. Ao fim da tarde, chegou a tempestade, e eu, na rua, sequer tinha um guarda-chuva, me molhei toda, mas confusa se foi coincidência ou por ter lavado o “pé do santo”.